Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, para o Bemblogado –
Podre mas ainda resistente. É o governo Temer. A gangue que se apossou do governo balança e transforma o País em refém. Flagrado na delinquência, ainda tem um fiapo de força para fabricar 14 milhões de desempregados, a face mais cruel do golpe parlamentar. O triste recorde de brasileiros fora do mercado de trabalho, segundo os números oficiais divulgados nesta quarta-feira, é o retrato acabado do caos. Mas como sair disso?
É claro que o governo Temer, entrincheirado no Planalto com a cleptocracia, está por pouco. Se uma delação do amigo Loures vier, fim de jogo. Divisões na elite que patrocinou o ilegítimo também conspiram contra Temer.
Mas o fato é que até agora Temer e bando não caíram. Para se manter, acena com um doce para o mercado: as tais reformas ceifadoras de direitos sociais, principalmente a da Previdência. Para os mentores do golpe, é só disso que se trata.
Enquanto o governo tiver uma chance de conseguir aprovar suas reformas, terá um fiapo de chance de sobreviver. Temer é o Poder em forma de papel higiênico: depois de usado, é descartado.
Pode ser derrubado na visão da classe dominante, mas só se o que vier depois tenha maior possibilidade de aprovar as reformas. Se o quadro é confuso no campo da direita, porém, também existem armadilhas no outro lado.
Todas as pesquisas de opinião insuspeitas de simpatia pela tese revelam uma quase unanimidade da população na defesa de eleições direitas para superar a fase Temer.
Manifestações de rua começam a ser mais volumosas, abarcando o engajamento importante de artistas até então ausentes do debate político atual.
Mas, embora negado diante dos microfones, uma parcela lamentável de parlamentares que se dizem de esquerda ensaia uma adesão à eleição indireta, se possível em torno do nome do presidente da Câmara, Rodrigo Maia.
Não seria inédito. Muitos do campo progressista fingem que não se lembram com quais votos Maia se tornou presidente da Câmara. Para quem se esqueceu, vai a lembrança: embora o PT como partido não tenha apoiado Maia, no escurinho uma parcela não irrelevante de parlamentares da legenda cravou Maia. É fato matemático, escondido, por vergonha ou esperteza de uns e outros, mas é fato.
O argumento que doura a pílula dos que aceitam indireta até a eleição em 2018 seria a construção de um acordão que incluiria a possibilidade de Lula concorrer a Presidência e uma reforma previdenciária mais “aguada”.
Sem entrar ainda no mérito político da questão, é liminar que o outro lado não teria como entregar a “mercadoria”. Lula só será candidato se houver um imenso movimento de rua para impedir sua prisão ou inelegibilidade.
A direita que acena com uma negociação não tem condições de deter o aparato do Judiciário conservador que fincou togas em Curitiba e Porto Alegre. Moro e a direita truculenta que o acolhe jamais deixarão, no mínimo, que o nome de Lula conste na disputa.
E reforma minimizada está no horizonte do mercado que ainda sustenta Temer justamente na esperança de conseguir a retirada de direitos sociais. Maia, aliás, foi claro na terça-feira, em discurso a investidores em São Paulo, que seu objetivo, por enquanto na direção da Câmara, é aprovar mudanças trabalhistas e previdenciárias
.No campo político, seria lamentável que um acordão traísse a vontade popular de eleger de forma direta seu Presidente da República. Repetiria o erro de achar que é possível conciliar com setores que, ao fim e ao cabo, são antagônicos aos trabalhadores.
A trajetória recente dos governos populares, embora muitos atribuam a ela os inegáveis avanços sociais, já deveria ter ensinado que a direita jamais aceitará de novo, sem recorrer a manobras, que um nome do campo progressista volte a subir a rampa do Planalto. Aplica-se aí o “não pode ser candidato. Se for, não pode ganhar. Se ganhar, não pode levar. Se levar, não pode terminar mais o mandato”.
É difícil conseguir transformar a vontade majoritária do povo e chegar até as diretas? Sem dúvida, é. Mas a tarefa de partidos que se reivindicam de esquerda é dar direção política ao sentimento da população, não renunciar à luta.
Nada, no Brasil especialmente, foi fácil para o campo progressista. Admitir agora, mesmo que dissimuladamente, que a luta por diretas não é prioritária, é um erro político. Mais do que isso, burrice. Ainda acima, é trair os interesses da classe trabalhadora. Às ruas!