Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, no Facebook
Quatro anos depois, está mais claro ainda o estrago que aquele 7 a 1 causou ao torcedor brasileiro. A humilhação do Mineirão está sendo superada aos pouquinhos pela até agora boa campanha da seleção na Rússia. Mas o que faria enterrar para sempre o 7 a 1? Só o hexa? Racionalmente, o boteco considerará um fracasso, nas atuais circunstâncias, se o Brasil não passar para as semis.
Estar entre os 4 melhores times é o mínimo que se pode esperar depois do vexame em casa. Se cair fora amanhã, o viralatismo futebolístico encorpa. Se perder depois, é do jogo. Ocorre que no futebol o brasileiro só “aceita” ser campeão. É da nossa tradição, tanto que se cunhou a frase “o vice é o primeiro dos últimos”.
Com raras exceções, torcedores de times grandes do Brasil só se dão por felizes com volta olímpica. Os europeus têm, é verdade, uma fidelidade maior às equipes, tendem a ser solidários até nas derrotas. As cenas de crianças chorando desesperadas por não compreenderem o 7 a 1 devastador atingiu sim a paixão brasileira pelo futebol. Feriu mas não matou.
E esse luto escondido driblou os palpites furados que brotaram em penca e foram desmentidos um a um por sua excelência, a realidade. O “ninguém quer saber de Copa” é logo superado pela fala das ruas. “Essa seleção de mercenários não empolga”. E lá vem rojão, gritos de multidões e as malditas vuvuzelas’. “O povo brasileiro tem rejeição à camisa da seleção por causa dos paneleiros”.
Sábia, a população enche de amarelo o mundo real e transforma em autistas políticos os que tomam minúsculas bolhas de rede social como a imensa maioria da sociedade. O futebol, e mais especificamente a seleção brasileira, é sim um traço cultural do país. Nossos avós e pais falavam aos mais novos sobre o respeito que o estrangeiro tinha por uma geração fabulosa de jogadores.
Do pouco orgulho que temos no que se pode tentar chamar de alma nacional há um lugar para o jogo da bola. Goste-se ou não, o brasileiro não aceita outra coisa que não seja a faixa de campeão. Por isso, aquela maldita goleada contra a Alemanha só será arquivada na prateleira da memória distante se chegar o hexa.
Não há como ser racional quando se fala de paixão.