Quando se candidatou pela primeira vez a deputado federal, Ricardo Salles estilizou seu número de urna como um calibre de fuzil e fez campanha defendendo o uso de munição de fuzil contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra.
Por Hugo Souza – Come Ananás, compartilhado de Construir Resistência
Em 2018, o então presidente da Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC), Antonio Marcos Moraes Barros, doou R$ 30 mil para a candidatura de Ricardo Salles a deputado federal pelo estado de São Paulo.
O número de urna de Ricardo Salles naquela eleição, 3006, foi uma referência não exatamente velada a um tipo de bala de grosso calibre fabricada pelo seu oitavo maior doador naquela eleição: o material de campanha de Salles, então no partido Novo, trazia seu número de urna estilizado como um número de calibre de fuzil, e Salles fez campanha defendendo o uso de munição de fuzil contra o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST).
Derrotado nas urnas em 2018, Ricardo Salles virou ministro do Meio Ambiente de Jair Bolsonaro. As devastadoras antipolíticas ambientais tocadas por Salles, crimes de lesa pátria e lesa humanidade, foram em grande parte responsáveis também por um rastro de conflitos e violência no campo agravados no governo Bolsonaro.
Hoje deputado federal pelo PL de Bolsonaro – foi o quarto mais votado em São Paulo em 2022 -, Ricardo Salles será o relator da CPI do MST, dominada pela bancada ruralista e instalada com apoio de 42 deputados de partidos com participação no ministério do governo Lula.
Depois do que fez ao país, Ricardo Salles não poderia ser um homem livre, muito menos deputado federal, muito menos relator da CPI que se debruçará sobre um movimento social o qual Salles já propôs dobrar à base do fuzil.
A instalação da CPI contra a luta dos povos do campo pelo cumprimento do mandamento constitucional da função social da terra, Ricardo Salles alçado a relator dela, a força inédita da bancada ruralista – com 300 membros, engrossada pela bancada recorde do PL, ela representa hoje 58% da composição total da Câmara -, tudo isso e muito mais mostra que ainda falta muito para frear a boiada do agrofascismo