Achados e perdidos da rua

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Por Carlos Eduardo Alves, Facebook – 

Numa ladeira da Aclimação, o ônibus demora uma eternidade. Erasmo fosse, um cigarro e meio não dava. No meio de adolescentes indo ou vindo da escola, um casal de velhinhos. Ela toda arrumada, salto alto e maquiada. Ele, de tênis. Calor e sol insuportáveis, nenhum abrigo. Uma menina no celular pontua um palavrão a cada três palavras para reclamar do atraso.




De repente, um fusca caindo aos pedaços tenta valentemente encarar a subida; A velhinha se anima:
— Olha, Arnaldo. É igual ao que usamos na lua de mel em Poços de Caldas.

Jeito de ranheta, o marido discorda:
— Imagina, o meu era novinho, não essa lata velha aí.

A aparente falta de cordialidade é superada na frase seguinte:
— Eu jamais usaria uma coisa dessas para levar o meu amor.

A mulher dá um beijinho no rosto do marido e o ônibus chega. Sentam e começam a falar do filme que irão ver. O casal, pela conversa, vai toda segunda ao cinema.

No caminho, ele reclama do valor da aposentadoria, fala que está preocupado com o filho que ele desconfia estar bebendo demais e ela revela uma crença sem limites em Deus.

Já na Paulista, a senhora mostra uma alegria infantil:
— Arnaldo, até que enfim você concordou. Eu adoro filme de amor.

Arnaldo sorri, meio envergonhado. O casal desce. Algumas décadas depois de Poços de Caldas, parecem namorados e somem na avenida apressada. De mão dadas.

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