Bitencourt restringe espécie de “confissão” à venda do Rolex e afirma que dinheiro ficou com Jair ou Michelle Bolsonaro
Por Isadora Costa, compartilhado de Jornal GGN
Cezar Bitencourt, advogado do tenente-coronel Mauro Cid, disse nesta sexta-feira (18) que a revista Veja errou ao noticiar que o militar faria uma “confissão” no caso das joias desviadas do acervo da União em benefício de Jair Bolsonaro (PL). As declarações foram dadas ao jornal Estado de S. Paulo e ao programa Estúdio i, da GloboNews.
“Pra começar, eu nem falei em confessar”, disse Bitencourt na entrevista com Andreia Sadi, Natuza Nery e equipe.
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Com a repercussão do caso, a revista Veja decidiu divulgar trechos gravados da entrevista com Bitencourt, onde o criminalista diz que Cid faria uma espécie de “confissão” em vez de delação.
“Nós não mudamos a versão”, insistiu Bitencourt na GloboNews.
Confissão entre aspas
De acordo com Bitencourt, por “confissão”, ele quis dizer que Cid está disposto a colaborar com as autoridades prestando esclarecimentos sobre um dos relógios desviados para Bolsonaro. Mas negou que tenha conversado com o militar sobre as demais joias que apareceram no noticiário.
“O Rolex é uma das joias. Mas não são ‘as joias’. É um relógio, só isso. (…) O Cid tratou só do Rolex. As ditas joias não têm nada a ver, não conversei com Cid, não tratamos desse assunto”, disse.
De acordo com mensagens trocadas entre Bitencourt e um jornalista do Estadão na madrugada desta sexta (18), o advogado afirmou não ter falado sobre todas as “joias” com Veja.
Apesar de afirmar que Veja errou em falar de joias (para além do Rolex) e de uma confissão, Bitencourt confirmou que o relógio vendido por Cid gerou dinheiro que foi entregue, em espécie, para Bolsonaro ou a primeira-dama, Michelle Bolsonaro.
Pressão para recuar
As declarações de Bitencourt geraram furor na grande mídia. Na GloboNews, o advogado foi instado diversas vezes a dizer se foi pressionado pela defesa de Bolsonaro – ou por seus aliados – a mudar de versão após a divulgação da capa da revista, cuja manchete é “A confissão”.
O criminalista negou recuo ou que possa sucumbir a qualquer tipo de pressão. “Cezar Bitencourt não recua”, disse ele.
O que disse Veja
De acordo com a matéria de Veja, Bitencourt disse que Mauro Cid faria uma espécie de “confissão”.
O contexto da conversa eram as “joias”. O advogado disse que Bolsonaro teria ficado com o dinheiro fruto do relógio nos Estados Unidos. Ele também afirmou que procuraria o ministro Alexandre de Moraes para colocar seu cliente à disposição das autoridades.
[Trecho da entrevista de Cezar Bitencourt a Veja]
Como ele [Cid] repassou para o Bolsonaro? Foi em espécie? Parece que foi 17 mil em espécie.
E o resto? Veio uma parte com ele, na conta do pai… O dinheiro era do Bolsonaro, não era dele. O dinheiro era do Bolsonaro. Mas quem sugeriu de colocar na conta do general, por exemplo? Foi uma ordem do Bolsonaro? Não… Ele vendeu e tinha que internalizar. E falou: ‘Boto na conta do meu pai’. ‘Pai, posso botar?’. ‘Não, filho, vai me criar problemas’. ‘Mas eu preciso botar’. ‘Então bote’. É muito arriscado, como que vai sair com 35 mil dólares no bolso? É arriscado.
Como missão, né? É. Semana que vem vou falar com o ministro Alexandre de Moraes.
Acha que isso pode inclusive amenizar as questões que envolve o Supremo, vai se mostrar uma colaboração? Na verdade, é confissão.
Sim senhor, capitão
Bitencourt assumiu a defesa de Mauro Cid na terça-feira (15). De acordo com as declarações do advogado, sua linha de defesa é mostrar que o tenente-coronel apenas cumpria ordens, mesmo que “ilegais e injustas”.
“Essa obediência hierárquica para um militar é muito séria e muito grave. Exatamente essa obediência a um superior militar é o que há de afastar a culpabilidade dele. Ordem ilegal, militar cumpre também. Ordem injusta, cumpre. Acho que não pode cumprir é ordem criminosa”, disse o advogado, em uma entrevista concedida à GloboNews.
Delação premiada
Em entrevista exclusiva ao GGN, Cezar Bitencourt disse que faria acordo de delação apenas se não restar outra alternativa a Mauro Cid. Ele também afirmou que Cid está disposto a fazer o que for necessário para “proteger sua família, principalmente o pai”.
Assista:
Mauro Cid segue preso no Batalhão do Exército por ter falsificado os cartões de vacina na época em que ainda era braço direito de Jair Bolsonaro, quando o mesmo ocupava a presidência.
Na quinta-feira (17), o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, atendeu aos pedidos da Polícia Federal e autorizou a quebra de sigilo fiscal e bancário de Jair Bolsonaro e de sua esposa, a ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro.
*Edição: Cintia Alves