Sem rua, não rola nada

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Por Carlos Eduardo Alves, jornalista, especial para o Bem Blogado – 

O futuro da Democracia e dos brasileiros pobres depende do que acontecer nas próximas semanas. A aliança de corruptos e elite econômica com o aparato de Justiça e mídia tem duas cartadas centrais: a chamada reforma da Previdência, na realidade uma tentativa de jogar no lombo dos trabalhadores a conta da crise, e o cerco final para a prisão ou inelegibilidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na eleição de 2018.




A retirada de direitos do cidadão é muito mais clara e imediata, no caso da Previdência, do que a batida de carteira representada pela PEC que roubou 20 anos de futuro. É uma chance única para os setores progressistas, mesmo lutando contra a força avassaladora de propaganda a favor da crueldade, mostrarem o caráter regressivo do governo golpista.

Lula entra como o grandfinale imaginado para a festa da direita. Moro é cobrado diariamente para apressar a sentença que obviamente condenará o ex-presidente e que será confirmada pelo Tribunal de Porto Alegre. Não haverá paz para os reacionários se Lula puder concorrer em 2018. Não por acaso, depois que novas pesquisas indicaram sua liderança, aumentou, e muito, a caçada a ele.

Aí é que se coloca o dilema: o que fazer para impedir o avanço da marcha medieval? A resposta é uma só e nela, dolorosamente, se encaixa a dúvida: não há caminho algum que prescinda de grandes manifestações de rua para garantir direitos e a candidatura de Lula. E aí, sejamos honestos, não há certezaia alguma, pelo menos por enquanto, que a esquerda hoje seja capaz de mobilizar multidões. Não é impossível, mas não é o que se indica hoje se olharmos sem paixão.

O governo Temer, mostram pesquisas insuspeitas de petismo, é rejeitado pela imensa maioria dos brasileiros. O Carnaval provou que mesma na festa o povo não esquece de seu algoz. Mas até agora não foi criada uma atmosfera que remeta formalmente os usurpadores e quadrilheiros para a lata de lixo da História.

Lula, com todo respeito a quem idealizou ou apoia manifestos, não será salvo por abaixo-assinados. O movimento é legítimo e justo, mas é absolutamente insuficiente para garantir justiça na sentença de Moro. Alguém ainda acha que qualquer coisa seja capaz de constranger um Poder que diariamente mostra em sua instância maior, o STF, um grau de militância tucana inimaginável em qualquer das ditas democracias burguesas? Não, não serão ministros acovardados e sedentos para recitar no JN que trarão o Brasil de volta à normalidade democrática.

Amanhã, no dia Internacional da Mulher, seguramente milhares delas sairão às ruas com suas justas demandas, todas elas que se confrontam com o governo de homens primitivos. Será mais um brado contra o atraso. Aliás, foram as mulheres, os jovens e os intelectuais que lideraram as maiores manifestações contra o golpe, antes e depois. E os outros trabalhadores?

A verdade, e a esquerda não pode fazer cara de paisagem nessa discussão, é que o movimento sindical não tem mostrado força no embate contra o atraso. Os motivos são vários e caberiam num tratado. A pouca rua relevante contra o golpismo e suas ideias está sendo levada por movimentos sociais que não se vinculam a partidos ou sindicatos. A reforma da Previdência servirá também como teste definitivo do tamanho do estrago feito nas organizações sindicais.

De qualquer maneira, mesmo que sem centralização, a luta contra a aposentadoria impossível que querem impor é dever e, também, uma chance imensa de levar o embate para as ruas. Não há máquina de propaganda terrorista que convencerá o cidadão comum que é justo receber algum benefício só depois de 49 anos de trabalho. Temer e quem o patrocina sabem disso. Daí a pressa para passar o trator parlamentar.

É possível recuperar as ruas. Nesses estranhos tempos, aliás, a direita tem acertado mais nas manifestações de rua. Como? Um exemplo é a insistência da esquerda em marcar atos em dias de semana em São Paulo. Não é o ideal. Basta lembrar que o maior evento contra Temer na capital paulista correu num domingo, no final de 2017. De qualquer maneira, qualquer dia é dia para combater o atraso. Mas sempre sabendo que todos os caminhos levam à rua.

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