Nem de perto nem de longe você é normal, Karnal

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista –

Caetano já disse que de perto ninguém é normal. Mas, às vezes, de longe também não, não é Karnal (perdão pela rima)?




Você gastou o verbo pela Internet, foi chegando devagarzinho. Há coisa de dois anos, poucos sabiam quem era você, Leandro Karnal. Mas a Internet foi lhe dando seus cada vez mais longos minutos de fama.

Pessoal da esquerda começou a gostar de ver aquele careca, parecido com o Alexandre Moraes, falar o contrário do hoje impoluto ministro do STF. Falar contra a perseguição ao PT, a Lula. Falar que Sérgio Moro, como presidente do Brasil, seria um novo Fernando Collor…

E lá foi você, Karnal, galgando a escadaria da fama. Da Unicamp para o mundo da blogosfera. E dá-lhe citação de Karnal. E dá-lhe frases de efeito contra o golpe e contra a crise ética que assolou o país.  Dá-lhe, Shakespeare, com Hamlet sendo transportado para os dias de hoje. “Ser ou não ser”.

E dá-lhe Karnal falando em ética. Quer ver só? “A vaidade é sempre forte. Disfarçada de humildade então, ela é avassaladora”.

Esta fui buscar no “Pensador”, tem várias sua lá. Como você pensa, Karnal! Mas prefiro ficar com Mário Quintana: “A modéstia é a vaidade escondida atrás da porta”.

Karnal, você, que tanto fala em ética, deve saber muito sobre vaidade, mais do que sabe sobre modéstia.

Eis, então, que surge o verdadeiro Karnal, jantando com aquele que mantém pessoas em cárceres para forçá-los a delatar  outros. Lá estão – sem provas que os incriminem, sem jantares com amigos ou com a família, sem liberdade, só porque algum delator ouviu falar que…

E você, Karnal, rindo e se divertindo, como Aécio Neves já o fez exatamente com aquele que você comparou ao tresloucado Collor.

Você, Karnal, se divertindo com aquele que, juiz, cometeu a ilegalidade de grampear ligações telefônicas de uma presidenta da República e de um ex-presidente. E que depois enviou, por baixo do pano, o resultado dos grampos para a Globo. Tudo para que Lula não fosse nomeado ministro por Dilma e, assim, passasse a ter foro privilegiado. O que seria totalmente legítimo.

Você, Karnal, começa o seu texto sobre o já famoso jantar regado a ótimos vinhos com um (frívolo? Pulsilânime? “dia intenso em Curitiba”. Sim, Karnal, talvez tenha sido o dia mais intenso de sua vida de “star”. Foi o dia em que você resolveu se desnudar eticamente. E se desnudou tanto que no final do seu texto no Facebook, que acompanha a foto com os “ótimos amigos, o juiz Furlan e o juiz Sérgio Moro”, você afirmou: “discutimos possibilidade de projetos em comum”.

Estou curioso, Karnal, pois só realizamos projetos com quem confiamos, com quem temos alguma unidade de pensamento e de ação. E fui buscar uma outra frase  sua Karnal: “Só tem amigo quem é bom. Se não for bom, terá apenas cúmplices”. Como você disse que o juiz Sérgio Moro é um ótimo amigo, tudo certo. Não é, Karnal?

PS: Muitos podem achar sem sentido eu gastar uma horinha do meu sábado para fazer esse texto, dando um pouco mais de destaque para quem acha feio o que não é espelho (Caetano, de novo), mas o mundo não é linear (e, no mais, e como disse o engenheiro do Havaí Humberto Gessinger: somos quem podemos ser). Certo, Karnal?

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