Por André Shalders, publicado em BBC Brasil –
O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL) disse no começo da noite desta quinta-feira (11) que aceitará a indicação de seu pai, o presidente da República Jair Bolsonaro, para ser o embaixador brasileiro em Washington, nos Estados Unidos.
Mais cedo, o presidente disse que seu filho será o embaixador na capital americana, caso tenha interesse no cargo.
Caso a nomeação se confirme, Eduardo Bolsonaro terá de renunciar ao mandato de deputado federal.
Ele foi eleito para seu segundo mandato na Câmara nas eleições do ano passado – teve 1,8 milhão de votos em São Paulo. O parlamentar disse estar disposto a renunciar para cumprir “a missão” dada pelo pai.
“Se for da vontade do presidente, ele realmente, de maneira oficial, me entregar essa missão, eu aceitaria”, disse Eduardo em uma entrevista a jornalistas no escritório da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional (CREDN) da Câmara. Eduardo é o atual presidente da Comissão.
“Se o presidente Jair Bolsonaro me confiar esta missão, eu estaria disposto a renunciar ao mandato”, disse ele.
Na entrevista, Eduardo Bolsonaro disse várias vezes que a indicação ainda depende de uma conversa formal dele com o presidente da República e com o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo.
Se for realmente indicado, o parlamentar também precisará passar por uma sabatina no Senado.
Na diplomacia, é incomum que um novo embaixador seja anunciado antes que o governo do país onde ele trabalhará concorde com a nomeação. Essa aceitação do país estrangeiro é chamada no jargão da diplomacia de “agrément” (pronuncia-se “agremã”). Eduardo confirmou que o governo dos EUA ainda não foi consultado.
“Não, o governo dos Estados Unidos ainda não foi comunicado. Por isso que a gente está falando aqui na esfera da cogitação. Eu sei da agrément, é uma necessidade. E ainda tem a sabatina (no Senado)”, disse ele.
No começo da noite desta quinta, Jair Bolsonaro comentou o assunto com o ministro Ernesto Araújo, em uma transmissão de vídeo ao vivo no Facebook.
“Tem um papo aí de que o Eduardo Bolsonaro pode ser indicado para ser embaixador nos Estados Unidos, é isso mesmo?”, disse Bolsonaro. “É excelente nome, presidente. Seria ótimo”, diz Ernesto Araújo.
“O meu filho Eduardo, ele fala inglês, fala espanhol, há muito tempo roda o mundo todo. E goza da amizade dos filhos do presidente Donald Trump. Existe a possibilidade, mas depende do garoto. E depende do Senado aprovar também”, disse Bolsonaro.
Indicação no dia seguinte ao aniversário é ‘coincidência’
A indicação informal do presidente da República acontece no dia seguinte ao aniversário de 35 anos de Eduardo Bolsonaro, completos na quarta-feira (10). Ter pelo menos 35 anos de idade é um dos requisitos para ocupar o cargo de embaixador – o outro é ser brasileiro nato.
O cargo de embaixador do Brasil nos EUA está vago desde abril deste ano, quando o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, removeu o diplomata Sérgio Amaral do posto.
Eduardo Bolsonaro foi irônico ao dizer que a indicação no dia seguinte ao seu aniversário é uma “coincidência”.
“É uma coincidência. Assim como também foi uma coincidência o fato do vereador Carlos Bolsonaro ter 17 anos quando foi eleito vereador no Rio de Janeiro. Completou 18 anos em dezembro, tomou posse em janeiro. Parece que papai do céu fez a gente no ano certinho para completar as idades mínimas no futuro”, disse.
Olavo de Carvalho será ‘conselheiro’
No fim da entrevista, o deputado disse ainda que o professor de filosofia e guru de extrema-direita Olavo de Carvalho será “um conselheiro” caso ele assuma a embaixada. Carvalho vive atualmente em Richmond, no Estado americano da Virgínia – a cidade fica a cerca de duas horas de carro de Washington.
O próprio Olavo chegou a ser cogitado para ser o embaixador do Brasil nos EUA, no começo da gestão de Jair Bolsonaro.
“O Olavo de Carvalho certamente serve como um conselheiro. Eu não tenho um contato diário com ele. Nós não nos falamos por telefone diariamente. Mas certamente é uma referência, uma pessoa pela qual eu tenho carinho, e serve como conselheiro. Independente de estar dentro ou fora do governo, dentro ou fora de uma embaixada”.