Por Rodrigo Vianna,publicado no Portal Vermelho –
Recebi, pelo Facebook, uma das melhores aberturas de matéria que já li nos últimos 30 anos. É sobre a tragédia do último fim-de-semana no Rio: Ivinho, filho de Ivo Pitanguy, dirigia aparentemente sob efeito de álcool, quando atropelou José, um operário que ia para o trabalho. José está morto.”
Quando comecei a trabalhar na Folha de S. Paulo (foi meu primeiro emprego, há exatos 25 anos), manifestei os primeiros sinais de desânimo com a profissão que abraçara. Foi então que recebi de uma amiga – historiadora – um pequeno cartão, com a frase de Tzvetan Todorov:
“a boa informação é o melhor meio de estabelecer o poder (…) Aqueles que não se preocupam em saber, assim como os que se abstêm de informar são culpados diante de sua sociedade; ou para dizê-lo em termos positivos, a função de informar é uma função social essencial”.
Ao pé do cartão, com a data de abril de 1990, minha amiga Paula Porta escreveu: “por isso, meu amigo, ânimo!”
Aos trancos e barrancos, segui a recomendação. Procuro manter o ânimo: às vezes por convicção, outras tantas por pura necessidade. O jornalismo é meu ofício, e preciso trabalhar.
O cartão segue em minha estante, como uma espécie de bússola. Mas a verdade é que, nos últimos tempos, aqueles que escolheram a função de informar estão de cabeça baixa no Brasil.
Há muitos motivos pra isso: demissões em massa, em redações cada vez mais acovardadas; perda de qualidade nos textos e reportagens eletrônicas; sem contar o mal-estar por ver colegas que mal começam na profissão e já se sentem sócios do dono do jornal ou da TV.
Mas o pior: revistas, jornais, emissoras de rádio e TV trazem seguidos exemplos do que não se deve fazer para exercer o bom jornalismo. A “Veja” levou ao fundo do poço a função de informar. A revista é, em boa medida, responsável pelo clima de ódio e ignorância que vemos se espalhar pelos setores de classe média no país.
Tanto esforço para travar o debate da informação, e terminamos nisso? O desânimo vez por outra ressurge…
Mas eis que surgem também sinais de que o jornalismo se parece muito com o samba, na letra de Nelson Sargento: “(…) agoniza mas não morre/ alguém sempre te socorre/ antes do instante derradeiro.”
Digo tudo isso porque recebi, pelo Facebook, uma das melhores aberturas de matéria que já li nos últimos 30 anos. É sobre a tragédia do último fim-de-semana no Rio: Ivinho, filho de Ivo Pitanguy, dirigia aparentemente sob efeito de álcool, quando atropelou José, um operário que ia para o trabalho. José está morto.
O texto saiu em “O Globo”, que é outro exemplo da manipulação e do baixo nível das famílias que mandam no jornalismo brasileiro. Mas não importa. É preciso reconhecer quando um lance de craque surge – mesmo que seja nas páginas daquele que considero o maior inimigo da democracia e da emancipação do povo brasileiro.
É bom reconhecer isso, até para pensar se essa “guerra da informação” – que às vezes nos faz rejeitar em bloco o campo inimigo (e a Globo pra mim é inimiga) – não pode nos transformar em seres tão boçais quanto aqueles que dirigem o jornalismo da Globo e da Veja.
Bem, chega de papo e confiram a abertura no texto assinado por Caio Barreto Briso e Gustavo Goulart…