Por Camilo Vanucchi, no Facebook, publicado no Jornal GGN –
Tá faltando amor, interpretação de texto, perspectiva histórica e maracugina.
1. Flávio Dino e Jaques Wagner não falaram o que estão dizendo que falaram. Ambos querem Lula nas urnas e no Palácio do Planalto. O resto é perfumaria.
2. Se o PT estivesse fora do páreo ou não tivesse em posição de pleitear a cabeça de chapa, com ou sem Luiz Inácio, os demais partidos poderiam simplesmente deixar o PT de lado, não? Esquecê-lo, ignorá-lo. Se não fede nem cheira, por que tanta raiva, pra que tanto textão?
3. Não tenho filiação partidária nem relação institucional com nenhum partido. Por isso estou aqui, meio intelectual, meio de esquerda, tentando descobrir qual é a legenda preferida da população segundo as mais recentes pesquisas de opinião (e há uns 15 anos, pelo menos). Parece que é o mesmo partido que tem o maior número de deputados federais, a vice-liderança em número de filiados e o maior cabo eleitoral do Brasil. Só acho.
4. A tese de que o PT só pensa no próprio umbigo não para em pé. O próprio Lula emite sinais claros de que não é assim há muito tempo. Quando escolheu sua sucessora, Lula desprezou os quadros históricos do PT e foi buscar um quadro que fizera história no PDT de Brizola. Em seguida, tinha convicção de que o sucessor natural de Dilma seria Eduardo Campos. Chegou a dizer isso em reuniões no PT e com o próprio PSB. Seu desejo era que Eduardo Campos fosse eleito pelo PSB com apoio do PT em 2018. Lula narra tudo isso em seu livro.
5. Não existe nenhuma definição sobre a candidatura do Lula ou sobre quem será o indicado dele ou do PT na incompatibilidade da disputa pelo terceiro mandato. Pode ser Ciro, Boulos ou Manu. Como também pode ser Wagner, Haddad ou outro petista. O que se projeta, hoje, é que o indicado por Lula supere 25% dos votos de saída. Piso. É mais do que a soma da intenção de votos em Ciro, Manu e Boulos, o que justifica a apreensão e a expectativa em torno desse tema.
6. Adiar a decisão é oportuno. Por quê? Porque mantém o olhar de milhões voltado para a prisão questionável daquele que lidera as pesquisas, o que pode contribuir com alguma pressão sobre o sistema de Justiça. E, sobretudo, porque evita a perseguição antecipada ao indicado do Lula. Ou alguém ainda duvida que o indicado do Lula será alvo imediato e primordial de forte pancadaria?
7. Boulos e Manu são, até o momento, os candidatos preferidos da esquerda entre aqueles que vêm e vão em liberdade. São meus preferidos também. O que não podemos perder de vista é que temos uma escalada autoritária e uma centena de retrocessos sociais para reverter. E que a esquerda, sozinha, não chega a 20% dos votos. No meu parco instrumental de analista político amador, não encontro argumento que me convença de que uma oposição orgânica, coerente e afinada seja mais oportuna e tenha melhores condições de reverter os efeitos do golpe do que um governo progressista que recupere a capacidade de dialogar com o Congresso e com o centro político.
8. Nesse sentido, recomendo parcimônia na crítica e na análise. Penso que será preciso dialogar com o centro para viabilizar uma candidatura competitiva. E isso inclui Ciro, Requião e outros quadros que não estão propriamente na esquerda. As alternativas podem ser Alckmin, na melhor das hipóteses, e Bolsonaro, na pior. Pessoalmente, prefiro não pagar pra ver.
9. Pode até parecer fraqueza. Pois que seja fraqueza, então. Se amanhã não for nada disso, caberá só a mim esquecer.