Por Roberto Salim, compartilhado do Ultrajano
Tempos bons. Mas tinha a vacina pela frente. Na temida Rua Roma. No Posto de Saúde. Ao chegar à porta, eu percebi por que motivo tínhamos ido tão cedo. Havia uma fila muito grande. Como tinha criança querendo estudar!
Não se tratava de caso de vida ou morte.
Mas para nós era sim.
Quando a gente ia entrar na escola, lá pelos 6 ou 7 anos, todos na minha rua sabiam que teriam que passar por um rito que era temido.
Vocês vão ter de tomar a vacina.
Aquilo era assustador.
E não tinha essa loucura que vivemos hoje.
Não sabíamos ao certo por que, mas para estudar era preciso o atestado que era dado no Posto Médico da Rua Roma, ali no bairro da Lapa.
Era preciso acordar cedinho.
Lembro como se fosse agora: minha mãe me chacoalhando no sobrado da Rua Caiuby: “Levanta, Robertinho!”
“Pra que, mãe?”, acho que eu respondia.
“Pra tomar a vacina, você não quer estudar?”
Caramba!
Era muito, mas muito cedo.
O céu ainda estava escuro.
O galo ainda não tinha cantado.
Levantei sabe-se lá como.
E também não sei se fomos a pé ou se tinha ônibus até o local.
Não era muito longe.
Uns quatro quilômetros.
Talvez cinco.
Sei que estava com minha mãe.
De mãos dadas.
No caminho alguns amigos da rua, que também iam entrar na escola.
O Cláudio ia estudar comigo na dona Albertina: no Externato Henrique Dias, em um sobradinho ali da Rua Caiowas com a João Ramalho que existe até os dias de hoje.
Minha primeira professora foi a dona Neide.
Tempos bons.
Mas tinha a vacina pela frente.
Na temida Rua Roma.
No Posto de Saúde.
Ao chegar à porta, eu percebi por que motivo tínhamos ido tão cedo.
Havia uma fila muito grande.
Como tinha criança querendo estudar!
O procedimento começava às seis da matina.
E cada um que saía estava com cara de quem tomou água com sabão.
Era a vacina BCG para a prevenção da tuberculose.
Chegou minha vez.
Soltei-me das mãos de minha Lúcia querida, estufei o peito e lá fui eu ser vacinado, ou melhor, para “tomar” a vacina.
Poxa vida, não é que a vacina era pura água com sabão!
Se eu soubesse, tinha feito uma no tanque ‒ onde minha mãe lavava roupa com sabão de coco ‒ e não precisava acordar de madrugada.
Lembrei-me disso hoje cedo porque parece que a nova vacina salvadora está chegando em meio a um tiroteio: chinesa, inglesa ou sei lá de onde.