Por Cíntia Alves, publicado em Jornal GGN –
Após a revelação de que pode ter existido tráfico de influência e possível pagamento de propina em uma negociação de acordo de delação na Lava Jato de Curitiba, o juiz Sergio Moro admitiu à imprensa que sua esposa, Rosangela, teve sim sociedade com o escritório de Carlos Zucolotto, seu “amigo pessoal”. Mas reforçou que a parceria se deu “sem comunhão de trabalho ou de honorários”, numa tentativa de preservar a mulher das denúncias que agora caem sobre os ombros de Zucolotto.
Mas a relação de Rosangela com o escritório de Zucolotto ainda não está muito clara. Principalmente porque, de acordo com uma reportagem do Conjur, há dois anos, Moro deu outra versão sobre essa parceria: ele disse que sua esposa tinha sociedade com Zucolotto visando “apenas a partilha de honorários”, o que não significa, contudo, que eles atuavam nos mesmos processos.
A fala contraditória de Moro está registrada em uma representação contra dois blogueiros que teriam publicado notícias falsas sobre as atividades de Rosangela no escritório de Zucolotto.
Em 2015, surgiram informações dando conta de que a empresa de Zucolotto advogava para empresas como a Helix e a Ingrax. O Jornal i9, um dos processados por Moro, teria associado a Ingrax à Shell e levantado conflito de interesse na atuação da Lava Jato contra a Petrobras.
“Na representação, o juiz garante que sua mulher nunca advogou para essa multinacional, e que a participação dela no escritório Zucolotto Advogados Associados visa apenas a partilha de honorários, não assegurando que ela tenha trabalhado diretamente para todos os clientes da banca”, escreveu o Conjur. (Leia a íntegra aqui).
Rosangela só teria deixado a sociedade em meados de 2016.
Outra informação um tanto quanto inconsistente que consta na nota do juiz à imprensa, em defesa do amigo pessoal, é a de que Zucolotto atua exclusivamente na área trabalhista. O escritório Zucolotto Sociedade e Advogados, porém, afirma em seu site oficial que faz “parcerias” para garantir atendimento aos clientes dentro da área criminal do direito.
Mesmo que Zucolotto não tenha atuação na Lava Jato como criminalista, a denúncia de Rodrigo Tacla Duran, um dos réus na operação, afirma justamente que o advogado pediu para não ficar “na linha de frente” da negociação com os procuradores de Curitiba.
Com seus “contatos”, disse Duran, Zucolotto ofereceu fazer as tratativas nos “bastidores” e, no final, teria pedido para receber um terço dos honorários “por fora”, sugerindo que repassaria os valores às pessoas que ajudaram no acordo de delação.
O deputado Wadih Damous defendeu, nesta terça (29), que o caso seja investigado.
Zucolotto disse à Folha, responsável pela divulgação da denúncia de Duran, que as informações são falsas e que o pretenso delator tem interesse em escapar da Lava Jato de Curitiba, pois lá é acusado de lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa.
Moro reforçou que a narrativa de Duran carece de provas.