Ainda estamos aqui!

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Por Washington Luiz de Araújo, jornalista, Bem Blogado

Na segunda-feira, 18 de novembro, às 13 horas, fomos ver o filme “Ainda Estou Aqui”, no Cine Belas Artes, São Paulo. Na chegada à sala quase lotada, vimos um senhor olhando para o ingresso e para a poltrona. Perguntamos se precisava de ajuda e ele disse que não estava vendo direito o número do assento. Verificamos que o número era 11, E11, sendo que ele pensava que era 01. “Minhas vistas, aos 81 anos, já não são as mesmas, meio que se desculpou”. Como sentamos logo atrás, fomos conversando sobre a magia do cinema, até começarem os comerciais que antecediam ao filme, correndo o risco de ouvirmos o famoso “psiuuuu”.




Terminada a sessão, minha companheira, Carmola, saiu na frente mas resolvi olhar para o senhor e perguntar sobre o que achou do filme. Ele estava com os olhos marejados e, confesso, eu também. Não precisava dizer nada, só disse: “E pensar que tem gente que quer ditadura”.

Minha companheira volta, pois olhou para trás e não me viu saindo do escuro da sala. Vê os dois sentados, vendo até o final dos letreiros, pois o senhor pediu para ficar até a última legenda, pois “pode ter alguma surpresa”.

Dalí, fomos para a fila do café, sempre falando sobre cinema, filme históricos. O senhor se apresenta como Lourenço Paulillo, dizendo que grande parte de sua vida, de mais de oito décadas, foi vivida numa sala de cinema.

Enquanto o café não chegava, fizemos amizade com outro cinéfilo, o senhor Cláudio Louceiro de 73 anos, também muitos dos quais de olho numa tela cinematográfica.

Durante cerca de meia hora ficamos ali, conversando. Lourenço lembrando junto com Cláudio, minha companheira e eu dos cinemas antigos, hoje quase todos extintos, do centro de São Paulo. Eles, com mais memória do que a gente sobre a fase áurea dos cinemas paulistanos.

Sobre o “Ainda Estou Aqui”, falamos pouco, pois ainda estávamos impactados, mas Cláudio lembrou que foi fotógrafo da peça “Feliz Ano Velho”, protagonizada pelo seu amigo Marcos Frota, de autoria de Marcelo Rubens Paiva, cujo livro inspirou o filme que acabávamos de assistir e acentuo sobreo cinema no qual estávamos: “O Belas Artes foi durante muito tempo meu quintal, pois morava aqui perto e daqui não saía, hoje moro no ABC, mas venho sempre que posso”.

Já Lourenço contou que, de tão cinéfilo, na década de 60, enviou para um estúdio em Hollywood um pedido de autógrafo à atriz Susan Hayward. Tempos depois recebeu pelo Correio uma foto autografada pela belíssima atriz de “As Neves do Kilimanjaro”.  

Despedidas, trocas de contatos para o WhatsApp, Lourenço ficou de me enviar crônicas que têm escrito. Ele, administrador de empresas aposentado, morador numa chácara nas redondezas do extremo sul da Capital paulista, agora dedica-se a escrever, tendo feito, entre outras coisas, texto sobre os cinemas antigos e, infelizmente, extintos, do centro da cidade. Em breve, vocês lerão no Bem Blogado esta e outras crônicas do agora amigo de infância Lourenço Paulillo.

Pois é, ainda estamos aqui. Sorriam!

Foto: Carmola, Lourenço, Cláudio e Washington

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