A recusa a defender Assange mostra a verdadeira natureza dos media corporativos

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Por Caitlin Johnstone [*], publicado em Jornal GGN – 

Na terça-feira, um advogado de topo do New York Times, David McCraw, advertiu uma sala cheia de juízes que o processo de Julian Assange pelas publicações do WikiLeaks estabeleceria um precedente perigoso que acabaria por prejudicar os principais meios de comunicação, como o NYT, o Washington Post e outros media que publicam documentos secretos do governo.

“Acho que a ação contra ele seria um precedente muito, muito mau para as editoras”, disse McCraw. “Neste caso, segundo sei, ele vê-se na posição de uma editor clássico e acho que a lei teria muita dificuldade em distinguir entre o New York Times e o WikiLeaks.”




Sabem onde li isto? Não no New York Times.
“Curiosamente, no momento em que escrevo, as palavras de McCraw não encontraram nenhum eco no próprio Times”, escreveu o ativista Ray McGovern, em entrevista ao media alternativo Consortium News. “Nos últimos anos, o jornal mostrou uma tendência marcante para evitar imprimir qualquer coisa que pudesse pôr em risco o seu lugar de favorito no colo do governo”.

Então vamos examinar um pouco tudo isto. É agora do conhecimento público que o governo equatoriano procura ativamente entregar Assange para ser preso pelo governo britânico. Isto foi relatado primeiro por RT e depois confirmado de maneira independente por The Intercept , agora é conhecido do público em geral e relatado pelos media convencionais como a CNN . É também do conhecimento público que o asilo de Assange foi concedido pelo governo equatoriano devido ao medo de uma extradição para os EUA e de acusações pelas publicações do WikiLeaks . Todos, do presidente Donald Trump ao ministro da Justiça Jeff Sessions , passando pelo secretário de Estado Mike Pompeo , Adam Schiff , membro do Comissão de serviços de Informação Câmara de Representantes, até aos membros democratas do Senado , fizeram declarações públicas afirmando claramente que o governo dos EUA quer tirar Assange do seu asilo político e prendê-lo.

O New York Times está consciente disto, como testemunham os comentários de McCraw, está também consciente do perigoso precedente que tal processo criaria para todos os meios de comunicação. A redação do New York Times está ciente de que o governo dos EUA, ao processar um editor por publicar documentos importantes que haviam sido ocultados do público, tornaria impossível para o Times publicar o mesmo tipo de material sem temer as mesmas repercussões legais. Está ciente de que as manobras contra Assange representam uma ameaça existencial muito real para a possibilidade de jornalismo real e prestação de contas do poder.

Poderíamos esperar uma avalanche de análises e artigos de opinião do New York Times condenando veementemente qualquer ação contra Julian Assange. Seria de esperar que em todos os media dos Estados Unidos soasse o alarme; tanto mais que a ameaça vem da administração Trump, sobre a qual os media como o New York Times fazem de boa vontade circular alertas alarmantes.

Seria de esperar que todos os comentadores da CNN e da NBC pudessem referir-se a Assange como o caso mais claro e mais óbvio da famosa “guerra contra a imprensa livre” de Trump. Mesmo deixando de lado as questões de moralidade, compaixão e direitos humanos em torno do caso Assange, poder-se-ia pensar que eles o defenderiam bem alto e com força, só pela simples razão do interesse próprio.

E no entanto, não é o caso. Este facto faz com que revelem a sua verdadeira natureza.

Teoricamente, o jornalismo tem como objetivo ajudar a informar a população e responsabilizar as autoridades. Por isso é a única profissão explicitamente nomeada na Constituição dos EUA, e é por isso que a liberdade de imprensa beneficiou de tais proteções constitucionais ao longo da história dos Estados Unidos. A imprensa [corporativa] de hoje não protege Julian Assange porque não tem intenção de criar uma população informada ou de responsabilizar os poderes públicos.

Não se trata de sugerir a existência de uma grande conspiração secreta entre os jornalistas americanos. É o simples facto de os plutocratas possuírem a maior parte dos meios de comunicação e contratarem as pessoas que os dirigem, o que naturalmente cria um ambiente onde a melhor maneira de avançar na carreira é permanecer perpetuamente inofensivo para o establishment sobre o qual os plutocratas construíram os respectivos impérios. É por isso que se veem jornalistas ambiciosos no Twitter a esforçarem-se por serem os primeiros a usar uma frase concisa favorável ao programa da elite cada vez que a actualidade lhes dá essa oportunidade. Eles estão cientes de que sua presença nos media sociais é avaliada por potenciais empregadores e seus aliados a fim de medir o seu nível de lealdade. É também essa a razão pela qual tantos que pretendem tornar-se jornalistas atacam Assange e WikiLeaks sempre que possível.

“Qualquer um que deseje entrar na elite cultural deve agora ter cuidado nos seus media sociais para evitar controvérsias”, declarou recentemente o jornalista Michael Tracey. “Eles acabam por interiorizar que evitar a controvérsia é uma virtude e não uma imposição da sociedade. O resultado é uma cultura de elite conformista e entediante”.

Um excelente meio de um candidato a jornalista evitar controvérsias é nunca, nunca defender Assange ou o WikiLeaks nos media sociais ou de algum modo sugerir que nunca publicará documentos das mesmas origens como os do WikiLeaks. Uma excelente maneira de dar provas na profissão é juntar-se a todos aqueles que escrevem numerosos artigos de difamação sobre Assange e WikiLeaks.

Os media de grande público e aqueles que se expandem não pretendem sacudir a árvore e perder os privilégios e acesso que adquiriram arduamente. Os media conservadores continuarão a defender o presidente dos EUA e os media liberais a defender a CIA e o FBI. Ambos ajudarão a promover a guerra, o ecocídio, o expansionismo militar, a vigilância e a militarização da polícia, e nenhum divulgará nada que possa minar as estruturas de poder que aprenderam a servir. Eles permanecerão em todas as circunstâncias os defensores inofensivos e indiscutíveis dos ricos e poderosos.

Enquanto isso, os media alternativos defendem ferozmente Assange [nem todos, nem todos, NT) [NR] . Hoje, vi artigos do Consortium News , World Socialist Website , Disobedient Media , Antiwar e Common Dreams a denunciarem a perseguição ao mais importante activista da transparência governamental actualmente vivo. Media alternativa e escritores independentes não estão sujeitos a servidões ao establishment, assim a importância do WikiLeaks é clara como a água pura da nascente. Nunca se é tão cego aos comportamentos perniciosos do poder como quando é o poder que assina o cheque do seu salário.

Os mass media nos EUA e no mundo inteiro desacreditaram-se totalmente ao não defenderem uma editora que tem o poder de fazer o governo prestar contas e lançar luz sobre a verdade, para criar um público informado. Cada dia que passa em que eles não condenam inequivocamente as tentativas de processar Assange é mais uma prova, entre muitas, de que os media corporativos estão ao serviço do poder e não da verdade. O seu silêncio é uma admissão tácita de que não são nada mais que estenógrafos e propagandistas das forças mais poderosas da Terra.

01/Janeiro/2019

[NR] Resistir.info procurou no sítio web do Sindicato dos Jornalistas alguma manifestação em defesa de Julian Assange, ou pelo menos uma menção à sanha persecutória do império contra o fundador da WikiLeaks.   No entanto, nada encontrou.   Aparentemente as ameaças que pesam sobre Assange e a liberdade de imprensa não preocupam este sindicato.

[*] Jornalista.

O original encontra-se em medium.com/…   e a versão em francês em www.legrandsoir.info/

Este artigo encontra-se em http://resistir.info/ .
15/Jan/19

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