Por René Ruschel, publicado em Carta Capital –
Ex-governador paranaense está em segundo lugar nas pesquisas para o Senado, mas nova denúncia fragiliza ainda mais o tucano
As denúncias de corrupção e malversação do erário contra o ex-governador do Paraná e agora candidato ao Senado, Beto Richa, PSDB, se multiplicam em progressão geométrica. O tucano, que já foi considerado pelo amigo e senador Aécio Neves como “um dos mais brilhantes políticos do País”, vive, tal qual seu parceiro das “geraes”, dias de angústia.
Por enquanto, ele está em segundo lugar na corrida para o Senado, atrás de Roberto Requião, do MDB. Segundo o Ibope, o ex-governador tucano tem 30% dos votos. Alguns aliados temem, porém, que o dique de contenção da ética não suporte blindá-lo até o 7 de outubro, data do primeiro turno.
Seu governo ficou marcado por uma série de irregularidades. Foi condenado em segunda instância pelo Tribunal de Justiça do Paraná e, na quinta-feira 23, o PSOL entrou com uma medida para impugnar sua candidatura. Foge das garras do juiz Sérgio Moro em uma operação onde seu chefe de gabinete foi flagrado em conversa gravada quando negociava propina para favorecer a construtora Odebrecht. Teve o nome citado em diversas delações premiadas.
Mas seu calcanhar de Aquiles chama-se Maurício Fanini, ex-diretor da Secretaria de Estado da Educação e um dos seus homens de confiança no governo. Em depoimento à 9ª Vara Criminal, em Curitiba, Fanini voltou as baterias contra o tucano e sua mulher, Fernanda Richa. Agora, acusou o ex-governador de “enriquecimento ilícito”.
Segundo o delator, parte dos recursos desviados das escolas era para financiar campanhas eleitorais do PSDB e o terço final iria para o ex-governador. Afirmou que prestava conta da arrecadação mensal das propinas ao próprio Richa. “Eu era parte de uma engrenagem que arrecadava dinheiro, que arrecadava propina para o governador, para o sistema de gastos de campanha e também para enriquecimento ilícito dele próprio”, disse Fanini. “Eu servi a um senhor só, que era o governador Beto Richa”.
Confirmou que sua relação com o tucano era “de muitos anos” e que a engrenagem de corrupção da qual fazia parte era “pequena perto de outras engrenagens do governo que eu tenho conhecimento, mas poderia dizer, sem dúvida, era [uma] engrenagem muito próxima ao governador. Isso tudo eu tenho como afirmar e comprovar”, disse.
Contou que, a partir de 2012, passou a arrecadar propina para o grupo político, para ele [Fanini] e para o governador. “Nessa conversa que eu tive com ele [em 2011], ele deixa bem claro que parte desse dinheiro arrecadado eu poderia fazer uso pessoal e outro eu prestaria contas mensalmente a ele. Somente a ele. Não mais a ninguém”.
Ainda segundo Fanini, estes recursos foram também utilizados como entrada na compra de apartamento para o filho de Richa, Marcello Richa, candidato a deputado estadual pelo PSDB. Afirmou que, como já tinha gasto parte do dinheiro, foi obrigado a fazer “um empréstimo” e até um carro-forte teria sido usado para transportar a grana.
Fanini envolveu a mulher de Richa, Fernanda, no imbróglio. Contou que no dia 10 de junho de 2017, em um baile de gala no Graciosa Country Clube, um reduto da nata curitibana, foi abordado por ela para fazer “ameaças”. “Fui interpelado pela esposa [do governador], ela [Fernanda] vai à minha mesa, me chama para conversar. (…) reafirma que os repasses que estava recebendo para ficar calado, para o meu silêncio, iriam continuar. Tenho testemunha desse ocorrido”.
Noventa dias depois, em Caiobá, litoral paranaense, Fernanda teria dito a sua mulher que “quando eu falasse tudo o que sabia, revelasse à Quadro Negro, eu iria saber quem o governador Beto Richa realmente era. Ameaça velada”, disse Fanini.
Em nota oficial, a defesa de Richa e Fernanda afirma que ““as declarações do réu confesso Maurício Fanini são totalmente inverídicas em suas referências ao ex-governador Beto Richa e à sua esposa Fernanda Richa, e não acrescenta qualquer novidade ao caso. (…) Trata-se, apenas, de mais uma vã tentativa de transferir a responsabilidade pelos crimes por ele próprio praticados e já confessados”.
Em seu primeiro evento de campanha, nesta quinta-feira 23, Richa tentou desqualificar as denúncias e, sem citar o nome de Fanini, falou em “palavra de bandidos” e “acusações fantasiosas”. Criticou a imprensa local, a quem acusou de tentar “interferir no processo legítimo eleitoral”. Há quem acredite que até as eleições de outubro, o tucano possa vir a ser abatido em pleno voo.