A ressaca do golpe

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Carlos Eduardo Alves pelo Facebook – 

Sim, é textão. A vida não é fácil e dá trabalho. Quem acompanha Política, aquela coisa mala de se ler mas que, você percebendo ou não, determina muita coisa no seu cotidiano e nos seus sonhos, sabe que nada é muito simples e quase tudo representa riscos.
Política também, para quem não pensa com o fígado, exige que se enxergue o lance seguinte sem abrir mão da torcida presente. São ésferas acacianamente distintas, mas o tempo bicudo impõe o didatismo. Na prática é o seguinte, por exemplo: não há como quem luta contra o golpe não vislumbrar que é cada vez mais forte a chance de termos Michel Temer como presidente da República.




O desembarque das ligeiras tropas do PMDB do governo e a monumental orquestração que varreu as garantias individuais do Estado de Direito vão fazer o serviço. É constatação, não desejo.
E como será o dia seguinte ao golpe? Já é público que existe uma operação de setores do PSDB, Serra e Gilmar Mendes à frente, para não só tutelar a evidente anemia de legitimidade de Temer, o missivista choroso zero de voto de carisma. Já há um clima de “cheguei primeiro” para tomar conta do boteco Brasil.

Aécio será muito provavelmente atropelado, já que bandidos acusados na Lava Jato insistem em citar o senador como beneficiário de falcatruas. Mesmo para o padrão seletivo de Moro, promotores, PF e mídia hegemônica, não dá mais para ignorar que é preciso ao menos simular alguma investigação sobre o mau perdedor de 2014.

Serra e Armínio na economia, mesmo que não oficialmente, tocando o “Ponte Para o Futuro”, o programa ultra liberal que, em nome do corte dos gastos públicos, imporá um brutal arrocho em trabalhadores e nos que já estão desempregados. Estarão lá com a turma proba do velho PMDB, Cunha, Padilha, Geddel e agregados como paulinhodaforça, bolsonaro, feliciano e roberto freire para restaurar a moralidade.

Sim, com o tapetão aplicado em Dilma haverá no curto prazo alguma disposição do empresariado para investir o muito represado agora. Vôo de galinha. Durante uns 6 meses, será possível sim fingir que o pais se reencontrou com a maioria que hoje, por várias razões, quer o fim do ciclo PT. Mas depois o caldo entorna, e talvez definitivamente.

Pela direita, o ódio de classe insuflado principalmente pelos veículos das organizações Globo criou um monstro que dará trabalho pra ser contido. Colocar de volta no tubo a baba da extrema direita será quase impossível. Os fascistas saíram do caricato da padaria e exibem, orgulhosos, sua ignorância na Paulista, nos restaurantes, nos parques.

Se acham mesmo no direito de vetar alguma cor de sua roupa. Evidente que não se contentarão apenas com o golpe. Conquistas e aspirações de pobres, negros, gays e cerceamento de liberdades na Educação (a Universidade vai sofrer) e em direitos individuais entrarão na pauta desses medievais. É a interpretação mesquinha, embora talvez fidelíssima, da tal meritocracia que encanta a inculta elite brasileira.

Não se pense que essa milícia obscurantista será descartável por quem se diz civilizado e marchou com eles dia 13. Darão trabalho e não se sabe a reação quando, depois de um tempo, atestarem que os problemas do Brasil não foram solucionados sem o PT. Se sentem legitimados pelo consórcio das trevas que aplaudiu até o avanço sem escrúpulos do Estado Policial que horroriza quem conhece História.

Pela esquerda, sexta-feira foi um dia sintomático e novo. Houve um início de mudança que não foi muito observada por analistas da direita. Alguns que sempre votaram no PT se desencantaram com os erros colossais do governo e ficaram em casa enquanto enchia a Paulista. Sim, apesar da vergonhosa tentativa de esvaziar a relevância dos atos pelo Brasil, muita gente foi à rua. Curiosamente, a avenida abrigava muitos que já desistiram do PT e viram na sanha de Moro e MP o perigo que o Estado de Direito e suas garantias individuais indispensáveis sofrem agora, É a turma que resiste em legítima defesa. E, na maioria, movimentos sociais e jovens.

Não haverá unanimidade no golpe. Haverá luta. Muita luta. Temer não terá sossego e nem legitimidade, mesmo que mãos de gato de tucanos tentem operar e o JN diariamente sonorize o armário do PT. A direita empresarial, os principais veículos de comunicação e os que não conseguem ganhar eleição fazem talvez a aposta na paz do cemitério. Muitíssimo provavelmente não será o caso.

Não haverá passeio. sexta-feira mostrou. A esquerda que será reaglutinada à força diante do ataque aos direitos dos pobres não é Collor. Estão pagando para ver. Se na conta dos estrategistas do golpe existir o cenário do confronto, é uma opção. Se apostam que a Política e as ruas vão voltar ao enfadonho, erram

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