Abaixo-assinado: Globo e grande mídia, parem de desumanizar civis palestinos. Queremos paz.

Compartilhe:

EM FACE DOS INEGÁVEIS e horríveis crimes de guerra israelenses contra civis e dos preocupantes indícios de que Israel pretende agravar drasticamente a crise humanitária, nós, abaixo assinados, estamos conclamando que a mídia brasileira — a GloboNews, O Globo e a Globo, em particular — reconsidere sua legitimação editorial ao que observadores internacionais neutros afirmam ser crimes de guerra e crimes contra a humanidade perpetrados pelo governo de Israel.

Compartilhado de The Intercept Brasil

Você pode assinar essa carta clicando no botão no final da página.




Grande parte da imprensa brasileira tem distorcido consistentemente fatos importantes, ecoado acriticamente a propaganda israelense, minimizado ou excluído vozes palestinas importantes da cobertura e favorecido as vozes de comentaristas que tem um viés inegavelmente pró-Israel que muitas vezes cruza a linha do racismo, islamofobia e acaba em Fake News. Essa política editorial não é moral ou factualmente justificável diante de tais horrores e precisa acabar.

Nenhuma ação do Hamas, por mais deplorável que seja, justifica a selvageria que está sendo infligida ao povo inocente de Gaza. A oposição às políticas de Israel não é conivência com o assassinato de civis pelo Hamas, nem é inerentemente antissemita, como muitas vezes é falsamente sugerido no debate em curso nestes meios de comunicação.

Quando, na semana passada, Israel lançou seu quinto grande ataque contra 2,3 milhões de palestinos em Gaza, o tom da cobertura da mídia brasileira muitas vezes se desviou para a apologia direta dos crimes de guerra israelenses, incluindo o bombardeio indiscriminado de civis desarmados em Gaza, a desumanização do povo palestino e a deslegitimação de seu direito à liberdade.

A GloboNews tem se destacado pela veiculação reiterada de comentários lamentáveis e indefensáveis, além de distorções absolutas.

Na sexta-feira, 13 de outubro de 2023, o comentarista Jorge Pontual disse na GloboNews que “o dano causado pelos bombardeios a Gaza com a morte desses civis que foram chacinados pelo Hamas, não tem comparação. Tem que entender isso”. 

O “dano” que ele se refere inclui o assassinato de ao menos 2.215 palestinos e 8.714 outros feridos em ataques aéreos contra Gaza, onde não existem abrigos antibombas, pois Israel restringiu a entrada de materiais de construção há anos. Mais de 60% das vítimas são mulheres e crianças. Dezenas de palestinos foram mortos e centenas foram presos por Israel na Cisjordânia ocupada, que está sob um rígido bloqueio militar. Mesmo protestos palestinos pacíficos foram recebidos com balas israelenses.

Surgiram também inúmeros relatos e provas preocupantes de fontes confiáveis de que Israel tem alvejado profissionais médicos e jornalistas e bombardeou escolas, hospitais e prédios residenciais, massacrando famílias inteiras em um piscar de olhos. Esses são crimes de guerra indefensáveis, cometidos no contexto de décadas de ocupação ilegal, de acordo com o consenso internacional, que é descaradamente ignorado por Israel, pelos Estados Unidos e por alguns países aliados.

Manifestação pró Palestina, realizada na Avenida Paulista, região central da cidade de São Paulo, SP, neste domingo, 15. Foto: André Ribeiro/Futura Press/Folhapress
Manifestação pró Palestina, realizada na Avenida Paulista, região central da cidade de São Paulo, neste domingo, dia 15. Foto: André Ribeiro/Futura Press/Folhapress

Enquanto se prepara para uma invasão terrestre catastrófica, Israel ordenou que metade da população de Gaza fugisse de suas casas em 24 horas ou morreria. Esse é o maior deslocamento de palestinos desde a limpeza étnica de 700 mil palestinos em 1948, perpetrada por paramilitares israelenses e que ficou conhecida como a “Nakba”, ou a Catástrofe. Na sexta-feira, dia 13, Israel prometeu uma passagem segura para os civis que deveriam se deslocar, mas depois bombardeou repetidamente os refugiados aterrorizados, matando pelo menos 70 deles. A história parece se repetir diante de nossos olhos.

Israel e os Estados Unidos estão fazendo lobby para que o Egito estabeleça cidades com barracas para refugiados no deserto de Sinai, ao sul de Gaza, e permita que os palestinos evacuem através de sua fronteira. Observadores internacionais temem que esta proposta seja uma tática para tornar permanente a expulsão dos refugiados palestinos de sua terra natal histórica, como já aconteceu no passado.

“Uma realocação forçada sem nenhuma garantia de segurança ou retorno e sem atender às necessidades da população protegida corre o risco de ser considerada uma transferência forçada, o que é uma grave violação da lei humanitária internacional e codificada como um crime de guerra“, disseram as organizações de direitos humanos Oxfam, Mercy Corps, Plan International, Save The Children, o Conselho Norueguês de Refugiados e outras em uma declaração conjunta. “Os acontecimentos recentes indicam que o pior ainda pode estar por vir.” Declarações semelhantes foram feitas por representantes das Nações Unidas.

Enquanto essas organizações humanitárias pedem aos líderes mundiais que “exijam que o governo de Israel revogue imediatamente sua ordem” e “exijam que todas as partes concordem com o cessar imediato das hostilidades”, a GloboNews está favorecendo repetidamente um ponto de vista mais belicoso, que desconsidera descaradamente o direito internacional.

“A única saída agora é militar”, disse Pontual, ao vivo na GloboNews. “Então um cessar fogo agora seria um erro, seria a vitória do Hamas. E isso não pode acontecer”. A posição de Pontual resultaria na morte sem sentido de milhares de civis e arriscaria a eclosão de um conflito regional mais amplo, com consequências ainda maiores.

O teólogo e pesquisador Ronilso Pacheco apontou ainda que a GloboNews entrevistou fundamentalistas cristãos pró-Israel, como o Pastor Felippe Valadão, investigado pelo Ministério Público do Rio por ataques a religiões de matriz africana. 

Extremistas evangélicos acreditam que todos os judeus devem “retornar a terra prometida” a fim de cumprir a profecia bíblica que trará o Fim dos Tempos, no qual todos os judeus serão lançados ao Inferno enquanto cristãos ascenderão aos céus — uma visão de mundo extremamente antissemita que aparentemente é legitimada pela GloboNews.

Outro comentarista de longa data da GloboNews, Guga Chacra, fez comentários que desumanizaram os civis palestinos e deram a entender que as vidas israelenses têm um valor relativo maior, o que justificaria ataques desproporcionais de Israel a Gaza: “Morreram pessoas como todos nós“, disse Chacra, referindo-se às vítimas israelenses do Hamas. “O que o Hamas fez é diferente. O Hamas matou pessoas”. No momento de seus comentários, no domingo, dia 8, Israel já havia matado cerca de 700 pessoas em Gaza, incluindo dezenas de crianças.

O teor desumanizador dos comentários de Pontual e Chacra não podem ter lugar em um debate que respeite direitos e jamais seria permitido se suas posições fossem invertidas. Essas posturas estão em sintonia com as dos representantes do governo de extrema direita de Israel. 

“Estamos lutando contra animais humanos”, disse à imprensa o ministro da Defesa de Israel, Yoav Gallant, ao anunciar que estavam “impondo um cerco completo a Gaza. Não haverá eletricidade, nem alimentos, nem água, nem combustível, tudo será cortado”. Até mesmo os hospitais estão sem luz e água potável e os suprimentos estão mortalmente baixos — evacuar os milhares de pessoas feridas e doentes é impraticável, como disse o pessoal do Médicos sem Fronteiras.

Um grupo de especialistas das Nações Unidas rapidamente classificou que a política israelense “equivale a punição coletiva”, acrescentando que “é absolutamente proibida pela lei internacional e equivale a um crime de guerra“.

Na manha deste domingo (15), ocorrem novas manifestações em solidariedade ao povo palestino na Avenida Paulista (SP). Foto: Wagner Vilas/Agência Enquadrar/Folhapress
Na manha deste domingo, dia 15, ocorrem novas manifestações em solidariedade ao povo palestino na Avenida Paulista, em São Paulo. Foto: Wagner Vilas/Agência Enquadrar/Folhapress

O duplo padrão de moralidade nos jornais é evidente. “Os ataques da Rússia contra a infraestrutura civil, especialmente a eletricidade, são crimes de guerra. Cortar a água e a luz de homens, mulheres e crianças… são atos de puro terror”, argumentou a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, em outubro do ano passado sobre a Ucrânia, em um sentimento amplamente compartilhado por muitos dos que atualmente defendem Israel por fazer o mesmo. 

O presidente israelense Isaac Herzog — considerado a face “moderada” do governo — apresentou à imprensa uma janela para a mentalidade ideológica que justifica essas atrocidades na sexta-feira, dia 13: “É uma nação inteira lá fora que é responsável”, referindo-se a Gaza e os ataques do Hamas. “Não é verdade essa retórica de que os civis não sabiam, não se envolveram. Absolutamente não é verdade. Eles poderiam ter se levantado, poderiam ter lutado contra aquele regime maligno, que assumiu o controle da Gaza.”

O primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu prometeu transformar Gaza em uma “ilha deserta” e “mudar o Oriente Médio”. Ele acrescentou, em tom de ameaça, que “o que faremos com nossos inimigos nos próximos dias repercutirá entre eles por gerações“. Fica evidente que “os inimigos” são o povo palestino e não apenas a ala militar do Hamas.

Giora Eiland, general israelense aposentado e consultor de segurança, disse que Israel deve “criar um desastre humanitário sem precedentes” em Gaza. Ele ameaçou abertamente outra Nakba: “Somente a mobilização de dezenas de milhares e o clamor da comunidade internacional criarão a alavanca para que Gaza fique sem o Hamas ou sem pessoas. Estamos em uma guerra existencial”.

Quando a mídia normaliza e endossa acriticamente as ações militares de Israel, as justificando com um enfoque desequilibrado sobre o Hamas, ela está dando poder a essas pessoas para determinar o destino de todo um povo. Há alguma dúvida sobre até onde eles estão dispostos a ir?

Pedimos à mídia brasileira que seja responsável e acabe com essa loucura. Assim como durante a crise da Covid-19, este momento excepcional de calamidade exige que a imprensa se levante em nome da vida e da dignidade humana. É hora de deixar de lado as lealdades políticas, cessar o apoio acrítico ao assassinato em massa de civis e exigir o fim imediato da violência. Essa posição não é pró-Israel ou pró-Palestina — é pró-Humanidade.

Por favor, ouçam antes que seja tarde demais.

Assinado,
Todos os que exigem paz (a lista de assinaturas será atualizada em breve)

https://docs.google.com/forms/d/e/1FAIpQLSf0N7aA95SRzPu3Xafqj_wv8UCpe62J92UlLgbX9mbRgmXfCg/viewform?entry.1425735628=Aceito+receber+e-mails+sob+os+termos+de+servi%C3%A7o+do+Intercept+Brasil

O Bem Blogado precisa de você para melhor informar você

Há sete anos, diariamente, levamos até você as mais importantes notícias e análises sobre os principais acontecimentos.

Recentemente, reestruturamos nosso layout a fim de facilitar a leitura e o entendimento dos textos apresentados.
Para dar continuidade e manter o site no ar, com qualidade e independência, dependemos do suporte financeiro de você, leitor, uma vez que os anúncios automáticos não cobrem nossos custos.
Para colaborar faça um PIX no valor que julgar justo.

Chave do Pix: bemblogado@gmail.com

Posts Populares
Categorias