Gilberto lembrou que a mídia brasileira ainda se concentra em cinco grandes famílias, que se beneficiaram financeiramente de favores de governos autoritários. “Eles floresceram muito na ditadura, o que inibiu o surgimento de outras empresas”, afirmou.
O Fórum, segundo ele, é importante para criar uma rede de informações democráticas e multilaterais, e a internet é uma porta que se abre para democratizar a produção e o acesso à informação. Afirmou que os grandes jornais brasileiros formam um cartel e apresentam sempre manchetes muito semelhantes contra o governo brasileiro e sempre alinhadas com a visão americana.
“A mídia brasileira pinta os países dos Brics como sociedades não desenvolvidas. Os próprios brasileiros falam mal do Brasil, escondem os Brics e qualquer notícia sobre o desenvolvimento de novas sociedades”, afirmou.
O russo Pavel Negoitsa, diretor-geral do jornal Rossiyskaya, recolocou o tema do Fórum ao público, falando sobre a necessidade de ampliar a rede de produção de conteúdo gratuito para facilitar a circulação de informações entre os países dos Brics, “inspirado em pontos de vista humanitários, não para criar lendas, mas levantar o nível cultural não só da Rússia, mas tornando os conteúdos acessíveis a todos os países”.
Como exemplo, Negoitsa ressaltou a necessidade de chamar a atenção do mundo sobre o drama vivido pelos refugiados da Síria e a tragédia da destruição de patrimônios da Humanidade pelo Estado Islâmico. “É impossível derrubar os monumentos, isso é barbaridade, podemos levantar uma onda contra isso” conclamou.
Tudo, segundo ele, “depende de a gente ter um objetivo e falar sobre a questão humanitária”, elevar o padrão da educação e a importância do turismo: “Queremos que as pessoas circulem, conheçam as atrações de nossos países, como nossa Praça Vermelha e o Muro da China.” O banco de conteúdo, segundo ele, deve ser construído com o esforço de todos. Se isso não for feito, segundo ele, “nos próximos tempos estaremos separados uns dos outros.”
Longe das questões partidárias internas de seu país, o indiano Saurabh Shukla, editor-chefe da Newsmobile, abordou a relevância de um banco de conteúdo comum dos países do Brics para trocar informações importantes sobre questões que preocupam a todos, como a luta contra o terrorismo, as catástrofes naturais e as mudanças climáticas.
O chinês Gao Anming, editor-chefe do Diário Chinês, também fugiu dos assuntos internos para conclamar os países a “elevar sua voz no mundo” e evitar que suas culturas sejam apresentadas de forma negativa pelas agências do Ocidente. Ele não abordou – e nem foi perguntado sobre isso – as questões de censura à imprensa pelo Partido Comunista, que governa o país.
Os meios de comunicação, segundo o chinês, deveriam desempenhar um papel mais importante na promoção da cultura e da economia de seus países e buscar uma cooperação estreita, uma confiança mútua para mostrar ao mundo o que acontece, de forma objetiva, aos países dos Brics.
“Uma cooperação fará nossa voz mais forte, e os estereótipos do Ocidente não vão nos pressionar”, afirmou o jornalista chinês. Ele afirmou que as novas tecnologias de comunicação não devem ser vistas só como ameaças aos veículos tradicionais, pois também “possibilitam abranger o mundo com mensagens informativas plurais”.
“Estamos entrando em um novo mercado informativo. Temos de entender como agir nesse novo mundo, mudar nossa opinião sobre tecnologias, entender os erros passados e entrar no mercado mundial. Temos de usar a experiência uns dos outros, favorecer nosso avanço tecnológico”, afirmou Gao Anming.
Representando a África do Sul, a pesquisadora Ylva Rodny-Gumede, da Universidade de Joanesburgo, disse que o Fórum deve buscar sua relevância na discussão das realidades estruturais dos países e evitar “questões menos importantes”. Ela ressaltou, como exemplo, as diferenças entre o Brasil e seu país, a África do Sul. “O Brasil é um dos países com maior variedade de veículos de comunicação. Na África do sul, temos a herança colonial, racial, ainda muito recente.”