Por Agostinho Vieira, publicado em Projeto Colabora –
CPMI das Fake News vira palco de mentiras e coroa um ano de ataques covardes a jornalistas promovidos pela família Bolsonaro e seus seguidores
Como o nome diz, o objetivo da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) das Fake News deveria ser investigar os ataques cibernéticos que atentaram e atentam contra democracia e o debate público no Brasil. O que incluiria, necessariamente, apurar a utilização de perfis falsos para influenciar os resultados das eleições de 2018. O que aconteceu na sessão de terça-feira, dia 11, foi exatamente o oposto. Como se não bastassem as declarações mentirosas e machistas de Hans River do Rio Nascimento, ex-funcionário de uma agência de disparos de mensagens em massa por WhatsApp, ainda tivemos um dos membros da CPMI, o deputado Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, espalhando notícias falsas no plenário e nas redes sociais:
“Eu não duvido que a senhora Patrícia Campos Mello, jornalista da Folha, possa ter se insinuado sexualmente, como disse o senhor Hans, em troca de informações para tentar prejudicar a campanha do presidente Jair Bolsonaro. Ou seja, é o que a Dilma Rousseff falava: fazer o diabo pelo poder”, afirmou Eduardo.
A agressão contra a jornalista pode ser considerada uma das mais covardes dos últimos meses, mas não foi o primeira. Um levantamento feito pela Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) mostra que só o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) foi responsável por 121 dos 208 ataques contra veículos de comunicação e jornalistas compilados no Brasil ao longo de 2019, o que representa 58% do total. Ainda segundo a organização, o Brasil registrou em 2019 um aumento de 54% nesse tipo de agressão física ou moral contra profissionais ou veículos de comunicação, na comparação com 2018, quando foram anotados 135 casos.
A maioria dos ataques de Bolsonaro ocorreu em divulgações oficiais da Presidência da República, de acordo com a federação. Entre eles, discursos e entrevistas do presidente – transcritos no site do Palácio do Planalto – ou por meio do Twitter oficial do presidente. Em uma das ocasiões, Bolsonaro fez insinuações sobre a sexualidade de um repórter que indagava sobre denúncias que foram feitas contra Flávio Bolsonaro, um dos filhos do presidente. “Você tem uma cara de homossexual terrível, mas nem por isso eu te acuso de ser homossexual”, afirmou.
Nesta quarta-feira, dia 12, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), se manifestou contra os ataques sofridos pela jornalista Patrícia Campos Mello. O deputado escreveu em sua conta no Twitter que atos de falso testemunho, difamação e sexismo têm que ser punidos: “Dar falso testemunho numa comissão do Congresso é crime. Atacar a imprensa com acusações falsas de caráter sexual é baixaria com características de difamação. Falso testemunho, difamação e sexismo têm de ser punidos no rigor da lei”, disse Maia.
Ontem também, um grupo de mulheres jornalistas organizaram e divulgaram um manifesto de apoio à jornalista da Folha. Por volta das 16h, o texto já havia ultrapassado 1.860 assinaturas. A Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji) também divulgou uma nota repudiando os ataques feitos pelo deputado Eduardo Bolsonaro contra a jornalista nas suas redes sociais e no plenário do Congresso. O Projeto #Colabora se junta à Abraji e à todas as jornalistas brasileiras neste momento de profunda tristeza para a democracia e para a vida pública no Brasil.