Abdias do Nascimento, militante na luta contra a discriminação e valorização da cultura negra

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De Todos pela Constituição, compartilhado de Jornal GGN – 

Em 1981, retorna ao Brasil. Funda, com a ajuda de Dom Paulo Evaristo Arns, em São Paulo, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro).

Foto Fundação Cultural Palmares

Abdias do Nascimento nasceu em Franca, no interior do Estado de São Paulo, em 14 de março da 1914. Neto de africanos escravizados e filho de pai sapateiro e mãe doceira, Abdias foi ator, diretor, dramaturgo, militante da luta contra a discriminação racial e pela valorização da cultura negra e senador. É considerado um dos maiores líderes do movimento negro do século XX.

Com apenas nove anos de idade Abdias começou a trabalhar entregando leite e carne nas casas de moradores mais abastados em sua cidade natal. Com onze anos, iniciou seus estudos na Escola de Comércio do Ateneu Francano, conciliando os estudos pela manhã, trabalho à tarde e um curso de contabilidade à noite. Era apaixonado pelas artes circenses e pelos festejos religiosos, que assistia acompanhado pela família. Iniciava-se ali a paixão pelo teatro.




Para deixar Franca, o jovem Abdias falsificou a data de nascimento em sua certidão e alistou-se no exército. Dessa forma, com apenas 16 anos, entrou para o Segundo Grupo de Artilharia Pesada de São Paulo. Na capital, além de seguir a carreira de militar, o jovem Abdias entrou para a faculdade de economia da Escola de Comércio Alvares Penteado.

Tendo sofrido inúmeras discriminações raciais ao longo da vida, em 1930, passa a integrar a Frente Negra Brasileira, a maior entidade de defesa dos direitos das pessoas negras da primeira metade do século XX, que realizava protestos em locais públicos e trabalhava na perspectiva de integrar o negro brasileiro na sociedade de classes. Combatiam em locais como hotéis, restaurantes e bares que impediam a entrada de negros. Nessa época, Abdias fez inclusive parte da comitiva que foi ao Rio de Janeiro protestar junto ao presidente Getúlio Vargas.

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Em 1936 Abdias desligou-se definitivamente do Serviço Militar, instituição com a qual estava em crise desde que começara a militar com o movimento negro. Ao sair do exército, passou a ser ferozmente perseguido pela polícia de São Paulo em razão de sua atuação na FNB. Resolve então partir para o Rio de Janeiro, onde aprofunda sua experiência com a cultura negra, passando a participar de mais manifestações culturais, e passa a conviver com poetas, músicos e escritores.

Com a instauração da ditadura do Estado Novo, as perseguições políticas se intensificaram e Abdias, após realizar protesto panfletário contra a presença da marinha norte-americana na Baia de Guanabara, é preso. Após a liberdade, volta a morar em São Paulo, trabalhando como contador no Banco Mercantil, e participa, em Campinas, do I Congresso Afro-campineiro.

Em pouco tempo, volta para o Rio de Janeiro, mas viaja com amigos artistas para países da América Latina, no início de 1940. Em viagem ao Peru, assiste ao espetáculo O Imperador Jones, de Eugene O’Neill (1888-1953), no qual o personagem central é interpretado por um ator branco tingido de negro. Refletindo sobre essa situação, comum no teatro brasileiro de então, propõe-se a criar um teatro que valorize os artistas negros. Nascimento permanece em Buenos Aires por um ano, estudando no Teatro Del Pueblo.

Quando volta ao Brasil, em 1941, é preso por um crime de resistência, anterior a sua viagem. Detido na penitenciária do Carandiru, atualmente extinta, funda o Teatro do Sentenciado e organiza um grupo de presos que escrevem e encenam os próprios textos.

Depois de solto, com ajuda de atores e intelectuais, cria o Teatro Experimental do Negro (TEN), que atua no Rio de Janeiro entre 1944 e 1968. Essa é a primeira companhia a promover a inclusão do artista afrodescendente no panorama teatral brasileiro. Com o objetivo de trabalhar pela valorização social do negro por meio da cultura e da arte, o TEM promove cursos de interpretação teatral, promove aulas de alfabetização e oficinas de iniciação à cultura geral. Abdias também dirige e protagoniza inúmeras peças de sucesso até 1968, quando parte para um exílio de 13 anos devido a perseguições políticas.

Dirige, entre 1948 e 1951, o jornal Quilombo, órgão de divulgação do grupo e de notícias de outras entidades do movimento negro. Realiza a Conferência Nacional do Negro, em 1949 e, o 1º Congresso do Negro Brasileiro, em 1950. Em 1961, publica o livro Dramas para Negros e Prólogos para Brancos, compêndio com peças nacionais que tratam da cultura negra, entre elas as montadas pelo TEN.

Durante o exílio, atua como conferencista e professor universitário, publica uma série de livros denunciando a discriminação racial e dedica-se à pintura e pesquisa visualidades relacionadas à cultura religiosa afro-brasileira. Também se aproxima de intelectuais e militantes negros, principalmente os ligados ao pan-africanismo, uma vertente mais nacionalista. Durante esse período participa de diversos encontros internacionais pan-africanistas.

Em 1981, retorna ao Brasil. Funda, com a ajuda de Dom Paulo Evaristo Arns, em São Paulo, o Instituto de Pesquisas e Estudos Afro-Brasileiros (Ipeafro). Aproxima-se de Leonel Brizola e funda no PDT a Secretaria do Movimento Negro. Em 1982, participando de suas primeiras eleições, Abdias foi eleito para o posto de Deputado Federal pelo Rio de Janeiro, sob a bandeira da luta contra o racismo, sendo o primeiro negro a assumir este cargo com essas bandeiras. Encontra forte resistência no Congresso, mas continua atuando em prol da causa da população negra, com foco na cultura e em projetos de reparações que englobam ações afirmativas e valorizativas. Em 1991 Abdias chegou ao Senado. Depois, foi nomeado Secretário de Defesa e Promoção da Igualdade Racial do Governo do Estado do Rio de Janeiro, quando Leonel Brizola era o governador. Após a morte de Darcy Ribeiro em 1996, assumiu outra vez a cadeira do Senado, permanecendo até 1998.

A partir dos anos dois mil, Abdias receberia uma porção de homenagens e premiações em reverência à sua trajetória de vida, como o Prêmio Toussaint Louverture pelos Extraordinários Serviços Prestados à Luta contra a Discriminação Racial, na sede da UNESCO em Paris.

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No dia 24 de maio de 2011, aos 97 anos, Abdias Nascimento faleceu vítima de uma pneumonia que se complicou e agravou problemas cardíacos. A herança de sua trajetória e ensinamentos se encontra presente na luta de cada um dos afrodescendentes, contra o racismo e a discriminação.

Fonte:

Museu Afro-Brasil – https://bit.ly/2rW0QW5

Enciclopédia Itaú Cultural – https://bit.ly/2OrJ58W

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