Aimé Césaire – poeta, dramaturgo, ensaísta e político caribenho

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Compartilhado do Templo de Cultura Delfos

Aimé Césaire nasceu em Basse-Pointe, Martinica, em 1913. Poeta, dramaturgo, ensaísta e político, fervoroso defensor das raízes africanas e militante anticolonialista, Césaire foi um dos escritores mais importantes do século XX. Ainda jovem, chegou a Paris para fazer seus estudos em 1931. Em 1934, fundou com outros estudantes o jornal L’étudiant noir [O estudante negro], no qual formulou pela primeira vez o conceito de negritude, que definiu como uma “busca dramática” pela identidade negra. Em 1935, começou a escrever o Caderno de um retorno ao país natal, publicado em 1939, antes de voltar para a Martinica, onde se tornou professor de Letras e, alguns anos depois, entrou para a política. Césaire foi eleito prefeito de Fort-de-France (1945-2001) e deputado da assembleia nacional francesa pelo Partido Comunista Francês (PCF). Em 1957, decepcionado com o PCF, que negligenciou questões antilhanas, fundou o Partido Progressista Martiniquês, pelo qual se manteve deputado até 1993. Ao mesmo tempo que trabalhou numa atividade política contínua, nunca se apartou de sua verve literária, publicando ininterruptamente ao longo da vida. Sua obra foi traduzida mundo afora. Morreu em Fort-de-France em 2008.




“O não-tempo impõe ao tempo a tirania da sua espacialidade: em todas as vidas, há um norte e um sul, e o oriente e o ocidente. No ponto mais extremo, ou, pelo menos, no cruzamento, é a enfiada das estações sobrevoadas, a luta desigual da vida e da morte, do fervor e da lucidez, talvez até mesmo a do desespero e da nova queda, a força também de olhar sempre o amanhã. Assim vai toda e qualquer vida. Assim vai este livro, entre sol e sombra, entre montanha e mangue, no crepúsculo quando não se distinguem cão e lobo, claudicando e binário. Tempo também de dar cabo de algumas fantasias e alguns fantasmas”

– Aimé Césaire, apresentação do seu último livro de poesias “eu, laminária…”. [tradução, posfácio e notas de Lilian Pestre de Almeida]. São Paulo: Editora Papéis Selvagens, 2022.

Aimé Césaire – poeta, dramaturgo, ensaísta e político

OBRA DE AIMÉ CÉSAIRE PUBLICA EM PORTUGUÊS

Aimé Césaire no Brasil

Poemas

:: Poemas. Aimé Césaire. [tradução de Nelson Ubaldo e Péricles Prade]. Edição bilíngue. Blumenau: Letras Contemporâneas, 2006.

:: Caderno de um retorno ao país natal. Aimé Césaire. [tradução Anísio Garcez Homem e Fábio Brüggemann]. Florianópolis: Editora Terceiro Milênio, 2011.

:: ‘Diário de um Retorno ao País Natal’ – vol. 1 / ‘Cahier d un Retour au Pays Natal’. Aimé Césaire. [tradução, notas, bibliografia e posfácio Lilian Pestre de Almeida]. Edição bilingue. São Paulo: Edusp, 2012;  2021.

:: Eu, laminária… Aimé Césaire. [tradução, posfácio e notas de Lilian Pestre de Almeida; capa François Muleka]. São Paulo: Editora Papéis Selvagens, 2022. {Apoio: Embaixada da França no Brasil}.

Teatro

:: Aimé Césaire, textos escolhidos: A tragédia do rei Christophe, Discurso sobre o colonialismo, Discurso sobre a negritude. [tradutor Sebastião Nascimento; coordenador da coleção José Fernando Peixoto de Azevedo; capa Thiago Lacaz]. Coleção Encruzilhada. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2022.

:: Uma temporada no Congo / ‘Une Saison au Congo’. Aimé Césaire. [tradução Joao Vicente, Juliana Estanislau de Ataide Mantovani e Maria da Gloria Magalhaes dos Reis; prefácio Eric Vuillard, João Vicente, Juliana Estanislau de Ataide Mantovani e Maria da Gloria Magalhaes dos Reis; posfácio Kabengele Munanga]. São Paulo: Editora Temporal, 2022.

:: Uma Tempestade. Aimé Césaire. [tradução Margarete Nascimento dos Santos; prefácio Eurídice Figueiredo]. São Paulo: Temporal Editora, 2024.

Ensaio /  Discurso

:: Discurso sobre a Negritude de Aimé Césaire. [organização Carlos Moore; tradução Ana Maria Gini Madeira]. Coleção Vozes da Diáspora Negra, v. 3. Belo Horizonte: Nandyala, 2010.

:: Discurso sobre o colonialismoAimé Césaire. [tradução de Anísio Garcez Homem]. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2010.

:: Discurso sobre o colonialismo. Aimé Césaire [tradução e notas Claudio Willer; ilustração Marcelo D’Salete]. São Paulo: Editora Veneta, 2020.

Em antologia

:: Poesia traduzida: Carlos Drummond de Andrade. [organização e notas Augusto Massi e Julio Castañon Guimarães; introdução Julio Castañon Guimarães]. São Paulo: Cosac e Naif, 2011. 

:: A poesia engajada: antologia. [tradução Jardel Cavalcanti]. Edição bilíngue. Londrina: Galileu Edições, 2023. {poetas incluídos: Paul Éluard, Antonio Machado, Pablo Neruda, Louis Aragon, René Char, Robert Desnos, Primo Levi, Bóris Vian, Aimé Césaire, Jean Wahl, Marianne Cohn, Pierre Emmanuel, Philippe Souapault, Alain Bousquet, Louis Calaferte, Eugène Guilevic, Claude Roy, Léon-Gontram Damas, David Diop, Véronique Tadjo, Andrée Chedid, Nânzin Hikmet, Félix Leclerc, Jean Orizet}.

Aimé Césaire em Portugal

Poesia

:: Antologia Poética. Aimé Césaire. [selecção e tradução  Armando da Silva Carvalho]. Colecção Cadernos de Poesia, n. 16. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1970.

Teatro

:: E os cães deixaram de ladrar. Aimé Cesaire. [tradução Armando da Silva Carvalho; capa e ilustrações de Dorindo Carvalho]. Colecção Teatro, dirigida por Orlando Neves, n.º 1. Lisboa: Diabril, 1975.

Ensaios / discursos

:: Discurso sobre o colonialismo. Aimé Cesaire. [tradução do francês por Noémia de Sousa; prefácio Mário Pinto de Andrade; capa Vitor da Silva]. Colecção Cadernos Livres, n. 15. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1978. Disponível no link. (acessado em 26.3.2024).

:: Discursos Sobre o Colonialismo – seguido de Discurso sobre a NegritudeAimé Cesaire. [tradução Diogo Paiva]. VS. Editor, 2023.

“Falo de milhões de homens arrancados aos seus deuses, à sua terra,

aos seus hábitos, à sua vida, à vida, à dança, à sabedoria. Falo de

milhões de homens a quem inculcaram sabiamente o medo, o

complexo de inferioridade, o tremor, a genuflexão, o desespero, o

servilismo.” 

– Aimé Césaire, em “Discurso sobre o colonialismo”. [tradução do francês por Noémia de Sousa; prefácio Mário Pinto de Andrade]. Colecção Cadernos Livres, n. 15. Lisboa: Livraria Sá da Costa Editora, 1978, p. 25 e 26.

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Aimé Césaire – poeta, dramaturgo, ensaísta e político

SELETA DE POEMAS DO POETA AIMÉ CÉSAIRE | EM EDIÇÃO BILÍNGUE

BATUQUE

Batuque 

quando o mundo ficar mais nu e ruivo 

que nem a matriz calcinada pelos grandes sóis do amor 

batuque 

quando, sem sindicância, for o mundo 

um coração maravilhoso onde se imprima o cenário 

dos olhares em cintilante fragmentação 

pela primeira vez 

quando os magnetismos pegarem as estrelas na ratoeira 

quando amor e morte forem 

a mesma cobra-coral restaurada em volta

do braço sem joias 

sem defesa 

sem picumã 

batuque do rio engrossado com lágrimas de jacaré e chicotes à deriva 

batuque da árvore das serpentes, de dançarinos de campina 

rosas de Pensilvânia olham os olhos, o nariz, os ouvidos, 

as janelas da cabeça serrada 

de supliciado 

batuque da mulher de braços de mar, de cabelos de fonte submarina 

a rigidez cadavérica transforma os corpos 

em pranto de aço 

todos os enfolhados gafanhotos compõem mar de iúcas azuis e de jangadas 

todos os fantasmas neuróticos tomaram o

freio nos dentes

batuque

quando o mundo for de abstração encantada,

brotos e sal-gema

os jardins do mar

pela primeira e última vez

flamba, amendoeira de naufrágio, um mastro de caravela esquecida

um coqueiro, um baobá, uma folha de papel

um indulto negado

batuque

quando o mundo for uma mina a céu aberto

quando ele for, do alto da passarela

meu desejo

teu desejo

conjugados – um pulo – no vácuo respirado

no pára-brisa de nossos olhos rebentam

todas as poeiras de sóis provocadas de pára-quedas

de incêndios voluntários de auriflamas de trigo rubro

batuque dos olhos açucarados de febre

… O Congo é um salto de sol poente na ponta do fio

um balde de cidades sangrentas

moita de erva-cidreira na noite forçada

batuque…

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BATOUQUE

batouque

quand le monde sera nu et roux

comme une matrice calcinée par les grands soleils de l’amour

batouque

quand le monde sera sans enquête

un cœur merveilleux où s’imprime le décor

des regards brisés en éclats

pour la première fois

quand les attirances prendront au piège les étoiles

quand l’amour et la mort seront

un même serpent corail ressoudé autour d’un bras sans joyau

sans suie

sans défense

batouque du fleuve grossi de larmes de crocodiles et de fouets à la dérive

batouque de l’arbre aux serpents des danseurs de la prairie

des roses de Pennsylvanie regardent aux yeux au nez aux oreilles

aux fenêtres de la tête sciée

du supplicié

batouque de la femme aux bras de mer aux cheveux de source sous-marine

la rigidité cadavérique transforme

les corps

en larmes d’acier,

tous les phasmes feuillus font une mer de youcas bleus et de radeaux

tous les fantasmes névrotiques ont pris le mors aux dents

batouque

quand le monde sera, d’abstraction séduite,

de pousses de sel gemme

les jardins de la mer

pour la première et la dernière fois

un mât de caravelle oubliée flambe amandier du naufrage

un cocotier un baobab une feuille de papier

un rejet de pourvoi

batouque

quand le monde sera une mine à ciel découvert

quand le monde sera du haut de la passerelle

mon désir

ton désir

conjugués en un saut dans le vide respiré

à l’auvent de nos yeux déferlent

toutes les poussières de soleils peuplées de parachutes

d’incendies volontaires d’oriflammes de blé rouge

batouque des yeux pourris

batouque des yeux de mélasse

batouque de mer dolente encroûtée d’îles

le Congo est un saut de soleil levant au bout d’un fil

un seau de villes saignantes

une touffe de citronnelle dans la nuit forcée

batouque

– Aimé Césaire [tradução Carlos Drummond de Andrade]. In: Poesia traduzida: Carlos Drummond de Andrade. organização e notas Augusto Massi e Julio Castañon Guimarães; introdução Julio Castañon Guimarães. São Paulo: Cosac e Naif, 2011.

§§

BELO SANGUE JORRADO

cabeça troféu membros lacerados

dardo assassino belo sangue jorrado

ramagens perdidas margens contentes

infâncias infâncias conto demasiado revolvido o amanhecer sobre a 

corrente morde feroz para nascer

ó assassino atrasado

o pássaro de plumas outrora mais belas que o passado

exige a conta de suas plumas dispersas

**

BEAU SANG GICLÉ

tête trophée membres lacérés

dard assassin beau sang giclé

ramages perdus rivages ravis

enfances enfances conte trop remué l’aube sur sa 

chaîne mord féroce à naître

ô assassin attardé

l’oiseau aux plumes jadis plus belles que le passé

exige le compte de ses plumes dispersées

– Aimé Césaire, em “Poemas”. [tradução de Nelson Ubaldo e Péricles Prade]. Edição bilíngue. Blumenau: Letras Contemporâneas, 2006.

§§

PRECEITO

É bom que eu entre como selvagem hirsuto coberto pelos

Espinhos dos caminhos

Pelo arco de três portas das vigorosas selvas

Excluído mas violador de santuários

E entrando pelo triunfante portal do mar

Escavando em solavancos o pudor da pedra

Banido do branco pão da festa das crianças

Mas entrando com minha estranha garganta na garganta do

Vento que morde

A planta nua de ser estranho riso obsceno

Um país negro é como um sonho negro fiel

Ébrio do puro vinho do leite negro da terra.

**

PRÉCEPTE

C’est bien je ne rentrerai que sauvage hirsute 

d’épines de chemins

par l’arc à trois portes des selves vigoureuses

exclu mais violeur des sanctuaires

et rentrant par le triomphant portail

de la mer défonçant par saccades la pudeur de la pierre

au ban du pain blanc de la fête des enfants 

mais avec ma rare gueule rentrant la gueule 

du vent mordant 

le buisson nu de son rare rire obscène

un pays noir c’est selon un noir

sommeil fidèle saoul du pur vin du lait noir de la terre

– Aimé Césaire, em “Poemas”. [tradução de Nelson Ubaldo e Péricles Prade]. Edição bilíngue. Blumenau: Letras Contemporâneas, 2006.

§§

CARTA DA BAHIA-DE-TODOS-OS-SANTOS

Bahi-a

Como um violento gole de cachaça na garganta de Exu a palavra delirou em mimum grito de ilhas verdes mulheres nadando dispersas entre a imponência das frutas e o um vôo de papagaios

Bahia-a

A circunferência de um colar depoistado sobre o peito do mar atirando sobre os moldes de hálito de ressaca

Bahi-a

à deriva de continentes, movimento de terra, bocejo geológico na hora alegre de aportar, o todo entregue à âncora e mal-adaptado ao lugar

Bahi-a

de nostalgia, de gengibre e de pimenta, Bahia das filhas de santo, das mulheres de Deus das cascas de camarão rosa, e também da doce aparência do vatapá.

Ah! Bahi-a

Bahia de bênção! de conivências! de poderes! Campo Grande para as grandes manobrasdo insólito! de todas as comunicações com o desconhecido, Central e Alfândega!

De Ogum ou de São Jorge não se sabe, nuvens solenes cruzaram a espada, trocaram pérolas, búzios rosas, búzios malva, aranhas adamascadas, baratas vorazes e largatos raros

e a palavra termina na duvidosa decadência das mais altas senhorias do céu.

Ah! Bahi-a

Foi então um torpor de incenso debruado de outro numa pesada sesta onde se fundiam igrejas azulejadas e ecos de tambor além das colinas, espoucar de foguetes dos deuses satisfeitos, de onde a aurora desalojou, muiot terna, imponentes moças cor de jacarandá, penteado lentamente seus cabelos de algas.

**

LETTRE DE BAHIA-DE-TOUS-LES SAINTS

Bahii-a

Comme un scélérat coup de cachaça dans la gorge d’Exu et le mot délira en moi en un hennissement d’îles vertes femmes nageuses éparpillées parmi la jactance des fruits et un écroulement de perroquets

Bahii-a

la courbe d’un collier dévalé vers la poitrine dévoilée de la mer bien lovant au creux sa touffure de ressac

Bahii-a

dérive de continents, un en-aller de terre, un bâillement géologique à l’heure fastueuse de l’échouage, le tout assoupi à l’ancre et mal dompté au lieu

Bahii-a

de nostalgie, de gingembre et de poivre, Bahia des filles de saints, des femmes de Dieu, à peau de crevettes rose, à peau douce aussi de la sauce vatapa

Ah! Bahii-a!

Bahia d’ailes! de connivences! de pouvoirs! Campo grande pour les grandes manœuvres de l’insolite! De toutes les communications avec l’inconnu, Centrale et Douane!

De fait, d’Ogu ou de Saint Georges, on ne sait, des nuages solennels croi- sèrent l’épée, échangèrent des perles, des claies, des cauris roses, des cauris mauves, des araignées damasquinées, des carabes voraces, des lézards rares

et le mot se termina dans le délabrement interlope des plus hautes seigneu- ries du ciel

Ah! Bahia!

Ce fut alors un engourdissement d’encens carrelé d’or dans une lourde sieste où se fondaient ensemble des églises azulejos, des clapotis d’outre-mornes de tambours, des fusées molles de dieux comblés, d’où l’aube débusqua, très tendre, de graves filles couleur jacaranda, peignant lentement leurs cheveux de varech.

– Aimé Césaire, em “Poemas”. [tradução de Nelson Ubaldo e Péricles Prade]. Edição bilíngue. Blumenau: Letras Contemporâneas, 2006.

§§

para dizer… 

para revitalizar o rugido das fosfenas 

o âmago oco dos cometas 

para reavivar o verso solar dos sonhos 

sua lactância 

para ativar o fresco fluxo das seivas a memória dos silicatos

fúria dos povos sumidouro dos deuses seu salto 

esperar a palavra seu ouro sua orla 

até a ignífera 

sua boca   

**

pour dire… 

pour revitaliser le rugissement des phosphènes

le coeur creux des comètes

pour raviver le verso solaire des rêves

leur laitance

pour activer le frais flux des sèves la mémoire des silicates

colère des peuples débouché des Dieux leur ressaut

patienter son or son orle

jusqu’à l’ignivome

sa bouche

– Aimé Césaire [tradução Leo Gonçalves]. In: Salamandro / Leo Gonçalves, 22 de abril 2008.

§§

dorsal bossal

existem vulcões que falecem

existem vulcões que permanecem

existem vulcões que só estão lá para ficar ao vento

existem vulcões loucos

existem vulcões bêbados à deriva

existem vulcões que vivem em matilhas e vigiam

existem vulcões cuja goela emerge de tempos em tempos

verdadeiros cães do mar

existem vulcões que velam a face sempre nas nuvens

existem vulcões esparramados como extenuados rinocerontes

em que se pode apalpar o bolso galáctico

existem vulcões pios que elevam monumentos à glória dos povos desaparecidos

existem vulcões vigilantes

vulcões que uivam

montando guarda às portas do Kraal dos povos adormecidos

existem vulcões fantásticos que aparecem

e desaparecem

(são jogos lemurianos)

não esquecer os que não são os menores

os vulcões que nenhuma dorsal jamais recuperou

que de noite os rancores se constroem

existem vulcões cuja forma da boca tem a medida exata da ferida antiga

……………………………………………………………………………. (De ‘Eu, laminária…’)

**

Il y a des volcans qui se meurent,

Il y a des volcans qui demeurent,

Il y a des volcans qui ne sont là que pour le vent,

Il y a des volcans fous,

Il y a des volcans ivres à la dérive,

Il y a des volcans qui vivent en meute et patrouille,

Il y a des volcans dont la gueule émerge de temps en temps, véritable chiens de la mer,

Il y a des volcans qui se voilent la face, toujours dans les nuages,

Il y a des volcans vautrés comme des rhinocéros fatigués dont on peut palpés la poche galactique

Il y a des volcans pieux, qui élèvent des monuments à la gloire des peuples disparus,

Il y a des volcans vigilants, des volcans qui aboies montant la garde au seuil du Kraal du peuple endormis,

Il y a des volcans fantasques, qui apparaissent et disparaissent, ce sont jeux lémuriens,

Il ne faut pas oublier, ceux qui ne sont pas des moindres, les volcans qu’aucune dorsales n’a jamais repérés

Et dont, la nuit les rancunes se construise

Il y a des volcans, dont l’embouchure, est à la mesure exacte de l’antique déchirure

………………………………………(De ‘Moi, laminaire’)

– Aimé Césaire [tradução Leo Gonçalves]. In: Salamandro / Leo Gonçalves, 25.6.2013.

§§

PARTIR

Assim como existem homens-hiena e 

homens-pantera, eu serei um 

…………………………………. homem-judeu,

um homem-cafre

um homem-hindu-de-Calcutá

um homem-do-Harlem-sem-direito-de-votar

o homem-com-fome, o homem-insulto, 

o homem-tortura que pudesse ser preso 

a qualquer momento, moído a porradas, 

e até morto sem terem que 

por isso pedir perdão 

…………………………………. a ninguém.

um homem-judeu

um homem-pogrom

um cachorrinho

um mendigo.

é possível matar o Remorso, tão belo

como o rosto surpreso de uma dama 

inglesa que encontrasse na sopa 

um crânio de hotentote?

Eu encontraria o segredo das grandes comunicações

e das grandes combustões. Eu diria tempestade. 

Diria rio. Diria ciclone. Diria folha. 

Diria árvore. E as chuvas me molhariam, 

e úmido de orvalhos eu seria. Correria como sangue 

frenético na corrente lenta do olho das palavras,

em cavalos loucos em crianças en coágulos

em toque de recolher em templos em ruínas em pedras 

preciosas tão distantes para desencorajar mineiros.

Quem não me entendesse nunca entenderia 

o rugido do tigre.

………………………………………………………… (fragmento de Diário de um Retorno ao País Natal’)

**

PARTIR

Comme il y a des hommes-hyènes et des 

hommes-panthères, je serais un 

…………………………………….. homme-juif

un homme-cafre

un homme-hindou-de-Calcutta

un homme-de-Harlem-qui-ne-vote-pas

l’homme-famine, l’homme-insulte, l’homme-torture

on pouvait à n’importe quel moment le saisir le rouer

de coups, le tuer – parfaitement le tuer – sans avoir

de compte à rendre à personne 

sans avoir d’excuses à présenter à 

…………………………………….. personne

un homme-juif

un homme-pogrom

un chiot

un mendigot

mais est-ce qu’on tue le Remords, beau 

comme la face de stupeur d’une dame 

anglaise qui trouverait dans sa soupière 

un crâne de um hotentote?

Je retrouverais le secret des grandes communications

et des grandes combustions. Je dirais orage. 

Je dirais fleuve. Je dirais tornade. Je dirais feuille. 

Je dirais arbre. Je serais mouillé de toutes les pluies,

humecté de toutes les rosées. Je roulerais comme du sang 

frénétique sur le courant lent de l’oeil des mots

en chevaux fous en enfants frais en caillots 

en couvre-feu en vestiges de temple en pierres 

précieuses assez loin pour décourager les mineurs. 

Qui ne me comprendrait pas ne comprendrait pas 

davantage le rugissement du tigre.

……………………………………………………… (fragment de ‘Cahier d’un retour au pays natal)

– Aimé Césaire [tradução Vanderley Mendonça]. In: Vanderley Mendonça/facebook, 22 de março de 2019.

§§

PROFECIA

lá onde a aventura guarda os olhos claros

lá onde as mulheres irradiam de linguagem

lá onde a morte é bela na mão como um pássaro estação de leite

lá onde o subterrâneo colhe de sua própria genuflexão um luxo de pupilas mais violento que lagartas

lá onde a maravilha ágil faz flecha e fogo de toda madeira

lá onde a noite vigorosa sangra uma velocidade de puros vegetais

lá onde as abelhas das estrelas picam o céu de colmeia mais ardente que a noite

lá onde o barulho de meus saltos enche o espaço ergue às avessas a face do tempo

lá onde o arco-íris de minha palavra está carregado de unir o amanhã à esperança e o infante à rainha,

por ter injuriado meus mestres mordido os soldados do sultão

por ter gemido no deserto

por ter gritado para meus guardiões

por ter suplicado aos chacais e às hienas pastores de caravanas

eu olho

a fumaça se precipita em cavalo selvagem sobre o fundo da cena embainha um instante a lava de sua frágil cauda de pavão depois se rasgando a camisa abre de uma vez o peito e eu a olho em ilhas britânicas em ilhotas em rochedos despedaçados a dissolver pouco a pouco no mar lúcido do ar

onde se banham proféticos

minha garganta

………minha revolta

………….meu nome.

………………………………………………. (Les armes miraculeuses, 1946)

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PROPHÉTIE

là où l’aventure garde les yeux clairs

là où les femmes rayonnent de langage

là où la mort est belle dans la main comme un oiseau

…saison de lait

là où le souterrain cueille de sa propre génuflexion un luxe

…de prunelles plus violent que des chenilles

là où la merveille agile fait flèche et feu de tout bois

là où la nuit vigoureuse saigne une vitesse de purs végétaux

là où les abeilles des étoiles piquent le ciel d’une ruche

…plus ardente que la nuit

là où le bruit de mes talons remplit l’espace et lève

…à rebours la face du temps

là où l’arc-en-ciel de ma parole est chargé d’unir demain

…à l’espoir et l’infant à la reine,

d’avoir injurié mes maîtres mordu les soldats du sultan

d’avoir gémi dans le désert

d’avoir crié vers mes gardiens

d’avoir supplié les chacals et les hyènes pasteurs de caravanes

je regarde

la fumée se précipite en cheval sauvage sur le devant

…de la scène ourle un instant la lave de sa fragile queue

…de paon puis se déchirant la chemise s’ouvre d’un coup

…la poitrine et je la regarde en îles britanniques en îlots

…en rochers déchiquetés se fondre peu à peu dans la mer

…lucide de l’air

où baignent prophétiques

ma gueule

…….. ma révolte

………..mon nom. 

………………………………………………. (Les armes miraculeuses, 1946)

– Aimé Césaire [tradução Floriano Martins]. In: Aimé Césaire e o Milagre da Escrita (Martinica, 1913 – 2008). Apresentação e tradução Floriano Martins. In: Revista Acrobata / Floriano Martins, 18 de junho de 2020

§§

MÁGICO

com um naco de céu sobre um quinhão de terra

vocês feras que assobiam sobre o rosto desta morta

vocês livres avencas por entre as rochas assassinas

no extremo da ilha por entre les conchas muito vastas para seu destino

quando o meiodia cola seus timbres ruins sobre as dobras tempestuosas da loba

fora do quadro de ciência nula

e a boca de paredes do ninho sufeta das ilhas engolidas como um tostão

com um naco de céu sobre um quinhão de terra

profeta das ilhas esquecidas como um tostão

sem sono sem vigília sem dedo sem palancre

quando o tornado passa roedor do pão das cabanas

vocês feras que assobiam sobre o rosto dessa morta

a bela onça da luxúria e o caracol operculado

mole deslizamento dos grãos do verão que fomos

belas carnes a transpassar com o tridente das araras

quando as estrelas chanceleiras de cinco galhos

trevos do céu como gotas de leite derramado

reajustam um deus negro mal nascido de seu trovão

………………………………………………(Cadastre, 1961)

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MAGIQUE

avec une léche de ciel sur un quignon de terre

vous bêtes qui sifflez sur le visage de cette morte

vous libres fougères parmi les roches assassines

à l’extreme de l’île parmi les conques trop vastes pour le destin

lorsque midi colle se mauvais timbres sur les plis tempétieux de la louve

hors cadre de science nulle

et la bouche aux parois du nid suffète des îles englouties comme um sou

avec une léche de ciel sur un quignon de terre

prophète des îles oublièes comme um sou

sans sommeil sans veille sans doigts sans palancre

quand la tornade passe tongeur du pain des cases

vous bêtes qui sifflez sur la visage de cette morte

la belle once de la luxure et la coquille operculée

mol glissement des grains de l’été que nous fûmes

belles chairs à transpercer du trident des aras

lorsque les étoiles chancelières de cinq branches

trèfles au ciel comme des gouttes de lait chu

réajustent um dieu noir mal né de son tonnerre

………………………………………………(Cadastre, 1961)

– Aimé Césaire [tradução Floriano Martins]. In: Aimé Césaire e o Milagre da Escrita (Martinica, 1913 – 2008). Apresentação e tradução Floriano Martins. In: Revista Acrobata / Floriano Martins, 18 de junho de 2020.

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  • Aimé Césaire – poeta, dramaturgo, ensaísta e político

AIMÉ CÉSAIRE – POEMAS EM TRADUÇÕES PORTUGUESAS

A RODA

A roda é a mais bela descoberta do homem e a única

existe o sol que roda

a terra que roda

existe o teu rosto que roda sobre o eixo do teu pescoço quando choras

mas vós minutos não enrolareis na bobina da vida

o sangue lambido

a arte de sofrer aguçada como cotos de árvore pelas facas do inverno

a corça louca de sede

que vem mostrar-me à beira de água

teu rosto de escuna desmastrada

teu rosto

como uma aldeia adormecida no fundo de um lago

e que renasce na manhã da relva

semente dos anos

**

LA ROUE

La roue est la plus belle découverte de l’homme et la seule

il y a la soleil qui tourne

il y a la terre qui tourne

il y a ton visage qui tourne sur l’essieu do ton cou quand te pleures

mais vous minutes n’enrolerez-voux pas sur la bobine à vivre

le sang lapé

l’art de souffrir aiguisé comme des moignons d’arbre par les couteaux de l’hiver

la biche saoule de ne pas boire

qui me pose sur la margelle inattendue ton

visage de goélette démâtée

ton visage

comme un village endormi au fond d’un lac

et qui renait au jour de l’hérbe et de l’année

germe

– Aimé Césaire, em “Antologia Poética – Aimé Césaire”. selecção e tradução Armando da Silva Carvalho. Colecção Cadernos de Poesia, n. 16. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1970.

§§

ENTRE OUTROS MASSACRES

O sol e a lua lutam entre si como gigantes

As estrelas caem como testemunhas que amadureceram

Como uma ninhada de ratos cinzentos

Não tenhas medo apresta as grossas águas

Que arrebatam as margens e forçam os espelhos

Alguém colocou lama nos meus olhos

E eu vejo terrivelmente vejo

Que das montanhas e de todas as ilhas

O que resta são alguns maus destroços

Da impenitente saliva das marés

**

ENTRE AUTRES MASSACRES

De toutes leurs forces le soleil et la lune s’entrechoquent

les étoiles tombent comme des témoins trop mûrs

et comme une portée de souris grises

ne crains rien apprête tes grosses eaux

qui si bien emportent la berge des miroirs

ils ont mis de la boue sur mês yeux

et vois je vois terriblement je vois

de toutes les montagnes de toutes les îles

il ne reste plus rien que les quelques mauvais chicots

de l’impénitente salive de la mer

– Aimé Césaire, em “Antologia Poética – Aimé Césaire”. selecção e tradução Armando da Silva Carvalho. Colecção Cadernos de Poesia, n. 16. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1970.

§§

CONQUISTA DO AMANHECER

Morremos as nossas mortes nas florestas de eucaliptos gigantes, mimando os encalhes de forros estranhos,

no país onde crescer

é uma drosera irrespirável

pastando na boca das luzes sonâmbulas

embriagada

guirlanda muito bêbada roubando de uma forma evidente

as nossas pétalas de som

na chuva campanular de sangue azul,

Nós morremos

com olhares crescendo em amores extáticos em

quartos comidos por vermes, sem uma palavra sufocada nos nossos 

bolsos, como uma ilha

que se afunda na explosão enevoada dos seus pólipos –

a noite.

Nós morremos

entre as substâncias vivas inchadas de forma anedótica com premeditações

um arborizado que apenas jubila, que apenas rasteja no próprio coração

dos nossos gritos, que só pestanejam nas vozes das crianças,

que só rastejam pelas pálpebras no degrau perfurado

miriápodes sagrados, lágrimas silenciosas,

Morremos uma morte branca florescendo como a mesquita, seu esplêndido peito de ausência onde a aranha-pérola saliva sua ardente melancolia de mim convulsiva

na conversão inevitável do

fim.

Morte maravilhosa de nada.

Um cadeado fornecido para as fontes mais secretas da

árvore do viajante que se alarga nos quadris de uma gazela desatenta

Morte maravilhosa de nada

Os sorrisos escaparam do laço da complacência

a vender as joias de inestimável valor da sua infância

no auge da feira dos sensíveis no avental do anjo

na temporada da abertura da minha voz

na inclinação suave da minha voz

ruidosamente

a adormecer.

Morte maravilhosa de nada

Ah! a garça depositou o orgulho infantil a ternura divina

aqui nas portas mais polidas que os joelhos da prostituição – o castelo dos orvalhos – o meu sonho 

onde adoro a secura dos corações inúteis

(com excepção do triângulo da orquídea que sangra violentamente como o

silêncio da planície) a jorrar

numa glória de trombetas grátis com casca escarlate e coração não cremoso, escondendo da voz 

ampla precipícios do incêndio criminoso e tumultos inebriantes da cavalgada.

**

CONQUETE DE L’AUBE

Nous mourons notre mort dans des forêts d’eucalyptus géants dorlotant des échouages de paquebots saugrenus,

dans le pays où croître

drosera irrespirable

pâturant aux embouchures des clartés somnambules

ivre

très ivre guirlande arrachant démonstrativement

nos pétales sonores

dans la pluie campanulaire de sang bleu,

Nous mourons

avec des regards croissant en 

amours extatiques dans des salles vermoulues, sans parole de barrage dans nos poches, comme une île

qui sombre dans l’explosion brumeuse de ses polypes

– le soir,

Nous mourons

parmi les substances vivantes renflées anecdotiquement de préméditations

arborisées qui seulement jubilent, qui seulement s’insinuent au coeur même

de nos cris, qui seulement se feuillent de voix d’enfant,

qui seulement rampent au large des paupières dans la marche percée

des sacrés myriapodes des larmes silencieuses,

Nous mourons d’une mort blanche fleurissant de mosquées son poitrail d’absence splendide où l’araignée de perles salive son ardente mélancolie de monère convulsive

dans l’inénarrable conversion de la 

Fin.

Merveilleuse mort de rien.

Une écluse alimentée aux sources les plus secrètes de

l’arbre du voyageur s’évase en croupe de gazelle inattentive

Merveilleuse mort de rien

Les sourires échappés au lasso des complaisances

écoulent sans prix les bijoux de leur enfance

au plus fort de la foire des sensitives en tablier d’ange

dans la saison liminaire de ma voix

sur la pente douce de ma voix

à tue-tête

pour s’endormir.

Merveilleuse mort de rien

Ah! l’aigrette déposée des orgueils puérils les tendresses devinées

voici aux portes plus polies que les genoux de la prostitution – le château des rosées – mon rêve

où j’adore du dessèchement des coeurs inutiles

(sauf du triangle orchidal qui saigne violent comme le

silence des basses terres) jaillir

dans une gloire de trompettes libres à l’écorce écarlate coeur non crémeux, dérobant à la voix 

large des précipices d’incendiaires et capiteux tumultes de cavalcade.

– Aimé Césaire. [tradução Nicolau Saião]. In: Revista Acrobata, 28 de janeiro de 2022. 

§§

A MULHER E A CHAMA

Um pouco de luz que desce a nascente de um olhar

sombra gêmea do cílio e do arco-íris num rosto

e ao seu redor

quem lá vai angelicamente

vaguear

Mulher o clima de agora

e o tempo actual pouco importam para mim

pois a minha vida está sempre à frente de um furacão

Tu és a manhã que desce sobre a lâmpada com uma pedra noturna

entre os dentes

tu és a passagem das aves marinhas e também

és o vento através das junqueiras salgadas da consciência

insinuando-se de outro mundo

Mulher

tu és um dragão cuja cor adorável se dispersa e escurece tanto

como a constituição do canto inevitável das coisas

Estou acostumado a roçar os incêndios

estou acostumado com cinzentos ratos do mato e íbis de bronze da chama

Mulher ficheiro do lindo fantasma da trave

capacete de algas de eucalipto

o amanhecer não é

o abandono das fitas

de um muito saboroso nadador.

**

LA FEMME ET LA FLAMME

Un morceau de lumière qui descend la pente d’un regard

l’ombre jumelle du cil et de l’arc-en-ciel sur le visage

et alentour

qui va là angélique

et amble

Femme le temps qu’il fait

le temps qu’il fait peu m’importe

ma vie est toujours en avance d’un ouragan

tu es le matin qui fond sur le fanal une pierre de nuit

entre les dents

tu es le passage aussi d’oiseaux marins

toi qui es le vent à travers les ipoméas salés de la connaissance

d’un autre monde s’insinuant

Femme

tu es un dragon dont la belle couleur s’éparpille et s’assombrit

jusqu’à former l’inévitable teneur des choses

j’ai coutume des feux de brousse

j’ai coutume des rats de brousse de la cendre et des ibis mordorés de la flamme

Femme liant de misaine beau revenant

casque d’algues d’eucalyptus

l’aube n’est-ce pas

et au facile des lisses

nageur très savoureux

– Aimé Césaire. [tradução Nicolau Saião]. In: Revista Acrobata, 28 de janeiro de 2022. 

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Aimé Césaire – poeta, dramaturgo, ensaísta e político / blog Aimé Césaire – Negritude

AIMÉ CÉSAIRE – POEMAS EM PROSA

Aimé Césaire, em “Diário de um Retorno ao País Natal / Cahier d un Retour au Pays Natal . Aimé Césaire”. [tradução, notas, bibliografia e posfácio Lilian Pestre de Almeida]. Edição bilingue. São Paulo: Edusp, 2012.

DIÁRIO DE UM RETORNO AO PAÍS NATAL

E não são unicamente as bocas que cantam, mas as mãos, os pés, as nádegas, os sexos, e a criatura inteira que se liquefaz em sons, voz e ritmo.

Chegando ao ápice de sua ascensão, a alegria arrebenta como uma nuvem. Os cantos não param, mas rolam agora inquietos e pesados pelos vales do medo, os túneis da angústia e os fogos do inferno.

Cada um põe-se a comer o pão que o diabo mais próximo amassou até que o medo se desfaça invisivelmente nos finos areais do sonho, e vive-se verdadeiramente como num sonho, e bebe-se e grita-se e canta-se como num sonho, cochilando também como num sonho com pálpebras de pétalas de rosa, e o dia chega aveludado como um sapoti, e o aroma de chorume dos cacaueiros, e os perus que desfilam suas pústulas rubras ao sol, e a obsessão dos sinos, e a chuva

os sinos… a chuva…

que repicam, repicam, repicam…

No fim da madrugada, essa cidade achatada – exposta… 

………………………………………………………………………………………………. [p. 21]

**

Quem e o que somos? Admirável pergunta!

De tanto olhar as árvores tornei-me uma árvore 

e meus longos pés de árvores cavaram no solo 

largas bolsas de veneno altas cidades de ossadas

de tanto pensar no Congo

tornei-me um Congo farfalhante de florestas e rios

onde o chicote estala como um grande estandarte

o estandarte do profeta

onde a água faz

licualá-licualá

onde o raio da cólera lança seu machado esverdeado e acua 

os javalis da putrefação na bela orla 

violenta das narinas

[p. 37]

E eis no fim desta madrugada minha prece viril

Que eu não ouça nem risos nem gritos, os olhos fixos 

nessa cidade que profetizo, bela

dai-me a fé selvagem do feiticeiro

dai às minhas mãos poder de modelar

dai à minha alma a têmpera da espada

não me esquivo. Fazei da minha cabeça uma cabeça de 

proa

e de mim mesmo, meu coração, não façais nem um pai nem 

um irmão, 

nem um filho, mas o pai, mas o irmão, 

não um marido, mas o amante deste povo único.

Fazei-me rebelde a toda vaidade, mas dócil ao seu 

gênio

Como o punho no estender do braço!

fazei-me comissário do seu sangue

fazei-me depositário do seu ressentimento

fazei de mim um homem de conclusão

fazei de mim um homem de iniciação

fazei de mim um homem de recolhimento

mas fazei também de mim um homem de semeadura

fazei de mim o executor dessas obras altas

é chegado o tempo de cingir os rins como um cavaleiro ─

Mas fazendo-o, meu coração, preservai-me de todo 

ódio

Não façais de mim esse homem de ódio por quem 

só tenho …..[ódio

Pois embora me restrinja a essa raça única

sabeis no entanto meu amor tirânico

sabeis que não é por ódio das outras 

raças

que me exijo lavrador dessa raça única

o que quero 

é pela fome universal

pela sede universal

intimá-la livre enfim

a produzir de sua intimidade fechada

a suculência dos frutos 

……………………………………………………………………………………………….[p. 69].

**

porque não é verdade que a obra do homem está 

acabada

que não temos nada a fazer no mundo

que parasitamos o mundo

que basta que marquemos o nosso passo pelo passo do mundo

ao contrário a obra do homem apenas 

começou

e falta ao homem conquistar toda interdição 

imobilizada nos recantos do seu fervor

e nenhuma raça possui o monopólio da beleza, 

da inteligência, da força

e há lugar para todos no encontro marcado da 

conquista e sabemos agora que o sol 

gira em torno da terra iluminando a parcela 

fixada por nossa única vontade e que toda estrela cai do 

céu na terra pelo nosso comando sem limite.  

……………………………………………………………………………………………….[p. 81]

***

CAHIER D UN RETOUR AU PAYS NATAL

Et ce ne sont pas seulement les bouches qui chantent, mais les mains, mais les pieds, mais les fesses, mais les sexes, et la créature tout entière qui se liquéfie en sons, voix et rythme.

Arrivée au sommet de son ascension, la joie crève comme un nuage. Les chants ne s’arrêtent pas, mais ils roulent maintenant inquiets et lourds par les vallées de la peur, les tunnels de l’angoisse et les feux de l’enfer.

Et chacun se met à tirer par la queue le diable le plus proche, jusqu’à ce que la peur s’abolisse insensiblement dans les fines sablures du rêve, et l’on vit comme dans un rêve véritablement, et l’on boit et l’on crie et l’on chante comme dans un rêve, et l’on somnole aussi comme dans un rêve avec des paupières en pétales de rose, et le jour vient velouté comme une sapotille, et l’odeur de purin des cacaoyers, et les dindons qui égrènent leurs pustules rouges au soleil, et l’obsession des cloches, et la pluie,

les cloches… la pluie… 

qui tintent, tintent, tintent…

Au bout du petit matin, cette ville plate – étalée…

……………………………………………………………………………………………….[p. 21]

**

Qui et quels nous sommes? Admirable question!

A force de regarder les arbres je suis devenu un arbre 

et mes longs pieds d’arbre ont creusé dans le sol de 

larges sacs à venin de hautes villes d’ossements 

à force de penser au Congo

je suis devenu un Congo bruissant de forêts et de

fleuves

où le fouet claque comme un grand étendard 

l’étendard du prophète

où l’eau fait

likouala-likouala

où l’éclair de la colère lance sa hache verdâtre et force 

les sangliers de la putréfaction dans la belle orée 

violente des narines.

……………………………………………………………………………………………….[p. 37]

**

et voici au bout de ce petit matin ma prière virile

que je n’entende ni les rires ni les cris, les yeux fixés

sur cette ville que je prophétise, belle, donnez-moi la foi sauvage du sorcier

donnez à mes mains puissance de modeler donnez à mon âme la trempe de l’épée

je ne me dérobe point. Faites de ma tête une tête de

proue

et de moi-même, mon cœur, ne faites ni un père, ni un frère,

ni un fils, mais le père, mais le frère, mais le fils, ni un mari, mais l’amant de cet unique peuple.

Faites-moi rebelle à toute vanité, mais docile à son génie

comme le poing à l’allongée du bras! Faites-moi commissaire de son sang

faites-moi dépositaire de son ressentiment faites de moi un homme de terminaison

faites de moi un homme d’initiation

faites de moi un homme de recueillement

mais faites aussi de moi un homme d’ensemencement

faites de moi l’exécuteur de ces œuvres hautes

voici le temps de se ceindre les reins comme un 

vaillant homme –

Mais les faisant, mon cœur, préservez-moi de toute

haine 

ne faites point de moi cet homme de haine pour qui 

je n’ai que haine

car pour me cantonner en cette unique race

vous savez pourtant mon amour tyrannique

vous savez que ce n’est point par haine des autres 

races

que je m’exige bêcheur de cette unique race

que ce que je veux

c’est pour la faim universelle

pour la soif universelle

la sommer libre enfin

de produire de son intimité close 

la succulence des fruits.

……………………………………………………………………………………………….[p. 69].

**

car il n’est point vrai que l’œuvre de l’homme est 

finie

que nous n’avons rien à faire au monde

que nous parasitons le monde 

qu’il suffit que nous nous mettions au pas du monde 

mais l’œuvre de l’homme vient seulement de 

commencer

et il reste à l’homme à conquérir toute interdiction 

immobilisée aux coins de sa ferveur

et aucune race ne possède le monopole de la beauté, 

de l’intelligence, de la force

et il est place pour tous au rendez-vous de la 

conquête et nous savons maintenant que le soleil 

tourne autour de notre terre éclairant la parcelle qu’à 

fixée notre volonté seule et que toute étoile chute de 

ciel en terre à notre commandement sans limite.

……………………………………………………………………………………………….[p. 81].

– Aimé Césaire, em “Diário de um Retorno ao País Natal / Cahier d un Retour au Pays Natal . Aimé Césaire”. [tradução, notas, bibliografia e posfácio Lilian Pestre de Almeida]. Edição bilingue. São Paulo: Edusp, 2012.

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Aimé Césaire, por Helton Mattei

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Aimé Césaire, por Olivier Balez / Le Monde

AIMÉ CÉSAIRE – DOCUMENTÁRIOS

AIMÉ Césaire, A Máscara das Palavras / ‘Aimé Césaire, The Mask of Words‘. Direção e roteiro: Sarah Maldoror. Fotografia: Jean-Pierre Caussidery. Martinica, EUA, 1987, 47 min.

CAHIER d’un retour au pays natal. Realização: Philippe Bérenger e Emmanuelle Daude.  Roteiro: Philippe Bérenger, Patrick-Mario Bernard e Pierre Trividic. Produção: Olivier Roncin. França. Pois Chiche Films, RFO, Comédie Noire, BCI, Odysseus. 2008. DVD (69 min.), color | Fonte: Film Documentaire FR. / Disponível em Kaltura Mediaspace – University of Wisconsin-Madison  (acessado em 26.3.2024)

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FORTUNA CRÍTICA DE AIMÉ CÉSAIRE

AIMÉBlog Aimé Césaire – Negritude. Disponível no link. (acessado em 27.3.2024).

AIMÉ Césaire: poetry, surrealism and négritude. In: The Dalí Museum, September 10, 2021. Disponível no link. (acessado em 27.3.2024).

AIMÉ, Césaire. [trechos] ‘Textos escolhidos’: Aimé Césaire e o pensamento decolonial. In: Nexo Jornal, 15.7.2022. Disponível no link. (acessado em 28.3.2024).

ALMEIDA FILHO, Eclair Antonio. Traduções de poemas de André Breton, Benjamin Péret, Aimé Cesaire, Jacques Prévert, Robert Desnos e Paul Éluard. In: Zunái: Revista de Poesia & Debates, v. XIX, p. 1-15, 2009.

ALMEIDA, Lilian de.. O teatro negro de Aimé Césaire. Niterói: Editora da UFF-CEUFF, 1978.

ALMEIDA, Lilian Pestre de.. Aimé Césaire. Une saison em Haiti. Québec: Mémoires d’Encrier, 2010.

ALMEIDA, Lilian Pestre de.. Césaire hors frontières: Poétique, intertextualité et littérature comparée. Würzburg: Königshausen & Neumann, 2015.

ALMEIDA, Lilian Pestre de.. Novos caminhos no mundo Césaire. In: Agulha – Revista de Cultura, 6 de janeiro 2016. Disponível no link. (acessado em 27.3.2024)

ALMEIDA, Lilian Pestre de.. Un poème sur la longue durée, écrit et réécrit au fil du temps. In: Revue italienne d’études françaises [En ligne], 12 – 2022. Disponível no link. (acessado em 27.3.2024).

ALMEIDA, Lilian Pestre de; SCHEINOWITZ, Celina de Araújo. Deux entretiens avec Aimé Césaire. In: África – Revista do Centro de Estudos Africanos da USP, São Paulo, n. 6, p. 129-138, 1986.  Disponível no link. (acessado em 26.3.2024)

ALVES, Alcione Correa. Primeiro caderno de poesia do aluno Aimé Césaire. In: IV Conferencia Internacional Negritud, 2014, Cartagena. Negritud. Estudios afrolatinoamericanos. Memorias del IV Congreso. Cartagena: Editorial Negritud. Universidad de Cartagena, 2014. v. 1. p. 82-94.

ANTOLOGIA / S15O Rio de Memórias | Aimé Césaire. [organização Floriano Martins]. In: Agulha – Revista de Cultura; ARC Edições, 6 de janeiro 2016. Disponível no link. (acessado em 27.3.2024)

ARAÚJO, Dulce. Aimé Césaire – A Negritude como Humanismo. In: Vatican News, julho/2023. Disponível no link. (acessado em 28.3.2024).

AZARA, Michel Mingote Ferreira de.. Paisagens afrodiaspóricas em Diário de um retorno ao país natal, de Aimé Césaire. In: Texto Poético, v. 17, p. 32-52, 2021. Disponível no link. (acessado em 26.3.2024)

AZEVEDO, Érika Pinto de.. Aimé Césaire et son discours poétique sur Antilles. In: Légua & Meia, v. 1, p. 8-18, 2020. Disponível no link. (acessado em 26.3.2024)

AZEVEDO, Érika Pinto de.. ‘Avis de tirs’ de Aimé Césaire, discurso poético sobre as Antilhas. In: Érika Pinto de Azevedo; Aldenice Couto; Rosivaldo Gomes. (Org.). O Uso das novas tecnologias na formação de professores de línguas estrangeiras. 1 ed., Goiânia: Editora Espaço Acadêmico, 2020, v. 1, p. 146-164.

AZEVEDO, Maikele de Farias; GIL, Beatriz Cerisara. Tradução de uma disputa: Christophe versus Pétion em La tragédie du roi Christophe, de Aimé Césaire. In: Translatio, v. 22, p. 22-33, 2021. Disponível no link. (acessado em 27.3.2024)

BAILEY, Marianne Wichmann. The Ritual Theater of Aimé Césaire: Mythic Structures of the Dramatic Imagination. Études littéraires françaises, n. 49. Tübingen: Narr, 1992.

BARBOSA, Daiani da Silva. Aspectos acerca do genocídio no Discurso sobre o Colonialismo, de Aimé Césaire. In: Jornada de História da UFBA, 2022, Salvador. Edição especial: Anais da Jornada de História da UFBA (2021). Salvador: Revista de História da UFBA, 2022. v. 10. p. 1-14. Disponível no link. (acessado em 26.3.2024)

BARBOSA, Jefferson Eduardo da Paz. Poesia e dialética da negritude em Aimé Césaire e Jean-Paul Sartre. In: Elio Ferreira; Feliciano José Bezerra Filho; Margareth Torres de Alencar Costa. (Org.). Literatura e cultura afrodescendente e indígena: Brasil, Caribe, Colômbia e Estados Unidos. 3 ed., Teresina: Fundação Universidade Estadual do Piauí, 2017, v. 5, p. 179-186.

BARBOSA, Jefferson Eduardo da Paz. Poesia e dialética da negritude em Aimé Césaire e Jean-Paul Sartre. In: IV Encontro Internacional de Literaturas, Histórias e Culturas Afro-brasileiras e Africanas, 2016, Teresina. Identidades e Diásporas: afrodescendência, africanidade, educação e cultura indígena. Teresina: UESPI;, 2015. v. 4. p. 712-719.

BARROSO, Ivo. Alguns poetas de expressão francesa. In: Dicta & Contradicta, s/ data. Disponível no link. (acessado em 27.3.2024)

BONIFÁCIO, Caio. Aimé Césaire: imagens oníricas de uma tragédia. In: Select Art, 27.7.2023. Disponível no link. (acessado em 28.3.2024).

BOUVIER, Pierre. Aimé Césaire, Frantz Fanon: Portraits de décolonisés. Paris: Les Belles Lettres, 2010

BRAZ, Beatriz D’Angelo; SILVA-REIS, Dennys. Do verso poético à tomada fílmica: a cinematização de Cahier d’un retour au pays natal de Aimé Césaire / From the Poetic Verse to the Filmic Take: The Cinematization of Aimé Cesaire’s Cahier d’un Retour au Pays Natal. In: Caligrama (UFMG), v. 25, p. 253-275, 2020.  Disponível no link. (acessado em 26.3.2024)

BRITO, Júlia Carvalho de.. Racismo e colonialismo na obra de Aimé Césaire (TCC Monografia em Estudos da Linguagem). Universidade Estadual de Campinas, UNICAMP, 2020. Disponível no link. (acessado em 27.3.2024)

CARDOSO, Maurício; ANDRADE, Julia Cossermelli de.. Combates ao colonialismo: livro do antilhano Aimé Césaire traça em cores fortes as relações entre o Ocidente europeu e as regiões colonizadas do planeta. In: Retrato do Brasil, São Paulo, p. 44-45, 10 dez. 2010.

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Caricatura: Aimé Césaire, por Bertrand Daullé 

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Aimé Césaire, por Joachim Rossignol

“Sim, valeria a pena estudar — clinicamente, em detalhe — as ações de Hitler e do hitlerismo e revelar ao mui distinto, mui humanista, mui cristão burguês do século XX, que ele carrega em si um Hitler recôndito, que Hitler o habita, que Hitler é seu demônio, que, se ele o despreza, é por falta de lógica, e que, no fundo, o que ele não perdoa a Hitler não é o crime em si, o crime contra o ser humano, não é a humilhação do ser humano em si, é o crime contra o ser humano branco, é a humilhação do ser humano branco e o fato de ter aplicado à Europa métodos colonialistas que até ali estavam reservados apenas aos árabes da Argélia, aos cules da Índia e aos negros da África”

– Aimé Césaire. em “Aimé Césaire, textos escolhidos: A tragédia do rei Christophe, Discurso sobre o colonialismo, Discurso sobre a negritude.” [tradutor Sebastião Nascimento]. Rio de Janeiro: Editora Cobogó, 2022.

“A colonização, repito, desumaniza até o homem mais civilizado; a ação colonial, o empreendimento colonial, a conquista colonial fundada no desprezo pelo homem nativo e justificada por esse desprezo, inevitavelmente tende a modificar a pessoa que o empreende; o colonizador, ao acostumar-se a ver o outro como animal, ao treinar-se para tratá-lo como um animal, tende objetivamente, para tirar o peso da consciência, a se transformar, ele próprio, em animal”

– Aimé Césaire, em “Discurso sobre o colonialismo”. [tradução e notas Claudio Willer]. Editora Veneta, 2020.

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  • Léopold Sédar Senghor, Senegalese poet, and the first president of Senegal, and Aimé Césaire, poet, author and politician from Martinique, attending the “Negritude, Ethnicity, and Afro Cultures in the Americas” conference held Feb. 26-28, 1987, Florida International University | Fonte: Dpanther

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Aimé Césaire, por Jason Kibiswa / Studio Malaïka

© Pesquisa, seleção, edição e organizaçãoElfi Kürten Fenske

© Seleção e organização dos poemasJosé Alexandre da Silva


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COMO CITAR:
FENSKE, Elfi Kürten; SILVA, José Alexandre da. (pesquisa, seleção, edição e organização). Aimé Césaire – poeta, dramaturgo, ensaísta e político caribenho. In: Templo Cultural Delfos, março/2024. Disponível no link. (acessado em …/…/…).

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:: Página atualizada em 28.3.2024.

:: Página original de MARÇO/2024

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