Publicado em Jornal GGN –
Yunes disse que, ao receber em seu escritório os R$ 4 milhões, não sabia do que se tratava. Enquanto isso, o ministro da Casa Civil que teria recebido o montante sai de licença por “problemas de saúde”
O empresário e amigo de Michel Temer, José Yunes, que foi apontado por delação de executivo da Odebrecht como o intermediário de um dos repasses de um total de R$ 10 milhões da empreiteira para as campanhas do PMDB, em 2014, a mando do atual presidente da República, diz que deixou o governo para tentar se defender.
A saída do ex-assessor de Temer do governo foi a sétima baixa do Planalto, no último ano. Foi no dia 15 de dezembro, que Yunes anunciou a sua saída. Conselheiro amigo de Temer há 40 anos, se considerando “psicoterapeuta político” do peemedebista, ocupava a assessoria especial da Presidência.
Ambos mantiveram uma relação de proximidade desde os tempos da graduação, em 1960. A amizade se estendeu por 50 anos, até assumir posto no gabinete pessoal do presidente. Mas duas delações de peso na Operação Lava Jato recaíram sobre a relação.
O ex-vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht, Cláudio Melo Filho delatou um encontro, com a presença do presidente Michel Temer e do ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, para o repasse de R$ 10 milhões, em caixa 2, da Odebrecht às campanhas eleitorais do PMDB.
O pedido partia, disse o delator, de Temer. Destes, mais da metade, R$ 6 milhões seriam destinados a Paulo Skaf, então candidato do PMDB ao governo de São Paulo, e outros R$ 4 milhões seriam destinados a Padilha para as demais campanhas do partido. A remessa destinada a Padilha teria contado com a ajuda de Yunes. O amigo de Temer recebeu em seu escritório o dinheiro vivo, depois encaminhado ao atual ministro.
A delação de Cláudio Melo Filho foi confirmada pelo próprio presidente da Odebrecht, Marcelo. Ele narrou que o então vice-presidente o convidou para um encontro, no Palácio do Jaburu, em maio de 2014, onde solicitou a ele os repasses em caixa dois.
Passaram-se mais de dois meses desde que Yunes deixou o Planalto para contar uma nova versão da narrativa. Sem se manifestar à época, quando saiu do governo de Temer, disse apenas, em nota oficial, que seu nome tinha sido jogado “no lamaçal de uma abjeta delação” premiada e criticou a “fantasiosa alegação, pela qual teria eu recebido parcela de recursos financeiros em espécie”.
“Não houve caixa dois, nem entrega em dinheiro a pedido do presidente”, completava o Planalto.
Mas a manifestação não foi suficiente. Exatamente 70 dias depois, uma nova versão para a história surge. Sem pedido de condução coercitiva ou intimação para prestar depoimento, Yunes teria ido “espontaneamente” à Procuradoria-Gerald a República falar sobre o tema, na última semana.
Disse que, em 2014, em plena campanha eleitoral do partido de seu amigo, Michel Temer, Yunes disse que recebeu um telefonema de Padilha, pedindo um “favor”, para que apenas recebesse alguns documentos, que seriam retirados por um emissário. Sem supostos mais questionamentos, o empresário teria concordado.
Ainda, Yunes, ao receber em seu escritório os R$ 4 milhões, em um “pacote”, não olhou o que, na verdade, se tratavam os tais documentos. Disse que o lobista Lucio Funaro apareceu em seu escritório “trazendo um pacote”.
Aos investigadores da Lava Jato e à Folha de S. Paulo, contou sua versão de que não sabia, até hoje, o conteúdo do pacote e que tampouco se preocupou, em pleno pleito eleitoral, de saber o que havia dentro. Disse que também mal conversou com Funaro.
“Pedi demissão para defender a minha inocência nesse episódio e para que tudo fique muito bem esclarecido, não querendo me prevalecer nem do cargo nem da proximidade com o presidente”, disse o amigo de Temer ao jornal.
Na retomada das manchetes que recaem sobre o governo peemedebista, foi a vez de, coincidentemente, Padilha tirou “licença médica”, nesta quinta-feira (23) da Casa Civil. Justificou, em meio ao turbilhão das delações da Odebrecht contra o PMDB e as campanhas com caixa dois, que precisava operar a próstata.
Após o depoimento espontâneo de Yunes à PGR, os investigadores devem pedir a abertura de inquérito para investigar o repasse exclusivo dos R$ 10 milhões à cúpula peemedebista, principalmente a Padilha.