Por Paulo Roberto Accioli, Grupo Mundial News de Comunicação
Ao longo da história do Brasil, a grande imprensa desempenhou um papel central na construção das narrativas políticas do país. Contudo, jornais como O Estado de S. Paulo, O Globo e outros veículos tradicionais repetidamente demonstraram alinhamento com forças antidemocráticas, especialmente quando seus próprios interesses econômicos e políticos estavam em jogo. O apoio ao golpe militar de 1964 é um dos exemplos mais emblemáticos dessa postura, que ressurge de tempos em tempos na defesa de agendas que flertam com o autoritarismo.
Golpismo Como Política Editorial
Em 1964, a velha mídia brasileira se tornou uma peça-chave para a derrubada do governo democraticamente eleito de João Goulart. Jornalões influentes propagaram a ideia de que o Brasil caminhava para o comunismo e que a intervenção militar era a única saída para a “salvação nacional”. O Jornal do Brasil, Folha de S. Paulo, O Globo e Estadão publicaram editoriais em apoio à ditadura militar, legitimando a repressão, a censura e a perseguição de opositores políticos.
O exemplo mais simbólico dessa cumplicidade veio décadas depois, quando o próprio Grupo Globo admitiu, em editorial de 2013, que apoiar o golpe foi um erro. No entanto, a autocrítica pouco significou na prática, pois, nos anos seguintes, os mesmos veículos continuaram a flertar com movimentos de caráter autoritário.
O Mesmo Script na Atualidade
A manipulação da opinião pública por meio da grande imprensa não ficou no passado. Em 2016, o impeachment de Dilma Rousseff foi tratado por esses veículos como um processo legítimo, mesmo sem a comprovação de crime de responsabilidade. O jornalismo, que deveria questionar arbitrariedades, agiu como um braço midiático da agenda golpista.
O mesmo aconteceu nas eleições de 2018 e na ascensão de Jair Bolsonaro ao poder. Embora o ex-capitão já demonstrasse abertamente seu apreço pela ditadura e pelo fechamento do regime, a mídia tradicional adotou uma postura de normalização de seu discurso. Somente quando Bolsonaro se tornou uma ameaça real à democracia e à própria imprensa, esses veículos passaram a adotar um tom mais crítico.
Interesses Acima da Democracia
A velha mídia brasileira nunca apoiou golpes por ingenuidade. Seu envolvimento sempre esteve atrelado à manutenção de privilégios, como isenções fiscais, concentração de propriedade e influência política. O golpe de 1964 favoreceu o empresariado e as elites econômicas, que, por sua vez, garantiram a longevidade da ditadura.
Hoje, a grande imprensa se apresenta como defensora da democracia, mas sua trajetória mostra que, quando seus interesses são ameaçados, ela não hesita em apoiar soluções autoritárias. A falta de uma mídia plural e independente mantém esse ciclo vicioso, onde a informação serve mais a grupos de poder do que à sociedade.
A “velha mídia mofada” segue reproduzindo práticas que mancharam a história da imprensa no Brasil. Enquanto seus interesses estiverem acima da democracia, o risco de novos retrocessos continuará presente. Para romper com essa lógica, é fundamental fortalecer veículos alternativos e incentivar um jornalismo comprometido com a verdade e com os direitos da população. Afinal, uma sociedade informada é o maior antídoto contra o autoritarismo.