Por Christiana Nòvoa, poeta
Acho interessante observar o verdadeiro contorcionismo verbal que o jornalismo da globo faz para não dizer simplesmente que A SUSPEIÇÃO DE MORO FOI CONFIRMADA PELO STF.
“STF forma maioria para manter decisão que declarou Moro parcial”
A palavra SUSPEIÇÃO é evitada a todo custo, e a palavra PARCIAL é utilizada de forma dúbia, para confundir e amenizar seu significado.
No corpo da matéria, o texto diz que o juiz AGIU PARCIALMENTE, o que pode levar um leitor incauto a crer que ele “atuou de maneira incompleta”, o que seria um delito menor.
O correto seria dizer que AGIU COM PARCIALIDADE, ou seja, com INJUSTIÇA, o que constitui uma falta ética bastante grave, em se tratando de um juiz, sobretudo num caso com tamanha importância política e histórica.
A matéria também menciona em destaque, com letras vermelhas, o nome completo do Lula, mas não faz o mesmo com Sergio Moro, que afinal é o réu neste caso.
São fornecidos links para que o leitor possa relembrar os supostos crimes do ex-presidente, bem como os possíveis caminhos para que os casos sejam julgados novamente.
Nenhum link com lembranças das consequências políticas da agora confirmada injustiça, como por exemplo a inelegibilidade de Lula, que permitiu a vitória eleitoral de Bolsonaro.
Nenhuma palavra sobre os possíveis desdobramentos jurídicos da suspeição, como alguma reparação a Lula pela prisão injusta por quase 2 anos.
Nem muito menos uma projeção das punições cabíveis para o mal-feito do ex-juiz, o que seria muito mais lógico, do ponto-de-vista jornalístico, do que ficar especulando sobre os caminhos para uma suposta futura condenação da VÍTIMA do processo em questão.
Os votos dos 2 juízes que votaram a favor de Moro têm espaço maior, e são incluídos seus “melhores” argumentos.
Os votos contra Moro – que foram MAIORIA, portanto venceram – são resumidos em frases como “acompanhou a divergência(?)”, seguidas de alguma passagem vazia e burocrática entre aspas, sem que nenhum argumento razoável seja exposto, como se não houvesse.
Enfim, uma verdadeira aula de mau jornalismo.
Estou surpresa? Nem um pouco, mas me irrita.