Agência Pública e jornalista sofrem ameaças de violência física e ataques orquestrados

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Áudios e postagens em chat em resposta a reportagem são ameaça à liberdade de imprensa

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Nesta quinta-feira, 27 de outubro, a Agência Pública veiculou em seu site a reportagem intitulada “Matar e quebrar urnas”: evangélico líder de motociata incentiva crimes no Telegram”, na qual reproduziu diálogos realizados em chats do Telegram “Nova Direita 70 Milhões”, entre os dias 3 e 23 de outubro, de autoria de Jackson Villar da Silva, evangélico que se intitula comerciante, radialista, conservador, presidente do “Acelera Para Cristo” e organizador da motociata com o presidente Jair Bolsonaro em junho de 2021, que percorreu 130 km da cidade de São Paulo até Americana.⁠

Nas gravações analisadas pela Agência Pública, Villar propõe uma espécie de “eleição paralela”, em que diz que vai provar “fraude nas urnas”. Também insinua a necessidade de cometer crimes diante do cenário desfavorável ao seu candidato, Jair Bolsonaro (PL); fala sobre a necessidade de “quebrar esquerdistas no cacete”, conclama seus seguidores a “quebrar a urna eletrônica no pau” e afirma que “cientista político tem que apanhar”.⁠

De acordo com a apuração da reportagem, Villar também teria cometido discriminação e preconceito contra o povo baiano, a quem se referiu como “descarados e vagabundos” por terem votado em sua maioria no candidato petista Luiz Inácio Lula da Silva no primeiro turno. “Baiano é gente boa, mas ele é meio descarado. É falso. Eu conheço a natureza do baiano, o negócio dele é se requebrar”, diz o comerciante.

As falas violentas de Villar sugerem ainda a um bolsonarista como lidar com quem vota em Lula: “Você tem que falar assim: ‘Os cara vão te ‘passar’ [expressão para matar], ‘os cara vão caçar todo mundo que é petista’. Você vai convencer uma alma sebosa com o medo, entendeu? Ele só respeita o cacete”.

A reportagem é assinada por Thiago Domenici, diretor e editor da Agência Pública, e foi republicada por outros veículos de comunicação, tais como Uol, Carta Capital e Brasil 247.

Hoje, após a publicação da reportagem, uma fonte encaminhou à Pública novos áudios postados no chat do Telegram “Nova Direita 70 milhões“, alertando sobre ameaças de violência física e ofensas ao jornalista e uma ação orquestrada para derrubar os perfis da Agência Pública nas redes sociais.

Conforme a transcrição dos áudios obtidos, Villar fez ameaças e ofensas diretas ao jornalista subscritor da reportagem:

“Ah, então é você pilantra. Olha a cara desse safado rapaz. Cabra desse tem que ir atrás dele. Olha a cara desse mano, olha a cara desse cretino. Vou mandar pra um amigo meu aqui, (inaudível) Praia Grande, né? Serginho, você conhece esse cara aí? Serginho, você conhece esse cara, aí? Conhece esse vagabundo aí, Serginho? Vai ver o cara desse se encontrar comigo pessoalmente, pra ver se ele é esse cabra mesmo, mostrar pra ele como é que se dá uma pisa num cabra safado. Tava com medo, né? Vai engolir seu celular, seu vagabundo. Como tem gente sem vergonha, rapaz”.

Os áudios também registram uma ação orquestrada dos participantes do chat para denunciar os perfis da Agência Pública nas redes sociais e possuem o seguinte teor: “é pra denunciar um vídeo que um canal que tá postando, um vídeo editado”.

Conforme imagem da tela do chat obtido pela reportagem, também o link da página pessoal de facebook do jornalista foi enviada ao grupo, que tem mais de 180 mil participantes.

Os ataques, as ameaças e as ofensas publicadas hoje no chat “Nova Direita 70 Milhões” – um fórum público – representam graves violações à atividade jornalística e à liberdade de imprensa, objeto de ampla proteção pela Constituição Federal de 1988. Como já afirmado inúmeras vezes pelo Supremo Tribunal Federal, a imprensa livre é um dos pilares da democracia.

Villar administra ao menos quatro grupos no Telegram: “70 Milhões eu voto em Bolsonaro Nova Direita”, com 182 mil membros; “70 Milhões 2 voto no Bolsonaro Nova Direita”, com 22 mil membros; Canal Nova Direita #70Milhões #OBrasilemBrasília, com 20 mil membros e “Carta do Bolsonaro”, com pouco mais de 1.700 membros. No total, seus grupos somam mais de 225 mil membros.

O canal com mais membros está entre os 81 citados na decisão em caráter liminar proferida pelo corregedor-geral da Justiça Eleitoral, ministro Benedito Gonçalves, no último dia 18 de outubro. A decisão abriu investigação para apurar a existência de uma suposta “rede de produção de desinformação”. Gonçalves citou indícios de uma atuação “massificada” para disseminar fake news contra o candidato Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Tais ataques representam também um risco para a segurança pessoal do jornalista e para o pleno exercício da liberdade de imprensa e, por essa razão, a Agência Pública está tomando as medidas pertinentes junto às autoridades públicas competentes para que investiguem a autoria e a prática de crimes, bem como para a proteção de seus profissionais.

A diretoria da Agência Pública

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