Por Vinicius Serpa, estudante de Relações Públicas, especial para o Bem Blogado –
O futebol é patrimônio nacional. Não duvidamos disso. Infelizmente, se presencia o contrário nas modernizadas arenas, uma prática antitorcedor e consequentemente antifutebol. No documentário “Adeus, geral”, os principais atores dessa festa popular, os torcedores, reforçam o argumento. É notória a saudade do calor do Pacaembu, no caso dos corintianos que agora assistem jogos na morna Arena Itaquera, e mais ainda com os cariocas em relação às tradicionais gerais do Maracanã, mais caras após a reforma, porém sem a emoção de antigamente. O projeto Adeus, geral,iniciado em 2015 como um trabalho de Geografia por alunos do 2º ano do Ensino Médio no Colégio Santa Cruz, na zona oeste de São Paulo, propunha, na época, abordar o tema “muros sociais”, ou seja, algum motivo, físico ou não, que segrega pessoas de determinados ambientes.
Isso levou os estudantes Pedro Arakaki, Martina Alzugaray, Gustavo Altman, Pedro Junqueira e Matheus Bosco para as famosas “gerais”, setores mais populares dos estádios que estão chegando a extinção, constantemente excluídos nas novas arenas em detrimento das arquibancadas com cadeiras cativas e lugar marcado, muito mais caras.
Ao atingir a nota máxima no trabalho, os estudantes, que também são torcedores fanáticos, viram seu potencial e continuaram a trabalhar durante o ano de 2016, entrevistando nomes como o jornalista Juca Kfouri, o então presidente do Palmeiras, Paulo Nobre, Tite, treinador da seleção brasileira, que na época dirigia o Corinthians e, ainda mais importante, torcedores de diversos clubes do eixo Rio-São Paulo, que contam suas experiências no decorrer da película. O resultado está disponível no YouTube.
O caráter popular do futebol faz parte do imaginário do torcedor brasileiro. Ouvimos falar que temos a torcida mais apaixonada, as maiores festas dentro dos estádios e os cânticos mais vibrantes e apaixonantes, o estádio é onde o povo faz a festa mas acima de tudo faz parte da nossa cultura.
Hoje, prioriza-se a modernização e se esquece a cultura do torcedor brasileiro pobre, que fica em pé e apoia seu time durante 90 minutos. Agora ele é incapacitado nas cadeiras numeradas, seja pelos gritos de “senta” ou por não ter dinheiro. Um muro que não precisa ser físico para cobrar seu preço.
Esse movimento de elitização do futebol brasileiro não é novo e afasta os torcedores dos estádios há tempos. Além da precificação alta, basta observar as extensas listas de proibição dentro dos estádios e a repressão aos torcedores das classes mais baixas, literalmente impedidos de torcer. O resultado são médias de públicos mais baixas que países sem tradição no futebol, como Estados Unidos ou China.
Em São Paulo as restrições atingem patamares ainda maiores, como a proibição de bandeiras, a imposição de torcidas únicas em clássicos e em caso mais recente, a expulsão de um torcedor na Arena Itaquera, por não sentar para assistir ao jogo.
Não é a primeira vez que tentam tirar a festa do povo e o grande mérito de “Adeus, geral” é abrir os olhos para esse problema. Futebol não é apenas um jogo, mas uma manifestação popular que cada dia perde sua essência para o dito futebol moderno das arenas e cadeiras cativas.