Por Antonio Lassance para Carta Maior
O Serviço de Atendimento ao Colunista da agência de notícias está tendo muito trabalho para orientar quem tentou usar o IBGE como bucha de canhão.
Com pesar, a grande agência de notícias “Manipulated Press” informa que mordeu a língua de tudo o que disse, na véspera, a respeito da redução da desigualdade no país.
A comemoração que havia feito, com direito a Champagne (espumante, nem pensar!), muitos Vivas! e convivas, foi por água abaixo.
A faixa de boas vindas à festa, com os dizeres “a caminho dos velhos tempos”, foi vista hoje de manhã em uma lixeira.
O IBGE estava errado. O Brasil está melhor, e não pior. Como instituição séria que é, assim que identificou e corrigiu o erro, o Instituto pediu desculpas.
Bem diferente do que acontece com o pessoal da Manipulated Press. Por exemplo, se seu veículo de imprensa apoiou uma ditadura sanguinária (para usar uma redundância), a orientação é que você espere pelo menos até se completar o aniversário de 50 anos do golpe para proferir o tradicional “desculpe a nossa falha”.
A Manipulated Press é a agência imaginária mais atuante do mundo. Pensamos nela como em relação às bruxas: não acreditamos que ela exista, mas que existe, existe.
No Brasil, reúne “editores autoritários e proprietários de mentalidades oligárquicas” – para tomarmos emprestada uma frase de um dos livros do grande jornalista Bernardo Kucinski.
Em um lance de sorte, pegamos uma linha cruzada do SAC (Serviço de Atendimento ao Colunista) da agência.
Temos que agradecer à qualidade dos serviços de telefonia no país por essa oportunidade – um setor, aliás, que é preservado dos ataques da Manipulated Press.
Pelo jeito, estão chovendo reclamações e pedidos de orientação de colunistas aflitos.
Um colunista reclama:
– E agora? O que vamos dizer? Vamos ter que reconhecer que os dados ainda são bons?
– Cê tá maluco? De jeito nenhum. Inventa alguma coisa. Você pode dizer que o analfabetismo piorou.
– Como assim? Não piorou? O analfabetismo caiu. De 8,7%, em 2012, para 8,5% em 2013. Só não foram os 8,3% divulgados antes pelo IBGE. Mas o analfabetismo caiu. Melhorou
– Caramba, seja firme, mantenha a linha! Ninguém vai perceber esse detalhe. Só capricha na manchete. Diga que o dado está pior que o divulgado antes pelo IBGE. Já tá todo mundo fazendo isso. Vai ajudar a fazer parecer que aumentou, “capice?”
– Entendi, mas pode não ser suficiente. Que mais vocês têm aí para distribuir pra gente?
– Vou te mandar um “print” de como dizer que o governo Dilma está prejudicando o IBGE a fazer um bom trabalho.
– Como assim? Não dá. Todo mundo falava o contrário. Você não viu o artigo da Cantanhede?
– Que artigo?
– Um em que ela diz o seguinte, deixa eu ler aqui na tela: “Na contramão das estatais e dos órgãos de governo, o IBGE resistiu ao aparelhamento e às ingerências indevidas e continua dando valiosas contribuições para a compreensão do país e para detectar o ritmo dos avanços nas mais diferentes áreas. Doa a quem doer.”
– Olha, isso nem saiu daqui. Tem até erro de Português: é doa “em quem” doer.
– E tem mais. Ela diz que “o que importa é que o IBGE resistiu à pressão do Planalto, via senadores amigões, e continua cumprindo seu papel de pesquisar, divulgar, analisar e, assim, contribuir para o entendimento e o planejamento do país, seja quem for o (a) presidente. O IBGE é nosso!”.
– Dane-se a Cantanhede! Ela que se vire. Finge que você nem leu isso aí.
– Mas eu também já escrevi coisas parecidas.
– Caramba, essa não. Então o jeito vai ser você usar aquela frase: “esqueçam o que escrevi”.
A linha caiu assim que meus créditos acabaram. Maldita telefonia cara!