Por João Filho, em The Interceptor –
GRAÇAS À MANUTENÇÃO de um habeas corpus concedido pelo STF, um homem que o MP tem certeza ser integrante do PCC poderá voltar a assumir a prefeitura de Embu das Artes, cidade de 240 mil habitantes da grande São Paulo. A trajetória de Claudinei Alves do Santos, o Ney Santos (ou Ney Gordo no submundo do crime), é um case de fracasso das instituições brasileiras. Em pouquíssimo tempo, ele saiu da cadeia para se tornar empresário do ramo dos combustíveis e iniciar carreira de sucesso na política. Segundo o MP, paralelamente à vida política, Ney Santos seria o comandante do tráfico de drogas da zona oeste da grande São Paulo. Há uma infinidade de provas e até os paralelepípedos de Embu conhecem a vida criminosa do prefeito. É triste perceber como os partidos políticos e o sistema judiciário permitiram a ascensão desse homem.
Em 1999, aos 19 anos, Ney Santos foi condenado por receptação e formação de quadrilha. Quatro anos depois, foi novamente condenado, dessa vez pelo singelo crime de assaltar um carro-forte portando uma metralhadora 9mm. Ficou dois anos preso, mas foi absolvido em segunda instância. Saiu da cadeia para se tornar, de forma instantânea, um empresário de sucesso do ramo dos combustíveis. Para o MP, a partir da passagem pelo presídio, Santos “constituiu fortuna de forma relâmpago, enveredando-se para a área política e candidatando-se para cargos públicos”. Os promotores não têm dúvidas de que os postos de gasolina são para lavar o dinheiro proveniente de crimes, principalmente do tráfico de drogas. Desde a saída da prisão, Santos acumulou um patrimônio escandalosamente incompatível com sua renda: mais de R$ 100 milhõesem apenas 4 anos.
Em 2010, iniciou carreira na política ao se candidatar a deputado federal pelo PSC. Coligado com o PSDB, Santos chegou a exibir na campanha um vídeo ao lado de Alckmin, que aparece saudando sua candidatura. Poucas semanas antes da votação, foi preso novamente por lavagem de dinheiro, estelionato, adulteração de combustível, sonegação fiscal e formação de quadrilha. A investigação começou a partir de uma denúncia que acusava o candidato de trocar combustível por votos. Os 15 postos de gasolina dos quais é sócio também eram suspeitos de fornecer atestados falsos de emprego para presos em regime semiaberto que precisavam comprovar vínculo empregatício. Seus bens foram bloqueados e, em sua mansão, a polícia apreendeu máquinas de contar dinheiro e uma Ferrari avaliada em R$ 1,5 milhão. Quarenta tijolos de maconha, totalizando 34 kg, também foram encontrados em um dos carros da campanha do candidato. Mesmo com tudo isso, Ney Santos foi solto para responder em liberdade, mas perderia a eleição dias depois.
Em 2012, foi eleito vereador de Embu e mostrou força política se tornando presidente da Câmara. Naquela época, Ney Santos já demonstrava ter uma boa rede de contatos dentro dos partidos políticos. A afinidade com Marco Feliciano, por exemplo, não é apenas religiosa. O deputado é um importante aliado político de Ney Santos e, segundo o pastor, o seu “gabinete é um pedaço de Embu em Brasília”. Feliciano chegou até ser agraciado como cidadão embuense por indicação de Santos, que costuma aparecer em vídeos de cultos neopentecostais.
Nada disso abalou Santos, que continuou buscando alçar mais voos na política. Em 2016, teve a candidatura à prefeitura de Embu impugnada pela Justiça Eleitoral com base na Lei da Ficha Limpa. Mas uma nova liminar permitiu que Ney Santos se candidatasse e fosse eleito prefeito pelo PRB, o partido da Igreja Universal. Sua eleição teve apoio maciço da população, tendo impressionantes 79% dos votos. Dos 15 vereadores eleitos, 12 eram da sua base aliada do prefeito eleito. Uma força política para ninguém botar defeito.
Sua posse como prefeito foi barrada pela Justiça ao decretar novamente sua prisão por lavagem de dinheiro e associação ao tráfico de drogas. Ele, então, sumiu da cidade e ficou foragido por 40 dias. Mas, graças a uma liminar obtida no STF com Marco Aurélio Mello, o pedido de prisão foi suspenso, e Ney Santos pôde assumir a prefeitura normalmente. Perceba como, apesar das idas e vindas, as coisas sempre acabam dando certo para ele nos tribunais.
Durante a gestão, o prefeito nomeou Renato Oliveira, ex-integrante do MBL, para ser seu subsecretário de Comunicação. No mês passado, Oliveira e seu segurança foram acusados de participar de um atentado contra um cartunista crítico do prefeito que trabalha para o Verbo Online, um site de notícias da região de Embu. O cartunista estava de moto e foi atropelado pelo subsecretário. Na sequência, levou 3 tiros do segurança, que trabalha também como agente penitenciário. Horas após a tentativa de homicídio, o cartunista recebeu uma mensagem dizendo que “os próximos tiros serão na sua cara pra aprender a parar de ser falador”. É o modus operandi do PCC aplicado à gestão pública.