Por Ulisses Capozzoli, jornalista, Facebook
Com uma situação político-econômica difícil, tendendo a piorar pela absoluta miséria da filosofia, nestes tempos duros dispensável como um sapato furado entre nós, o melhor é levantar os olhos para o céu. Um cometa, que pode ser interessante, o 46P/Wirtanen, se aproxima para atingir a maior proximidade da Terra, de 10,2 milhões de quilômetros, na noite do próximo dia 16.
Não é uma fuga dos problemas cotidianos perder-se no céu. Ao contrário, é a busca de uma beleza e harmonia de que estamos nos distanciando e devemos recuperar, como determinação de reverter o caos que se amplia. Umas poucas referências indispensáveis para exemplificar nossa miséria: um trabalho do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) Síntese de Indicadores Sociais, divulgado ontem (5/12) mostra o ponto a que chegamos.
O aumento do desemprego e o subemprego, a “informalidade” fez com que o exército de gente pobre no Brasil aumentasse de 2 milhões de pessoas apenas em 2017, somando 54,8 milhões de pessoas (26,5% da população). Em 2016 eles eram menos gente: 25,7% da população de 208 milhões de pessoas.
Pode parecer ruim. Mas é ainda pior, porque esses são os pobres, em situação menos dramática. Os miseráveis, situados abaixo da linha da pobreza estão ainda piores. Por critérios do Banco Mundial, pobre são os que sobrevivem com o equivalente a R$ 406,00 por mês. Mas os miseráveis, identificados como os que estão abaixo da linha da pobreza, tentam se manter com escassos US$ 1,90 ao dia, o que dá algo como R$ 104,00 ao mês!
Esse contingente de miseráveis foi ampliado de 1,7 milhão de pessoas, ao longo de 2017, e, de 6,6% da população, passaram a 7,4%. Assim, pobres e miseráveis hoje são uma multidão completamente marginalizada de 64,7 milhões de pessoas no Brasil (34,4% da população). Um retrocesso brutal que compromete o presente, o futuro e violenta mesmo o passado da história nacional.
O que vem em janeiro é um corte impiedoso no bem-estar social e não é preciso ser muito esperto para compreender que, com isso, a situação muito difícil tende ao dramático. Tudo camuflado por um discurso de pretensa responsabilidade, quando na realidade é errático, impiedoso, criminoso, e, por tudo isso, atentatório à dignidade humana.
Mas levantemos os olhos para o céu para recuperar algum sentido da vida, da coerência e da coragem de reagir. Até porque o aumento da miséria é acompanhado de violência entre outros efeitos negativos ao conjunto da sociedade nacional. O cometa 46P/Wirtanen deverá ser observável a olho nu (aproximando-se do Sol à velocidade de 37,2 km por segundo), mas se revelará melhor com binóculos e telescópios, mesmo os de pequeno porte, entre a constelação do Touro e um pequeno conjunto de estrelas que é parte dela, as Plêiades, também conhecida como as Sete Irmãs.
Como localizar o cometa? Por volta das 23h00 (horário de verão) o Touro, com sua avermelhada estrela vermelha (Aldebarã, o Olho do Touro) estará sobre a cabeça de um observador voltado para o Norte. Como encontrar o Norte? Nesse momento o Cruzeiro do Sul, no Sul, estará sob a linha do horizonte. Mas qualquer celular tem uma bússola capaz de indicar o Norte.
Entre a constelação do Touro e o asterismo (pequeno conjunto de estrelas no interior de uma constelação) das Plêiades estará o cometa 46P/Wirtanen. O Touro, no entanto, nasce no horizonte Leste logo ao anoitecer e isso significa que observadores poderão observar o cometa mais cedo, com a melhora da observação à medida em que ele se eleva no céu.
A Lua Crescente, sem ofuscar muito o céu com seu brilho, facilita a observação do cometa, na sua melhor aparição ao longo dos últimos 400 anos. O que pode atrapalhar é a cobertura de nuvens, ou a chuva, comuns no final do verão, deslocando-se para a primavera que começa menos de uma semana depois da máxima aproximação do cometa.
O 46P/Wirtanen foi descoberto em 17 de janeiro de 1948 pelo astrônomo americano Carl Alvar Wirtanen (1910-1990) na mesma constelação do Touro. O período orbital do 46P/Wirtanen, o que define sua maior aproximação e maior afastamento do Sol, está estimado em 1.986 dias, o que faz dele um cometa periódico (daí o “P” do seu nome) de período curto, com 1,2 km de diâmetro, confinado entre o Sol e Júpiter.
Na verdade, em 1984, ele esteve mais próximo de Júpiter, o maior planeta do Sistema Solar, e isso afetou, por efeito gravitacional, seu período orbital. O cometa Halley, por exemplo, tem período orbital de 75 anos. Já o Hyakutake, que visitou os céus da Terra em 1996, tem período ainda mais longo: de 113.782 anos.