Achados e perdidos da rua

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Por Carlos Eduardo Alves –

Na barraca de pastel da feira, uma moça dá o tradicional beijo solitário dos paulistas em uma amiga e fala o conhecido “só te vejo no face”. O papo segue, e enquanto mastigo algo que lembra vagamente palmito ouço a historinha. O namorado voltou para a terra natal por causa da “crise” e ela sente muita saudade. O rapaz mora agora em zona rural em que o celular quase não pega. A amiga pergunta como eles se comunicam então.




— Por carta. Ele me escreve sempre e eu respondo assim que recebo.
A amiga faz cara de incrédula e a moça mostra uma carta que carrega, “a última”. De relance, dá para notar uma letra tosca que mantém o amor vivo. O pior dia é o sábado. Lembra os passeios que faziam por São Paulo.

— Quando estou de folga, fico em casa. A minha patroa é muito boa, vê que eu estou triste e vem sempre fazer um agrado.

A amiga pergunta se a menina nordestina apaixonada vê solução para aquela saudade. Talvez se ele arrumar um emprego para voltar. Teme a fidelidade do namorado, Afinal “você sabe como é homem”.

Duas semanas atrás, tive um encontro ocasional tristíssimo naquela mesma feira com um amigo de adolescência que não via há uns 30 anos, Está doente. A vida é complexa. Hoje, peguei minha sacola com as frutas e fui embora pensando no amor que resiste manuscrito.

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