Eric Clapton e a beleza de se vingar da tristeza

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Por João Lopes, Facebook – 

Eric Clapton, quando o seu super grupo CREAM se desfez em novembro de 1968 por conta das egocêntricas querelas entre seus dois amigos/companheiros da banda, Jack Bruce e Ginger Baker, baixo e bateria, respectivamente, criou um outro super grupo e deu o nome de Blind Faith.

eric clapton

Ele chamou o outrora companheiro Ginger Baker pra a bateria; o Stevie Winwood pra a co-liderança,voz, teclados e todo tipo de instrumento e o Rick Greck para o Baixo.




A super banda só durou uma temporada e se desfez logo, deixando uma verdadeira jóia do rock pra a posteridade. A capa, inclusive, foi proibida no Brasil quando do seu lançamento por aqui. Tal qual os milicos da época ,os coxos hoje não deixaria lançá-lo aqui.

Aí, era 1969 e o Clapton estava envolvidíssmo afetivamente com a mulher do seu melhor amigo, o Beatle George Harrison . Acontece que ela nada queria com ele. Ele já rico, famoso e bonitão e ela o usava pra fazer ciúmes ao marido, que não estava nem aí e não lhe dava a atenção devida.

E o nosso herói se apaixonou perdidamente por ela. Nessa assimetria afetiva, o Clapton mergulhou fundo no mundo da heroína. Mesmo assim, nesse ambiente, ele tem a ideia de formar um outro super grupo pra dar vazão a toda essa barafunda emocional: Derek and the Dominos é o nome do novo grupo.

O “DOMINOS” foi em homenagem ao seu ídolo, um dos grandes nomes criadores do rock e que muito o influenciara na juventude e que veio a falecer hoje, aos 89 anos: Fats Dominos era o seu nome. A simbiose de emoções (rejeição da sua amada) mais os efeitos arrasadores que a droga lhe causava fez com que ele escolhesse um alter ego em que escondia o seu próprio nome e ao mesmo tempo homenageava tamb ém o seu ídolo no nome da nova banda.

A essa altura, a lenda norte americana Duane Almann, que estava com o seu irmão Gregg gravando um dos seus ótimos álbuns pra sua banda “The Alman Brothers Band”, sabendo do projeto, se ofereceu pra fazer parte daquele grupo. Clapton aceitou ,mas pra não deixar o seu irmão manco, o americano declinou. No entanto, aceitou o convite pra participar dos ensaios e das gravações.

O Clapton vê-se aí com o seu grupo formado e juntos (Duane Almann, Slide Guitar ;Bobby Whitlock, piano; Jim Gordon, bateria e Carl Redle, baixo) fizeram uma das melhores jóias de toda a história da música popular .

Ele nas suas excursões com suas bandas anteriores ,conheceu na França o pintor Frandsen De Shonberg, pai de um amigo seu e escolheu entre os seus quadros um que ele achou que espelhava bem o rosto da sua musa inspiradora, Pattie Boyd-Harrison, pra ser a capa do álbum a ser concluído.

Clapton e seu grupo se reuniam pra compor e tocar o que viria ser o repertório do álbum (duplo) em mente a altura dos sentimentos de que estava possuído pela homenageada. “Tinha que sair do meu jeito , com o feeling do momento que eu vivia e muitas vezes eu era incompreendido no que sentia e queria “, disse ele em entrevista depois de anos.

Naqueles anos, muitos eram os artistas que jorravam nas suas expressões artísticas o clima, o ambiente em que viviam, a leitura que faziam do seu tempo e da sua realidade, mas nenhum outro catalisou e expressou através dos blues desse álbum as sonoridades inéditas pra angustias inéditas .

Ele deixou fluir em cada nota, em cada acorde a sua alma, o que deveras sentia. Ali está em cada acorde e em cada nota um lamento, um gemido de um coração deserdado de amor como deve ser um blues tocado com alma.

Clapton prova com essa joia da música a máxima, que ele mesmo repetia e que eu concordo plenamente: “A gente tem que ter sofrido um pouco para tocar um blues como deve ser, com o sentimento exigido. Só tem à dizer quem sente, dizia ele.”

Além disso, o que mais posso dizer é que as bebidas, a heroína e o sofrimento afetivo foram elementos basilares e convergentes para um álbum maravilhoso repleto de blues de outros ídolos seus e que tinham ali com eles e seu grupo interpretações com a maestria e o feeling necessário.

Neste álbum, a então senhora George Harrison seria mais uma vez homenageada na belíssima “Layla”, que foi o nome que ele encontrou pra homenageá-la, omitindo o nome da mulher do seu grande amigo: “Layla and other Assorted Love Songs é o nome da maravilha concebida com tanto esmero e amor incontido.

Esta música tem duas partes mixadas: a primeira possui a sonoridade rock daquele ano (1970) e a segunda, emenda com solos/improvisos do piano do Bobby Witloock, emendando com acordes e solos lindíssimos dele e do Duanne Almann, que só alguém que está possuído de sentimentos tão nobres conseguem extrair, de melancolia e tristeza, o máximo de beleza possível .

Ainda bem que existem esses nossos heróis, pois assim a gente também se vinga um pouco das nossas desventuras.

Eles aproveitam e extraem da tristeza o máximo de beleza que podem: para aliviá-los da sua e da nossa (tristeza), além de nos confortar. E assim a gente se vinga dela.

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