Coleção que pertenceu ao professor da USP e autor de “Raízes do Brasil” ganha mostra na Unicamp, onde está guardada
Por Luiz Prado, compartilhado do Jornal da USP
Exposição do acervo de Sérgio Buarque de Holanda – Foto: Luiz Prado/USP Imagens
A entrevista começa com uma saudação: “Bom dia, Luccas, tudo bem?”. Segue-se a resposta: “Tudo bem, Luiz, e com você?”. É o suficiente para dar testemunho da atualidade do pensamento de Sérgio Buarque de Holanda e de sua visão a respeito do povo brasileiro. Nestas terras abaixo da linha do Equador, preterimos a formalidade de um Mr. Maldonado ou Mr. Prado e abraçamos a afetividade dos primeiro nomes. Queremos a pessoalidade, impulsionada pelas emoções. Somos homens cordiais, afinal.
Um dos principais intérpretes do Brasil, o historiador, professor, sociólogo, jornalista e crítico literário Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), que foi professor da USP e fundador do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da USP, é tema de uma exposição realizada na Biblioteca de Obras Raras (Bora) Fausto Castilho, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). A universidade comemora os 40 anos da chegada do acervo de Sérgio Buarque à instituição com uma mostra que recupera essa história e destaca a atuação intelectual e institucional do autor, para além de sua obra mais celebrada, Raízes do Brasil.
Com organização de Thiago Nicodemo, coordenador do Arquivo Público do Estado de São Paulo e professor da Unicamp, com mais de 20 anos de estudos sobre Sérgio Buarque de Holanda, e Luccas Maldonado, doutorando pela mesma instituição sob orientação de Nicodemo, o objetivo da exposição, conforme explica o professor, é revelar ao público a potencialidade do acervo legado pelo homenageado.
Segundo Nicodemo, a ideia da mostra é entender o que a coleção de livros, periódicos e documentos evidencia do homem que os reuniu ao longo de décadas de trabalho. “É uma biblioteca de profissional”, afirma o professor. “É a biblioteca de um acadêmico, de um professor de História preocupado com a institucionalização do campo e obcecado por reescrever suas obras. É uma biblioteca acadêmica que acompanha o desenvolvimento de suas principais obras depois de Raízes do Brasil.”
Marcada pelas viagens que Sérgio Buarque realizou e pelos temas sobre os quais se interessou, a coleção é um “laboratório de humanidades”, conforme gosta de pensar Nicodemo. Um espaço para produzir ciência, no qual os livros eram tratados como instrumentos de trabalho. E também um mapa das redes pessoais e institucionais pelas quais trafegou o intelectual ao longo da vida, segundo revelam as dedicatórias dadas e recebidas nas páginas de rosto das obras.
Mas, além de tudo isso, o acervo do historiador carrega uma história própria, que envolve disputas universitárias, orgulho da terra natal e os efeitos deletérios e prolongados da ditadura militar.
O professor Thiago Nicodemo – Foto: Francisco Emolo/USP Imagens
Sombras da ditadura
Logo após o falecimento de Sérgio Buarque, em 1982, sua coleção foi alvo de uma disputa institucional que chegou a ganhar as páginas dos jornais. Maria Amélia de Holanda, viúva do intelectual, foi procurada por colegas da USP interessados em levar o acervo para a Universidade. Pouco tempo depois, a Unicamp manifestou a vontade de adquirir os livros, documentos e mobiliário do professor. A Universidade de Brasília (UnB) também teria contatado a família, sem grandes chances de sucesso, já que, conforme Maria Amélia contou ao jornal O Estado de S. Paulo de 30 de setembro de 1982, os filhos só aceitariam vender os livros para uma universidade paulista, “como era o pai, que se orgulhava disso”.
Apesar dos laços com a USP, onde lecionou de 1956 até 1969 e criou em 1962 o Instituto de Estudos Brasileiros (IEB), a universidade sediada em Campinas levou a melhor. Oficialmente, a Unicamp teria apresentado à família condições físicas e técnicas favoráveis para a salvaguarda do material. Mas, segundo o campineiro Correio Popular de 27 de maio de 1983, a preferência de Sérgio Buarque era mesmo que sua biblioteca ficasse na Unicamp. Assim, por 100 milhões de cruzeiros, na época, a cidade de Campinas tornou-se a guardiã dos cerca de 10 mil volumes da coleção, entre livros e periódicos, incluindo 665 obras consideradas raras.
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Parte da biblioteca de Sérgio Buarque de Holanda, sob a guarda da Biblioteca de Obras Raras da Unicamp – Foto: Luiz Prado / USP Imagens
Trata-se de uma coleção centrada sobretudo nas humanidades: história, sociologia, antropologia, literatura e filosofia. Sessenta por cento desse acervo encontra-se em língua portuguesa, dos quais 80% dos volumes contêm dedicatórias que revelam amizades mais ou menos inesperadas, com nomes importantes da cultura brasileira, como Mário de Andrade, Antonio Candido e Gilberto Freyre.
Há coleções raras de revistas modernistas, como a Klaxon e a Estética, a primeira edição de Raízes do Brasil, o ensaio de semiótica Il Cannocchiale Aristotelico, publicado em 1670, e a coleção de narrativas de viagens compilada por Giovanni Battista Ramusio e editada em Veneza no século 16, da qual só existem outros seis exemplares no mundo. O conjunto inclui também manuscritos e datiloscritos de Sérgio Buarque, como o de Monções (1945). Correspondem a um grupo de documentos ainda aguardando estudos genéticos mais detalhados, sobretudo quando se reconhece o costume persistente que o autor teve ao longo da vida de reescrever seus livros, oferecendo ao público edições muito distintas de suas obras.
Primeira edição da revista modernista Klaxon, com Sergio Buarque credito como representante carioca da publicação. Maio de 1922 – Foto: Luiz Prado / USP ImagensLivros Raízes do Brasil – Foto: Luiz Prado / USP ImagensLivro de visitas da inauguração da Biblioteca Sérgio Buarque de Holanda. As primeiras assinaturas são da família do professor. – Foto: Luiz Prado / USP ImagensDedicatória de Mário de Andrade para Sérgio Buarque em Há uma gota de sangue em cada poema, escrito sob o pseudônimo Mario Sobral – Foto: Luiz Prado / USP ImagensDedicatória de Antonio Candido para Sérgio Buarque, na qual Candido manifesta a influência de Sérgio em sua obra – Foto: Luiz Prado / USP ImagensUma dedicatória cordial de Carlos Drummond de Andrade para Sérgio Buarque – Foto: Luiz Prado / USP Imagens
Na análise de Maldonado, a documentação envolvendo a disputa pelo acervo de Sérgio Buarque entre USP e Unicamp revela a passividade da Reitoria e dos professores da USP em promover sua compra. Do lado da Unicamp, por sua vez, a atuação teria sido mais decidida, com destaque para o papel do professor José Roberto do Amaral Lapa, ex-orientando de Sérgio Buarque. “Quando a Unicamp comprou o acervo, havia uma tentativa de criar uma espécie de novo IEB ali, um projeto que foi bem enxergado pelos familiares do Sérgio Buarque”, conta Maldonado.
Outro fator importante para decidir o futuro da coleção teria sido a maneira como o intelectual deixou a USP em 1969, aposentando-se em protesto e solidariedade aos amigos cassados pelo Ato Institucional Número 5 (AI-5), baixado pelo governo militar. “Ele se frustrou muito com a Universidade naquele momento. Então, uma memória traumática perpassa os últimos anos de Sérgio e talvez a Unicamp se colocasse como uma nova possibilidade aos olhos da família.”
Nicodemo concorda com a hipótese e salienta que colegas professores e orientandos de Sérgio Buarque também fomentavam, durante os anos 1970, a ideia de que a Unicamp poderia ser uma alternativa a uma Universidade de São Paulo cada vez mais fechada e marcada por perseguições e censuras. Isso teria contribuído para a decisão da família. “Não temos como afirmar, mas o fato de esse legado ter ido para a Unicamp pode ter a ver com um gosto amargo deixado pela forma como Sérgio Buarque deixou a USP ”, especula o professor.
O início da transferência do acervo para a Unicamp se deu entre 1983 e 1984 e sua abertura para o público aconteceu em 12 de agosto de 1986, com a presença de Maria Amélia e dos filhos de Sérgio Buarque. A totalidade dos documentos, contudo, levou décadas para chegar à universidade. Segundo Nicodemo, a última remessa data de 2009. Hoje, esse conjunto composto com livros, arquivos, microfilmes, documentos e mobiliário de escritório é guardado por duas instâncias da Unicamp: o acervo bibliográfico e o mobiliário são mantidos em uma sala exclusiva na Bora, enquanto a documentação está sob responsabilidade do Arquivo Central do Sistema de Arquivos (Ac/Siarq).
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Exposição 40 Anos do Acervo de Sérgio Buarque de Holanda na Unicamp – Foto: Luiz Prado/USP Imagens
Viajante, intelectual e homem de instituições
Essa narrativa da chegada do acervo de Sérgio Buarque à Unicamp é a primeira parada da exposição sediada na Bora. Trata-se de uma história contada através dos documentos originais trocados entre a universidade e a família do intelectual, incluindo notícias dos jornais da época e o próprio contrato de venda firmado entre a instituição e os herdeiros de Sérgio Buarque.
O segundo momento da mostra evidencia duas viagens internacionais determinantes para o percurso intelectual de Sérgio. A primeira delas aconteceu em 1929, para Berlim, na Alemanha, quando o jovem jornalista foi enviado como correspondente de O Jornal e permaneceu na Europa por um ano e meio. Encarregado de falar sobre o comunismo e as consequências da crise de 1929 nos países do centro europeu, Sérgio Buarque aproveitou também para realizar uma entrevista com o então recém-ganhador do Prêmio Nobel Thomas Mann, conforme a exposição destaca reproduzindo a primeira página do texto do brasileiro.
Artigo escrito por Sérgio Buarque sobre Thomas Mann para a edição de 16 de janeiro de 1930 de O Jornal – Foto: Luiz Prado / USP Imagens
Mas determinante mesmo nesse período foi a ampliação de seu repertório cultural. Na Alemanha Sérgio Buarque teve contato com o pensamento de Max Weber, um dos fundadores da sociologia, fundamental para a redação de Raízes do Brasil, livro que começa a redigir ainda em solo europeu. Foi um período muito frutífero para o desenvolvimento intelectual do autor, mas que não é registrado por sua biblioteca, salienta Nicodemo, já que a itinerância de Sérgio o impedia de manter um acervo regular. Segundo o professor, a coleção mantida pela Bora começa a ser reunida exatamente após esse período na Alemanha.
A outra experiência no exterior destacada pela mostra corresponde à estadia de Sérgio Buarque na Itália, entre 1952 e 1954, quando ainda era diretor do Museu Paulista e já se destacava como uma figura central na cultura brasileira. Enquanto assumia uma cátedra de História Brasileira em Roma, o intelectual estudou nos arquivos italianos sobre o arcadismo, o que resultaria na obra póstuma Capítulos de Literatura Colonial, lançada em 1991, com organização do amigo Antonio Candido.
Quanto à trajetória intelectual de Sérgio Buarque, a exposição busca mostrar sua abrangência para além de Raízes do Brasil, ao lado das interlocuções que estabeleceu ao longo da vida. Começa resgatando as vinculações modernistas do professor, que foi um dos organizadores da Semana de 22, ficando de fora das atividades apenas porque esteve retido no Rio de Janeiro, tendo ficado de exame na Faculdade de Ciências Júridicas e Sociais, conforme conta Nicodemo.
De acordo com o organizador da exposição, Sérgio Buarque foi uma ponte entre os intelectuais de São Paulo e do Rio de Janeiro no início dos anos 1920, circulando entre nomes como Mário de Andrade, Manuel Bandeira e Prudente de Moraes Neto, com quem organizaria a revista Estética entre 1924 e 1925. Ele também aparece como representante carioca da lendária Klaxon, outra publicação modernista.
Durante esse período de juventude, a atividade jornalística e de crítica literária ocupa a maior parte da biografia do jovem Sérgio Buarque, produção que seria mais tarde reunida na publicação Cobra de Vidro (1944). É o momento também do estabelecimento de amizades com personalidades que se tornariam essenciais na vida cultural do País, cujos traços materiais aparecem nas dedicatórias dadas e recebidas nos livros de seu acervo.
Gilberto Freyre é um desses interlocutores com quem Sérgio Buarque estabeleceria uma relação marcada por aproximações e afastamentos. Outra figura de destaque é Afonso de Taunay, professor de Sérgio Buarque na juventude, com quem o homenageado manteria uma recorrente relação de sucessões: primeiro, Sérgio Buarque assumiria o lugar de Taunay na direção do Museu Paulista, em 1946; em seguida, ocuparia seu assento na Academia Paulista de Letras, em 1958. Uma fotografia reunindo ambos, cedida para a mostra pelo Museu Republicano de Itu, parte do Museu Paulista (MP) da USP, é simbólica da aproximação de ambos. A mostra sublinha ainda a internacionalização das relações de Sérgio Buarque, através de seus diálogos com os historiadores franceses da escola dos Annales Lucien Febvre e Fernand Braudel. Um convite de Fevbre para que Sérgio dê aulas na prestigiosa Sorbonne atesta a admiração internacional do professor.
Dedicatória de Gilberto Freyre em Ordem e Progresso, de 1959 – Foto: Luiz Prado/USP Imagens
Carta do historiador francês Lucien Febvre redigida em 1948, convidando Sérgio Buarque a lecionar na Sorbonne – Acervo AC/SIARQ
O último eixo da exposição enfoca a atuação institucional de Sérgio Buarque, como acadêmico, diretor e fundador de importantes instituições de ensino e pesquisa. Como Nicodemo frisa, Sérgio Buarque foi um dedicado defensor da institucionalização de sua área e parte importante de sua trajetória, ainda que normalmente negligenciada, envolve sua dedicação docente na USP e a permanência em órgãos públicos de preservação, ensino e pesquisa.
Os curadores destacam sua passagem pelo Museu Paulista, sendo o terceiro diretor da instituição, substituindo Taunay e sendo responsável, conforma aponta Maldonado, por encaminhar o museu para uma vocação de pesquisa. Durante sua gestão, explica o doutorando, o Museu Paulista ainda não havia sido incorporado à USP (isso só aconteceria em 1963), e era vinculado à Secretaria de Cultura do Estado de São Paulo. Sérgio Buarque expandiria a vocação temática do museu, criando seções especializadas em etnologia, numismática e linguística. Ele também retomaria a publicação da Revista do Museu Paulista, interrompida em 1938. “Sua importância como diretor do Museu Paulista foi começar a convertê-lo de um espaço de memória institucional das elites paulistas para um espaço de pesquisa”, analisa Maldonado.
Sérgio Buarque deixaria o museu para assumir a Cátedra de História da Civilização Brasileira na então chamada Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras (FFCL) da USP, em 1956, primeiro como professor interino e, a partir de 1958, como titular, após ser aprovado em concurso. Na Universidade, criaria o IEB em 1962, sendo seu diretor até 1964.
Os organizadores da exposição ainda fizeram questão de colocar em evidência Maria Amélia, esposa de Sérgio Buarque. Atuando ora como pesquisadora, acompanhando e auxiliando o esposo em trabalhos de campo, ora como intérprete e curadora da própria obra de Sérgio Buarque, Maria Amélia foi responsável por disponibilizar textos inéditos a pesquisadores como Antonio Candido e José Sebastião Witter, que ganhariam edições póstumas como O Extremo Oeste (1986) e Capítulos de Literatura Colonial (1991), cujos originais estão em exibição na Bora.
Sérgio Buarque durante concurso para Cátedra de História da Civilização Brasileira na USP, em 1958 – Foto: A Gazeta / Acervo AC/SIARQ
Carta de Maria Amélia ao então reitor da Unicamp, professor José Aristodemo Pinotti, sobre o interesse da universidade pelo acervo de Sérgio Buarque – Foto: Luiz Prado/USP Imagens
Carta de Antonio Candido a Maria Amélia falando sobre originais que se tornariam o livro O Extremo Oeste, publicado postumamente em 1986 – Acervo AC/SIARQ
Esse panorama é um convite para pesquisadores enxergarem as potencialidades do acervo mantido pela Unicamp, explica Nicodemo. Fala menos do homem Sérgio Buarque do que do “laboratório de ciências humanas” reunido ao longo de sua vida. Críticas genéticas de suas obras e o próprio desenvolvimento de sua biblioteca são algumas das sugestões do curador para interessados em desbravar o pensamento desse incansável reescritor da própria obra que foi Sérgio Buarque.
“O meu pai era paulista…”
Interessado, num primeiro momento, no período colonial da história brasileira, Sérgio Buarque escreveu Raízes do Brasil (1936), Monções (1945) e Caminhos e Fronteiras (1957). Depois ele se dedicaria ao Brasil independente, escrevendo Do Império à República (1972). São obras que podem ser vistas, conforme aponta Nicodemo, como reescritas e reelaborações contínuas, seja em novas edições ou mesmo novos títulos, de temas que obcecavam Sérgio.
É em Raízes do Brasil, seu livro mais famoso (enorme fama de que Sérgio Buarque se ressentia um pouco, ciente da qualidade de seus trabalhos posteriores), que o autor apresenta a ideia de homem cordial como uma categoria fundamental para entender o povo brasileiro. Formulada já na primeira edição da obra, em 1936, representa uma herança dos hábitos do patriarcado da família rural colonial no mundo institucionalizado do Estado, conforme explica Nicodemo.
“Essa imagem remete à figura do senhor de engenho que lidava com a política do mesmo jeito com que tratava a família. As relações de amizade e compadrio predominavam e Sérgio Buarque defende que esse traço permaneceu no Brasil durante seu processo de estruturação como nação e Estado.” Seria uma herança perniciosa, transmitida dos senhores de engenho para seus filhos, que no século 19 se tornariam bacharéis, juízes e ocupantes de cargos públicos e perpetuariam esses hábitos dentro do Estado. “A cordialidade é um descompasso de tempos entre uma coisa arcaica que permanece no presente”, sintetiza o professor.
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Maldonado nuança a interpretação. Conforme conta o doutorando, a cordialidade exprime nossa maneira de ser, o que nos distingue de outros povos. “A palavra cordial vem de ‘coronário’. O homem cordial é cardíaco, no sentido de que é movido pelo coração: ele ama com o coração e odeia com o coração.” Segundo o pesquisador, falar nessa cordialidade é afirmar que os sentimentos permeiam nossa sociabilidade muito mais do que a racionalidade.
O tratamento informal pelo primeiro nome, ilustrado pelo início deste texto, é uma mostra dessa cordialidade na prática cotidiana. No final das contas, essa é uma característica com aspectos positivos e negativos, explica Maldonado. “Ela cria algumas dificuldades, como a separação entre público e privado e com os limites da socialidade.”
Depois de tantos anos dedicados a interpretar o Brasil, nos últimos anos de vida o intelectual continuou incansável na produção de manuscritos que seriam publicados postumamente. Em 1979, recebeu o Prêmio Juca Pato e em 1980, o Jabuti. Nesse período, também participou da fundação do Partido dos Trabalhadores (PT). Morreu em 24 de abril de 1982, em São Paulo. Casado com a escritora Maria Amélia de Holanda, deixou sete filhos, dentre eles o músico, compositor e escritor Chico Buarque de Holanda, a cantora e compositora Miúcha e a cantora, compositora e produtora Ana de Holanda.
“O argumento da exposição é: por que Sérgio Buarque de Holanda é importante? Qual é sua validade epistemológica? Qual a validade de sua obra e, no limite, por que guardar seus itens”, explica Maldonado, resumindo o trabalho dos curadores.
A mostra 40 Anos do Acervo de Sérgio Buarque de Holanda na Unicamp vai até 29 de setembro. As visitas são gratuitas e acontecem de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas. Encerrando a exposição, no dia 28 de setembro, a partir das 15 horas, haverá um evento com a participação do professor Thiago Nicodemo, a professora da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP Lilia Schwarcz e o professor da Universidade de Princeton, nos Estados Unidos, Pedro Meira Monteiro. A atividade será na Biblioteca de Obras Raras (Bora) Fausto Castilho, da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).
Foto: Divulgação
A Biblioteca de Obras Raras (Bora) Fausto Castilho fica na Rua Sérgio Buarque de Holanda, 441, na Cidade Universitária Zeferino Vaz, em Campinas. Mais informações pelo telefone (19) 3521-6464, whatsapp (19) 98415-0925 e pelo e-mail bora@unicamp.br.
Para saber mais
O canal do Sistemas de Arquivos (Siarq) da Unicamp disponibilizou uma série de vídeos com depoimentos sobre Sérgio Buarque e o registro da abertura da exposição 40 Anos do Acervo de Sérgio Buarque de Holanda na Unicamp. A playlist traz também o registro da 5a Semana Sérgio Buarque de Holanda, realizada na universidade em 1986. Os arquivos estão disponíveis neste link.