Por Enio Squeff, Ateliê Squeff –
A rigor, nada do que está acontecendo, no Brasil, se fez à revelia do previsível. O golpe obedeceu aos trâmites, digamos, normais: uma presidente fraca – para não acumular outros adjetivos -, uma massa de manobra incauta – que entrará para a história sob o título nada lisonjeiro de “coxinha” (onde estão os paneleiros?), uma mídia canalha, um parlamento corrupto, um judiciário desclassificado, e, claro, um presidente à imagem e semelhança de quem o colocou no poder. O que espantava os que viram o que se tramava e o que aconteceu, só tinham uma dúvida: o tempo de vigência do primeiro ato da pantomima. Em 64, o golpe foi chamado solenemente de “revolução”. Era uma quartelada, como outras tantas na América do Latina, que aprofundou as injustiças sociais, mas que foi apoiada pela mesma turma de sempre – os que estão aí até hoje.
Mesmo assim a pergunta persiste: até quando? Alguém disse que a Globo radicalizou contra Temer. Aparentemente, haveria, por fim, uma sintonia com a opinião pública que ela ignorou até ontem. Mas é difícil ou melhor, impossível não desconfiar. Leonel Brizola afirmava que a quem e ao que a Globo defendia, haveria que ficar com um pé atrás: seria o pior para o Brasil; e a quem ela combatia, certamente deveríamos apoiar.
Era uma visão maniqueísta – mas só até certo ponto: a queda de Temer ao que tudo indica conviria à Globo ( e à mídia que ela pauta), para substituí-lo por alguém pior, por meio de eleições indiretas – que é o que interessa ao que genericamente podemos chamar de “elites” (ou seja, a turma do golpe), e que sempre mereceu o embasamento irrestrito da Globo.
Trocado em miúdos: a queda de Temer que todos queremos, só tem sentido se houver eleições diretas. O mais é a prorrogação do golpe que já afundou o país na “pior recessão da sua história” para não fugir do ramerrão ( que não deixa de ser verdadeiro por ser ramerrão). O mais é conversa de coxinha; ou seja, tanto dos idiotas que se deixaram conduzir como boiadas às palavras de ordem da mídia hegemônica; como os canalhas – os mesmos que estão no parlamento, no judiciário, isto é, no poder.
Simples assim? Simples assim.
Foto: Rovena Rosa/Agencia Brasil