Aí apareceu uma onça e mudou toda história

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Vou deixar um pouco a sátira política de lado e falar de onça. História com esse felino no meio não tem erro. Sempre dá Ibope. O escritor de novelas Benedito Ruy Barbosa sabia disso ao fazer “Pantanal” para a TV Manchete, em 1990. Bruno Luperi, neto de Benedito, manteve as pintadas na versão atual da Globo, com todas as vantagens dos novos recursos tecnológicos — Juma Marruá pode até mamar na onça, se for o caso, agora a ficção deixa a fantasia mais bonita do que nunca.

Por Xico Sá, compartilhado de Diário do Nordeste




Onça pintada
Legenda: Onça-pintadaFoto: Onçafari/Edu Fragos/Agência Brasil

XICO SÁ

Uma onça melhora qualquer roteiro, teledrama, filme ou peça de teatro. Estória de trancoso, então, nem se fala. Os grandes contadores de causos do interior devem suas vidas às onças, mesmo quando se trata daquelas oncinhas menos cinematográficas, mofinas e comedoras de bodes. De Guimarães Rosa ao Seu Aristides, todos os narradores geniais sabem que só há uma lição estética infalível: a hora da onça beber água.

Rosa fez até um caçador se apaixonar perdidamente por uma onça, que ele chamava de Maria Maria. Está tudo lá no conto “Meu Tio, O Iauaretê”, do livro “Estas Estórias”. Seu Aristides nunca escreveu uma linha na vida. Ninguém, no entanto, conta melhor uma aventura com bichos e homens do que ele. Escutei esse mestre pela primeira vez aos cinco anos de idade, lá no Sítio das Cobras, Santana do Cariri. Hoje, ele mora no bairro de Pirituba, São Paulo, capital, tem 94 anos e suas sussuaranas seguem preservadas na memória.

Bibiu, por sua vez, era capaz de botar uma onça até mesmo se a ação se passasse nos estúdios cinematográficos em Los Angeles (EUA). O rapaz ganhava a vida contando filmes pelos sertões. “Casablanca”, “…E o Vento Levou”, “O Ébrio”, “No Tempo das Diligências”, “King Kong” etc. Se a plateia estava meio desatenta, desanimada, epa, soltava uma onça até dentro do cenário de “A Paixão de Cristo”. Estava feito o milagre da atenção total dos ouvintes. Bibiu, para quem não se lembra, é o protagonista do romance “Roliúde” (editora Record), do escritor pernambucano Homero Fonseca.

Nada como uma onça para tornar a realidade menos pesada. Foi assim com a “Pantanal” no tempo de Fernando Collor. O mesmo acontece agora sob este governo inominável.

*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.

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