Publicado no Jornal GGN –
Após explorar os vazamentos da Operação Lava Jato contra o ex-presidente Lula e outros nomes da PT, agora nomes do PSDB se movimentam com medidas para conter os vazamentos, fazendo com que o projeto contra o abuso de autoridade entre em uma via inesperada.
A opinião é de Janio de Freitas, que escreve, em sua coluna de hoje (6) na Folha de S. Paulo, que os tucanos agora consideram o projeto necessário, após o vazamento que acusa o senador Aécio Neves de receber propina da Odebrecht através de um banco em Nova York.
Janio ressalta que os conselhos nacionais do Ministério Público e da Justiça, o Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal não fizeram nada para conter os vazamentos da Lava Jato, também considerando estranho o “lançamento do protegido Aécio no fogaréu da Odebrecht passado tão pouco de sua festiva e pública confraternização com Sérgio Moro”.
Leia mais abaixo:
Da Folha
Projeto contra abuso de poder encontra uma via inesperada
por Janio de Freitas
O destino do projeto contra abuso de autoridade entra em inesperada via e ruma para o que tanto pode ser o êxito, como um confronto agravante da crise. Entusiastas e exploradores dos vazamentos da Lava Jato contra Lula e o PT, as eminências e as bancadas do PSDB movem-se agora para articular medidas contra os vazamentos.
Espicaçadas por Aécio Neves, estão indignadas com o vazamento que acusa esse seu chefe de receber alto suborno da Odebrecht, por intermédio de uma conta da irmã em banco de Nova York. Os peessedebistas passam a achar que o projeto contra abuso, por eles rejeitado, é mesmo necessário.
De fato, está demonstrado que sem uma lei rigorosa, os atingidos por vazamentos ficam à mercê dos que façam usos políticos e pessoais das acusações. Os conselhos nacionais do Ministério Público e da Justiça, o Supremo Tribunal Federal, a Procuradoria Geral da República e a Polícia Federal nada se dispuseram a fazer contra os vazamentos que vêm desde 2014.
Se por serem contra Lula e o PT, não vem ao caso. No reconhecimento recente da própria presidente do Supremo, Cármen Lúcia, eram e são crimes. Permitidos, explorados, aplaudidos. E sensacionalizados em imprensa e em TV. Um atrás do outro, dezenas.
O vazamento contra Aécio e sua irmã Andréa não inclui sequer indício. Está negado por ambos. Como tantos outros, é um vazamento esquisito. Há algum tempo, ao menos parte da Lava Jato está irritada com seus aliados no Congresso, dada a falta de combatividade com que acompanham a gestação do projeto contra abuso de autoridade –uma ameaça de ferir de morte muitos usos e abusos que estão na alma da Lava Jato e no cerne da ação de Sérgio Moro.
Rodrigo Janot, por seu lado, acabou por ir ele mesmo ao Senado com sugestões para moderação do projeto. É estranhável, sim, o repetido lançamento do protegido Aécio no fogaréu da Odebrecht, passado tão pouco de sua festiva e pública confraternização com Sérgio Moro. (Graças a esse momento, descobriu-se um traço de Moro: ele ri).
Aécio ficou de pedir ao ministro Edson Fachin uma “investigação rigorosa” do vazamento. Em causa própria, os peessedebistas se mexem. Se isso confirmar também a disposição de apoiar o projeto contra o abuso de autoridade, a aprovação está garantida. E a reação da Lava Jato, prometida.
A PROTELAÇÃO
A defesa de Dilma defendeu, como a de Temer, a protelação do julgamento de ambos no Tribunal Superior Eleitoral. Têm o que comemorar. Só se não perceberam que, com a protelação, Dilma ficou absolutamente vulnerável. Espichado o julgamento até o ano que vem, como agora está previsto, ficará mais fácil e menos escandaloso deixar Temer completar o pequeno restante do mandato, e a ela cassar, impedindo sua (provável) candidatura.
A VITÓRIA
Durante seus dois mandatos, o equatoriano Rafael Correa foi tratado pelo jornalismo brasileiro como um presidente tirânico, inimigo da imprensa democrática e administrador fracassado.
Quem acompanha os países latino-americanos sabe o que sempre foi a imprensa equatoriana, como sabe que Correa deixa substancial redução da pobreza e muitos outros feitos de justiça social. Quanto ao seu autoritarismo, não foi mais do que o pulso forte que lhe permitiu bem concluir dois mandatos, eleger o sucessor e fazer maioria parlamentar, em um país que apenas nos dez anos anteriores tivera sete presidentes e três golpes de Estado consumados.