Agronegócio tipo exportação

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Por Rui Daher publicado em Carta Capital – 

De 1997 a 2017, nossas exportações totais cresceram 7,3% ao ano. As do colonialista agronegócio, os mesmos 7,3%

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Superávits da balança comercial são mantidos pela exportação de commodities agrícolas? Nem tanto




No ano de 2017, entre os 30 maiores países exportadores e importadores do mundo, o Brasil foi o 26º e 29º, respectivamente. Proeminência exuberante, não? Nossos economistas neoliberais jogam isso nas costas de nossa pequena abertura comercial. Sugerem arrombamento de portos e alargamento de orifícios (o meu não!) para o hemisfério Norte.

Nada a ver, pois, com a política cambial, a desindustrialização, os pífios recursos às inovações tecnológicas, o arrocho fiscal impeditivo de investimentos públicos e privados, os juros estratosféricos (quando baixos para aliviar a dívida pública nunca são seguidos pelos bancos). Enfim, o altar erguido ao rentismo em detrimento do setor produtivo.

Queriam o quê? Nada de novo. Há décadas, o Brasil participa, em média, com 1,2% das exportações mundiais. Do outro lado da balança, a participação nas importações é um dedinho menor, 0,9%.

Mas e as “maledetas” exportações de bens primários, que o professor Delfim crê nos farão, em breve, colônia da China? Uai, estão aí dentro. Como informação, lá em cima, entre os quatro que irão à Libertadores (em todos os sentidos), a ordem na exportação é China, EUA, Alemanha e Japão; e, na importação, EUA, China, Alemanha, Japão. Como diria amigo meu italiano, lo stesso.

Inteligentes que são, leitores e leitoras de CartaCapital poderão comparar populações e babar. Menos ovos, pois esses devem ser guardados para jogar nos golpistas do momento. Temos extensão, clima, bacias hídricas, alta e jovem população economicamente ativa (quando o neoliberalismo deixa) para admitir tal rabeira.

– Pô, colunista menor, quer dizer que não fosse o agronegócio nem entre os 30 estaríamos?

Como sempre digo, nem tanto ao céu, ao mar ou à terra. Paulinho da Viola nos ensinou que, vistas assim do alto, certas coisas mais parecem um céu no chão. É quando se deve usar a lupa. Desta vez, com dados do SECEX e MDIC, constantes do AGROSTAT, do MAPA (desculpem a indelicadeza, mas não vou explicitar as siglas; comeriam muitos caracteres).

Vamulá, como Maradona e Neymar Jr. já fizeram, partindo de antes do meio do campo e chegando até o gol.

De 1997 a 2017, nossas exportações totais cresceram 7,3% ao ano. As do colonialista agronegócio, os mesmos 7,3%. As importações totais, 4,7% ao ano, e no agronegócio 2,8%. Continua estranho, ainda mais reconhecendo que das exportações totais, 40,5% partiram de produtos do agronegócio.

– Como? Só se o agronegócio importou pra cacete!

– Nada, representou pouco mais de 8% do total.

– Isso não se explica. Os saldos positivos da balança comercial são mantidos pela exportação de commodities agrícolas.

– Nem tanto. Talvez o amigo esteja apenas comprando barato a imagem das folhas e telas cotidianas de um status quo ilusório, que o governo ilegítimo e as associações patronais e bancadas lamentadoras da agropecuária querem nos impor.

– Então, o que aconteceu, ô sabidão?

– Por que você não pergunta ao Ronaldo Caiado, colunista de agronegócios da Folha de São Paulo?

– Não adiantaria. Desde sua estreia, ele nunca abordou o tema, só política.

– Ah, e você, descaradamente, vem a esse reles colunista ‘de esquerda’ para entender? Que tal pensar que a participação da agropecuária, entre 2004 e 2013, período do inominável, caiu de 41% para 38% do total e as importações se mantiveram?

– Como?

– Mercado interno favorável, amigo. Menos enrolado, sem barreiras, mais fácil, preços mais remuneradores, pouco dolarizados, menor dependência da concentração entre as tradings.

– Até aí, entendo.

– Mas não admite que o desenvolvimento nacional integrado inclui o povo consumir produtos de maior valor agregado e, diante das barreiras na exportação, os benefícios de emprego e renda levam a produção dirigir-se para o mercado interno.

– Agradeço. Só mais uma dúvida? Vive-se dizendo que somos altamente dependentes da importação de insumos agrícolas, inclusive na sua coluna, como podem as importações do agronegócio terem caído?

– Na próxima, meu caro, se eu não mudar de ideia.

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