A Síndrome de Estocolmo de São Paulo com o PSDB

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Por Mauro Moraes, Carta Capital – 

É assustadora a complacência dos paulistas diante das falhas e da gestão medíocre do governo Geraldo Alckmin. Tome-se o caso do metrô ou a educação

Geraldo Alckmin
Dada a maciça votação recebida por Alckmin, não resta senão concluir que há uma síndrome coletiva

Em 1973, dois ladrões armados fizeram quatro reféns durante assalto a um banco na capital da Suécia. No segundo dia de forte cerco policial começou o inesperado – as vítimas criaram empatia e passaram a defender os seus algozes.




A história causou tamanho estranhamento que virou caso de estudo. Foi descrita como um sintoma psiquiátrico que ganhou o nome de Síndrome de Estocolmo.

Em São Paulo, após 21 anos de PSDB, decartéis do metrô, educação em frangalhos,sigilo de documentos e seca nas torneiras, estaria a população do estado passando por crise semelhante?

É assustadora a complacência dos paulistas diante das falhas e da gestão medíocre do governo do PSDB. Tome-se o caso do metrô. A corrupção seria gigantesca e as investigações do cartel chegam aos gabinetes de grãos-tucanos.

O processo está parado há um ano. Há dias, soube-se que a linha 5 vai custar R$ 1,1 bilhão a mais (25%). Mas nem as denuncias mais sórdidas parecem animar o batuque das panelas de classe média, tampouco os comentários de taxistas.

Enquanto se espremem em trens superfaturados, num sistema que se expande a 2 km por ano, paulistanos criticam as “creches de Haddad” (como a imprensa gosta de chamar), mas nada se ouve sobre o “metrô do Alckmin”. É de se admirar o grau de anestesia coletiva.

No rico interior do estado, a condescendência é similar. Muitos paulistas interioranos não se importam com o metrô nem se empolga com os anúncios nunca cumpridos de trens de passageiros nas cidades interioranas.

Para muitos paulistas do interior, governo bom é governo que faz estradas. E as rodovias de São Paulo, privatizadas pelo PSDB, são de fato de primeiro mundo, assim como o preço abusivo dos pedágios. Nem o aumento sazonal das tarifas parece empolgar a crítica. Agora, que se ouse reajustar o preço da gasolina para se ver o tamanho da virulência.

Toda uma geração de paulistas com menos de 30 anos não se lembra de governo que não tenha sido tucano. E toda essa turma vê, desde que se entende por gente, a publicidade do governo do estado dizendo que o rio Tietê está sendo despoluído. Ainda assim, é mais fácil paulista criticar a demora na despoluição da baia de Guanabara (“como assim não ficará pronta para as Olimpíadas?”) do que falar sobre a lerdeza dos obras no Tietê.

Paulista vive com medo da insegurança, embora viva no estado com a capital que registra os menores níveis de violência do País (se os dados oficiais do governo tucano não tiverem sido adulterados, vale ressaltar). Apesar de tamanho medo, é mais fácil ver um prefeito ouvir a cobrança dos eleitores paulistas do que o governador.

Há 21 anos, São Paulo é governado pela tucanocracia. Ninguém sabe o que se passa na Assembléia Legislativa do Estado. Quantas vezes o leitor viu uma matéria nos jornais sobre o trabalho dos deputados estaduais na Assembleia? Quantas CPIs contra o governo tucano existiram? Agora compare com a cobertura da imprensa da Câmara Federal e com a Câmara dos Vereadores e tire suas conclusões.

E o que dizer da decisão “bolivariana” (usando o termo só para fazer troça com os míopes da política) do governador Alckmin de decretar décadas de sigilo para documentos da Sabesp (a companhia de água que faz a gestão da seca), para os do Metrô, da PM e, espante-se,  cem anos de segredo para a administração penitenciária? O que tem o PSDB a esconder?

Para os psiquiatras, a Síndrome de Estocolmo é um sintoma em que algoz e vítima acabam mantendo uma relação emocional que supera os abusos ou intimidações. Dada a maciça votação recebida por Alckmin e a benevolência da sociedade paulista com o governo tucano, não me resta senão concluir que São Paulo vive uma síndrome coletiva.

Mas sempre há esperança. E parece que desta vez vem das escolas. Ainda é cedo para dizer se as ocupações contra o fechamento de colégios estaduais farão Alckmin desistir da “reorganização escolar”. Mas os estudantes secundaristas já estão fazendo história ao impor um constrangimento simbólico à tucanocracia.

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