A PERGUNTA ÓBVIA que gira pelas conversas nas rodas da esquerda brasileira é esta: porque o PT insiste na candidatura de Lula?




Condenado e preso, mesmo que saia da cadeia, o ex-presidente ainda pode ser impugnado pela lei da Ficha Limpa e impedido de concorrer. Parece até evidente que será. É claro que todos os cenários ainda são possíveis: Lula poderia ser solto, poderia concorrer sob liminar, poderia até vencer e tomar posse. Mas convenhamos, isso já é mais desejo do que realidade. Se, como defendem os lulistas, Lula é um perseguido político-judicial, por que acreditar que ele terá uma série de vitórias improváveis daqui pra frente, contra tudo e contra todos, justamente nos tribunais que o odeiam?

Internamente, o PT admite uma eleição sem Lula – e já cogita nomes. O problema é que o episódio da tentativa de soltura do ex-presidente, que não foi cumprida neste domingo, confirma uma tese cada vez mais forte: assim que Lula indicar alguém, a máquina judiciária tentará se mover mais rápido do que o calendário eleitoral para cassar também a nova candidatura, deixando, assim, o partido sem candidato. E não há dúvidas de que essa máquina pode operar rápido, muito rápido.

Na tarde deste domingo, o desembargador do TRF4 Rogério Favreto – que havia determinado a soltura do ex-presidente – viu sua caneta ser esmagada em poucas horas, primeiro pelo juiz Sérgio Moro, que, mesmo em férias, se apressou em dizer que não cumpriria a ordem do tribunal superior; depois, pelo relator da Lava Jato em Porto Alegre, João Pedro Gebran Neto, que jogou a pá de cal.

O PT é um partido político extremamente eficaz quando se trata de fazer a realpolitik. Então vamos a ela: o pedido de habeas assinado pelos deputados Wadih Damous, Paulo Pimenta e Paulo Teixeira entrou no sistema do tribunal na sexta-feira às 19h32. Caso tivesse sido feito meia hora antes, cairia diretamente nas mãos de Gebran. Teria chance zero de êxito. Graças a esses 32 minutos, foi parar no sistema do plantão, justamente com Favreto. E era evidente que a ficha de Favreto seria levantada 10 minutos depois que a notícia do habeas positivo saísse.

Ex-filiado ao PT, ele trabalhou na Casa Civil do governo Lula e é reconhecido como sendo a única voz potente no TRF4 contra o carro armado da Lava Jato: Favreto votou a favor da abertura de um processo administrativo disciplinar contra Moro, por exemplo. E foi vencido por esmagadores 13 votos contra o seu – todos os seus colegas consideraram “incensurável” o fato de Moro ter vazados áudios de uma conversa entre Lula e Dilma (depois Moro pediu desculpinhas).

Era óbvio que o nome de Favreto causaria reações, e que sua decisão seria classificada como política. É do jogo da realpolitik que o PT tão bem joga. E que sabia que a máquina de lama anti-petista se moveria nas redes sociais: que os robôs seriam ativados, que a Justiça em Curitiba ficaria em polvorosa, que a Polícia Federal da cidade – totalmente alinhada ao Ministério Público e ao juiz da Lava Jato – não cumpriria a ordem. O nascimento e a morte de uma esperança de soltura confirmaram o que se sabia, que essa engrenagem está afiada e não descansa nem mesmo nas férias.

Até agora, os nomes mais cotados em uma eventual substituição a Lula na corrida presidencial são o ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador da Bahia, Jaques Wagner. Ambos já foram fisgados por anzóis da Lava Jato. Ainda que pequenos, os ganchos estão agarrados em suas bocas. Wagner foi citado por delatores da Odebrecht mas, até o momento, o Ministério Público não pediu abertura de inquérito contra ele. Haddad foi indiciado por caixa 2 por supostamente não ter declarado à Justiça Eleitoral despesas da campanha que teriam sido pagas pela empreiteira UTC.

São casos menores e colaterais, que talvez não dêem em nada. A não ser que Lula aponte um deles como seu sucessor. Aí, sim, há poucas dúvidas de que não sejam atingidos por arpões mais rápidos do que os votos de outubro.