Por Paloma Vasconcelos, compartilhado de Ponte Jornalismo –
Jovem desapareceu na periferia de Jundiaí (SP) após ser abordado pela PM, segundo testemunhas; laudo técnico indica que viatura foi limpa antes de ser periciada
A viatura usada pelos PMs que teriam abordado Carlos Eduardo dos Santos Nascimento, o Cadu, 20 anos, na tarde de 27 de dezembro de 2019, na periferia de Jundiaí, interior de São Paulo, foi limpa antes de ser periciada no dia 6/1, indica laudo da Polícia Técnico-Científica. A perícia não conseguiu identificar quando exatamente o carro teria sido lavado, mas “constatou que o veículo se apresentava, tanto externamente quando internamente, com vestígio de limpeza recente.”
Segundo as investigações e relatos de testemunhas, o jovem estava em um bar, na rua Benedito Basílio Souza Filho, no bairro Jardim São Camilo, com mais quatro amigos quando foi abordado pela PM. Todos foram revistados, mas apenas Carlos Eduardo, único negro do grupo, teve o celular apreendido e foi levado pelos policiais.
A família do jovem já está há dois meses sem saber do seu paradeiro. O segurança Eduardo Aparecido do Nascimento, 52 anos, pai de Cadu, afirma à Ponte que desistiu. “Esperança de achar vivo a gente não tem mais, mas pelo menos queríamos achar o corpo para fazer um enterro digno. É o mínimo que o ser humano merece, ter um sepultamento digno”, lamenta.
A reportagem teve acesso ao processo do caso onde está o resultado do exame pericial feito na viatura usada pelos PMS 2º Sargento PM Anderson Torres, Soldado PM Júlio César de Lima e Soldado PM Denilson Lucas Diniz, que fizeram patrulha na região na data que Cadu sumiu.
Wesley Portugal, um dos advogados da família de Cadu, afirmou que a limpeza do veículo pode não significar muita coisa. “É um procedimento padrão limpar a viatura, então não podemos afirmar que a limpeza foi feita para esconder alguma coisa como também não podemos dizer que não foi feito isso”, explica o defensor.
O laudo pericial na viatura indiciou que dois pontos no porta-malas (na lateral direita e lateral esquerda aos fundos) deram positivo para o luminol, substância que reage ao contato com sangue.
Ainda assim, segundo o advogado, nenhuma digital ou mesmo outro vestígio de material genético de Cadu na viatura foi encontrado.
O pai de Cadu conta estar desanimado com os rumos das investigações e a falta de retorno da DIG. “Eles falam que precisam das testemunhas, como sempre, e elas não comparecem. Fica nessa daí, eles ficam fazendo diligência dali, diligência daqui, mas ficam de mãos atadas Os meninos já falaram que não vão falar, que têm medo, não adianta ficar insistindo”.
Eduardo prevê que agora, em março, a angústia da família vai dobrar, pois no dia 23 é aniversário do filho. “Mais difícil ainda é saber que no fim do mês ele faria 21 anos. Ele podia estar aqui com a gente, mas não sabemos de nada, não sabemos o que está acontecendo. O que a gente sabe é o que a polícia sabe, não aparece nada de novidade, o caso não anda”, critica.
As investigações do sumiço de Cadu também buscaram a localização dos celulares do jovem e dos três PMs. O resultado, porém, foi inconclusivo, já que, na data de 27 de dezembro, não há registros de localização no celular de Cadu.
“Não podemos afirmar se os celulares estavam em locais diferentes ou não, porque não houve registro. Pode ser que o celular estivesse desligado, mas isso também é impreciso”, explica o advogado Wesley Portugal.
Existem duas investigações paralelas sobre o desaparecimento de Cadu. Uma é coordenada pela Polícia Civil e está sendo feita pela Delegacia de Investigações Gerais de Jundiaí, a DIG. A outra é da própria PM, encabeçada pela Corregedoria da corporação.
Segundo o advogado da família de Cadu, o inquérito policial já ultrapassou o prazo para ser remetido ao Judiciário. “Isso é comum no dia a dia do Direito criminal. Quando acontece isso o delegado pede prorrogação, para concluir alguma diligência que foi solicitada, alguma perícia que ainda não chegou”.
A reportagem apurou a Corregedoria concluiu o trabalho e aguarda a finalização da apuração da Polícia Civil, que pode eventualmente pedir diligências para a PM e até alguma informação adicional ao órgão corregedor.
Por telefone, a Ponte procurou a DIG e o delegado Josias Guimarães, que está coordenando as investigações do desaparecimento de Cadu, mas, de acordo com a delegacia, ele não passará mais informações sobre o caso à distância, somente pessoalmente.
A reportagem também questionou, por e-mail, as assessorias da Secretaria da Segurança Pública, via terceirizada InPress, e da Polícia Militar, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.