A vereadora do PSDB que pode ser ponte entre Lula e evangélicos

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A vereadora de Goiânia (GO) Aava Santiago (PSDB), de 34 anos, causou desconforto entre seus colegas de partido ao integrar a equipe de transição do governo de Lula (PT) no final de 2022. Evangélica e filha de pastores, Aava apresentou um plano para aproximar o segmento religioso da administração petista e chegou a se reunir com ministros no início do novo governo. Ela defende que a gestão lulista fale diretamente com o “chão da igreja” ao invés de se reunir com os grandes líderes.

Por Augusto de Sousa, compartilhado de DCM




Aava Santiago com a camiseta do Racionais em palestra para alunos de Goiânia. Foto: reprodução

Embora o plano tenha sido arquivado, Aava se destacou na defesa de direitos sociais e se tornou uma referência como ponte de diálogo entre política e igrejas, enquanto o governo federal ainda enfrenta dificuldades em se aproximar do segmento religioso.

“Eu estava preocupada porque a gente (a esquerda) venceu por muito pouco. Nas nossas igrejas o clima ainda está acirrado. Falei que a gente não podia deixar chegar em 2024 para se mobilizar”, contou a vereadora.

Autodenominada “vereadora, socióloga, maloqueira e crente” ou “malocrente”, Aava está em seu primeiro mandato e é uma voz distinta no meio evangélico, majoritariamente bolsonarista. Defendendo bandeiras tradicionais da esquerda, como os direitos das mulheres, a escola pública e os direitos humanos, ela despertou o interesse de partidos como o PT, mas sua aproximação inicial com os petistas esfriou. Hoje, Aava critica a forma como o presidente lida com o público evangélico.

“O Lula tem que mudar o foco do investimento. Ele tá dialogando com empresários da fé. Falta conversar com o chão da igreja. Tem que produzir sentido para a menina que canta no coral, para a mulher preta e pobre. Não é ligar para bispo e fazer café da manhã. Tem que virar o jogo na base, se não vai continuar alimentando o monstro que foi plantado na cabeça da senhorinha que vai para a igreja”, argumentou.

Natural do Rio de Janeiro, Aava se mudou para Goiás aos 15 anos com a família para se distanciar da violência na capital carioca. Na época, o estado era governado por Marconi Perillo, responsável por programas de transferência de renda que atraíram Aava ao PSDB. Marconi, atualmente presidente nacional do partido, mantém uma relação próxima com a vereadora. Apesar de estar em um campo de atuação diferente do PSDB, Aava acredita na importância de disputar espaços dentro dos partidos.

“Se não sou eu, o partido inteiro tinha ido com o Bolsonaro em 2022. Fui o único diretório que foi contra. Falam que eu sou petista enrustida, mas o Marconi me defende e me valida falando que eu tenho autonomia. Temos muito respeito mesmo com as divergências e tenho o encorajamento dele para defender o que eu acredito”, afirmou ela, que preside o PSDB de Goiânia.

Aava Santiago com uma camiseta da Palestina. Foto: reprodução

Com mais de 100 mil seguidores nas redes sociais, Aava viraliza ao tratar de temas polêmicos como a PEC das Praias, defesa da Palestina e câmeras nos uniformes dos policiais. No ano passado, durante reuniões em Brasília com as ministras Cida Gonçalves (Mulheres) e Anielle Franco (Igualdade Racial), Aava apresentou uma proposta para ajudar na aproximação com religiosos.

Ela sugeriu um programa nacional de enfrentamento da violência contra a mulher com ênfase em templos, onde cada igreja teria uma mulher treinada pelo governo federal para atuar como ponte entre crianças e mulheres vulneráveis e a rede de enfrentamento à violência.

“Deveríamos acionar essas mulheres não para serem salvas, mas para ajudar a salvar mais gente. Essas mulheres se bolsonarizaram, mas há nuances quando se fala na defesa de seus filhos, por exemplo. São detalhes que ajudam a construir uma agenda em comum”, explicou.

A proposta de Aava é baseada em sua experiência em projetos de acolhimento de mulheres vítimas de violência no meio evangélico. Antes de entrar na política, ela criou programas de auxílio após se deparar com um caso de abuso envolvendo uma menina que morava no fundo da igreja onde o pai, zelador, a abusava.

“Algumas pessoas me entendem como contraditória. Essa foi a forma como eu me constituí politicamente e religiosamente. Isso me deixa segura da fé e da atuação política. O meu voto não vem da igreja”, afirmou Aava.

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