Acordei pensando em Waly Salomão.

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Por Ademir Assunção, jornalista e poeta

Lembrei de quando o conheci pessoalmente. Foi na Bienal de São Paulo, em 1985. A mesma em que John Cage fez uma performance. Vi Cage de pertinho. Minha timidez e meu inglês mequetrefe não me permitiram chegar mais perto, dizer-lhe da minha admiração pelo livro “De Segunda a Um Ano”, que Rogério Duprat traduzira, com revisão de Augusto de Campos, e que eu acabara de devorar. Não sei se é impressão minha, mas parece que era mais fácil nos aproximarmos daqueles que admirávamos, mesmo eu sendo um quase desconhecido na época. Eles não eram deuses. Não estavam sempre cercados por um cordão de isolamento formado por empresários, produtores, agentes. Mas isso é outro capítulo e acabei me desviando do assunto: Waly.




Nós já havíamos trocado algumas cartas. Cartas, sabem o que é isso? Era o começo do ritual de aproximação. Não era como acontece hoje nas redes sociais. Ninguém chegava dizendo: “Oi, sou seu fã tô te mandando o pdf do meu livro novo leia comente divulgue curta meus posts etc etc etc…”

Mas voltando novamente ao assunto. Waly havia me escrito um bilhete: “estarei na Bienal. Apareça. A ponte está feita.”

Entrei no prédio do Ibirapuera e em pouco tempo vi um cara grandalhão, com sua boca enorme, falando pelos cotovelos, entusiasmado, sempre.

Tomei coragem, bati nas suas costas e falei: “Oi, Waly, sou Ademir Assunção”.

Uns 40 minutos depois eu disse: “Tchau, Waly”.

Não consegui falar muito mais que isso. Waly falou. Falou, falou, falou, sempre sorrindo, gargalhando até. Era engraçado. E tudo o que ele falava era muito interessante. Tudo muito louco e transbordante de alegria, entusiasmo, paixão.

Escutei tudo. E saí satisfeito do encontro.

Eu acabara de conhecer Waly Salomão, com quem estive pessoalmente mais umas duas ou três outras vezes. A última, que me lembro, no lançamento do livro “Lábia”. Nessa ocasião, eu estava acompanhado de Boris Schnaiderman e Jerusa Pires Ferreira.

Faz tempo. E parece que as pontes eram construídas com muito mais facilidade e alegria. Com respeito, com admiração, mas sem cerimônias.

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