Por Alyne Azuma, no Facebook –
Minha escolarização começou muito cedo, acima de tudo, porque minha mãe precisava trabalhar nos dois empregos que nos sustentaram por tantos anos. Passei a infância frequentado as escolas onde ela e minhas tias davam aula. Ajudei secretárias, diretoras, professoras, bibliotecárias, serventes e cozinheiras a fazer tudo – de arrumar almoxarifado a lavar louça, passando por colocar arquivos em ordem e mimeografar provas.
E foi graças às escolas públicas da rede municipal, da estadual, à delegacia de ensino onde minha mãe também trabalhou e ao sindicatos dos professores que tive acesso a coleções inteiras de livros, ingressos para peças de teatro e museus e até a uns passaportes da alegria para o Playcenter – um luxo na minha infância.
Depois disso, dei aulas de inglês durante meus quatro anos de faculdade, fiz muitos amigos na área de educação, fui trabalhar no mercado editorial e ainda me assanho a dar umas oficinas quando sou convidada. Mas acima de tudo, sou e sempre serei aluna.
Pensar que um espaço tão importante quanto a escola está sendo destruído, deslegitimado e corre o risco de ser esvaziado por um projeto de ensino a distância que tanto vai prejudicar crianças, famílias e comunidades me enche de tristeza e preocupação. Assim como pensar que a universidade já está sendo tão atacada. E, principalmente, pensar que os professores, que enfrentam tantas dificuldades para fazer seu trabalho, agora têm sua integridade física violada e sua idoneidade questionada me enche de indignação.
Eu já disse isso antes, mas sou repetitiva: não importa a condição social nem os privilégios, se a gente deixar algo tão grave acontecer, todo mundo vai herdar o mesmo país: sem educação básica, sem história, sem pesquisa, sem informação, sem ferramentas para processar as informações que se tem e sem nenhuma empatia.