A receita de sucesso do Uruguai contra o coronavírus

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Compartilhado de DW Brasil – 

Baixa densidade populacional, sistema de saúde robusto e consenso político estão entre os ingredientes que fazem com que país sul-americano tenha resultados muito melhores na luta contra a pandemia que o Brasil.

Mulher de máscara com a bandeira do Uruguai sobre o ombro anda numa praça
Uruguai registrou pouco mais de 1.500 infecções e 42 mortes desde início da pandemia

A América Latina é, junto com os EUA, epicentro da pandemia. Mas toda regra tem sua exceção. O Uruguai tem um histórico impressionante quando comparado a muitos outros países latino-americanos. De acordo com o Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doenças (ECDC), o pequeno país sul-americano registrou 1.516 infecções e 42 mortes desde o início da epidemia, em 13 de março deste ano. Qual estratégia o Uruguai está buscando para evitar a crise coronavírus vista em seus vizinhos?

Os especialistas consultados pela DW destacam que não existe uma resposta única e que os vários fatores, como é frequente no combate às epidemias, vão além de meras questões de saúde. “No início, o desejo de unidade nacional era crucial. Todos os atores-chave se uniram para enfrentar a pandemia de forma abrangente”, explica Giovanni Escalante, representante da Organização Panamericana de Saúde no Uruguai, em entrevista à DW. Além disso, ele diz que o país sempre teve um bom sistema de vigilância epidemiológica.




“Consenso incomparável”

“Houve um consenso sem precedentes entre os decisores políticos, a ciência e o mundo acadêmico do país”, diz Gonzalo Moratorio, professor da Faculdade de Ciências da Universidade da República, de Montevidéu. Segundo ele, isso facilitou o trabalho dos especialistas no combate à pandemia, aspecto que outros países negligenciaram.

“O país sul-americano já havia feito seu dever de casa antes da pandemia”, diz o especialista Giovanni Escalante. “O Uruguai ganhou uma experiência extremamente valiosa no combate a surtos como o de sarampo, ocorrido em 2019.” Nesse caso, as autoridades responderam com um amplo programa de vacinação e conseguiram controlar a situação.

Pessoas de casaco passeiam de máscara com o mar ao fundo
Disciplina uruguaia: maioria nas ruas de Montevidéu usa máscara

Ambiciosa política de saúde

Mas o acompanhamento epidemiológico é apenas parte de um sistema de saúde robusto, que ambos os especialistas acreditam atuar como uma barreira contra o vírus. “É um dos sistemas de saúde mais resilientes da América Latina e há décadas que se investe de forma sustentável”, afirma Escalante.

consenso político sobre a importância social desse sistema de saúde explica por que ele sobreviveu a todos os altos e baixos políticos. “Existe uma opinião aqui no Uruguai de que o dinheiro para a saúde não é uma despesa, mas um investimento”, explica o representante da Organização Panamericana de Saúde.

Além de uma política de saúde ambiciosa, grandes investimentos também têm sido feitos em educação e política social. O sistema social uruguaio é referência regional em áreas como o atendimento a crianças pequenas, idosos e necessitados. Além disso, o país foi o primeiro da América Latina a permitir o retorno às escolas apesar da pandemia.

Baixa densidade populacional

Detalhe não menos importante, a demografia do país também desempenha um papel importante. Gonzalo Moratorio ressalta que a baixa densidade populacional do país favorece o controle dos surtos epidêmicos. Além disso, a capital Montevidéu – onde vive cerca de metade dos uruguaios – “é uma cidade que conseguiu manter o equilíbrio na distribuição dos espaços verdes e públicos”.

As regras de distanciamento social também moldam a vida cotidiana no Uruguai. A disciplina da população evitou até agora uma quarentena forçada. No entanto, a solidão, a depressão e as doenças mentais aumentaram.

Apesar dos sucessos, a situação pode mudar a qualquer momento. “Enquanto vizinhos como o Brasil não conseguirem controlar a pandemia, a cooperação nas fronteiras continuará sendo outra prioridade”, diz Gonzalo Moratorio. Um dos maiores desafios é melhorar ainda mais as opções de diagnóstico e alerta precoce.

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