Por Carlos Eduardo Alves, Facebook –
Estação Sé do Metrô, embarque da linha Azul. Um celeiro de treinamento de craques se houvesse um esporte dedicado ao ato de desferir cotoveladas. Sobrevivo inteiro e vejo uma mulher que conversava com a amiga ao passar a catraca. Parecia que havia chorado um pouco antes.
Mais ou menos 30 anos, vestida como uma secretária elegante, saltão e esmalte red. Bonita, mas com expressão triste. As duas sentam de costas para mim e ouço a conversa. A com cara de choro reclama da vida. Está cansada do chefe, da correria cotidiana, do casamento, fala do filho pequeno que fica em casa com a avó. Semana passada, faltou dois dias para cuidar do filho doente. A amiga ouve tudo e faz aquela observação que castra qualquer possibilidade de diálogo inteligente:
— É, amiga, é complicado.
A moça com jeito de secretária, porém, insiste na lamúria:
— Na verdade, eu não deveria ter casado. Alguma coisa me dizia que eu teria que estudar mais, ser independente, mas quando a gente é apaixonada não pensa.
A interlocutora diz que também se arrepende de ter casado. Não dá para ouvir a justificativa. A moça das queixas diz que gosta do marido, mas não é mais apaixonada e que vive com a sensação terrível de enxergar um futuro trancada dentro de casa, bem distante do que planejara para a vida.
Desço na estação Saúde pensando em como muitas vezes é inútil planejar o futuro. E em como deve ser angustiante, por comodidade ou necessidade, manter uma relação afetiva quando falta aquela acelerada no coração ao se ler o nome da pessoa que gostamos na hora em que toca o celular.
Enquanto me perco na saída da estação, vejo a mulher. Com uma criança de uns dois anos no colo e abraçada ao marido.
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