Ainda existe esquerda e direita?

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POLÍTICA

Por Jorge Furtado

Não lembro quem disse, com alguma razão, que esta pergunta é sempre feita por pessoas de direita. Isto, talvez, porque a direita nasceu e sempre esteve mais perto do rei, do poder, da riqueza, e é conveniente não alardear muito esta posição privilegiada, melhor espalhar a notícia de que todo mundo pode ser de elite, não importa o endereço ou o saldo bancário. Direita e esquerda são posições relativas, vista do mar Ipanema está à esquerda de Copacabana e à direita do Leblon. Num determinado momento histórico ser de esquerda era lutar contra o trabalho de crianças em minas de carvão e o direito ao descanso depois de seis dias de trabalho, noutro era lutar pela volta da democracia e o fim da censura, noutro pelo direito de greve ou pelos direitos das minorias, noutro pela regulação que o estado, democraticamente eleito pelo povo, deve fazer do mercado, hereditário e eleito por si mesmo.

Hoje, Dilma e Lula defendem o fortalecimento dos bancos públicos, que fazem grandes investimentos sociais a juros mais baixos (por exemplo, na construção de casas populares), enquanto os grandes bancos privados querem liberdade para seus lucros e nisso são apoiados por Marina. Dilma e Lula querem garantir que as políticas econômicas sejam usadas segundo critérios sociais  (geração de emprego, distribuição de renda), enquanto Marina quer dar autonomia ao Banco Central, para a felicidade do mercado financeiro. Dilma e Lula defendem o uso social, pela Petrobrás, dos lucros crescentes do pré-sal, ao contrário de Marina, que não dá prioridade à exploração destas reservas, e das grandes petroleiras americanas, que querem a volta do antigo e lucrativo sistema de concessão. Dilma e Lula, em seus governos e em seu programa, defendem a criação de empregos com investimentos públicos, ao contrário de Marina e do capital rentista, que buscam o centro da meta da inflação a qualquer custo, inclusive o provável custo social do desemprego.




Hoje, Dilma e Lula estão à esquerda de Marina, não é à toa sua candidatura cresce tirando votos especialmente de Aécio Neves, representante da direita autêntica (PSDB, DEM, PTB). Marina, sem base parlamentar, diz que pretende governar “com os bons”, acima dos partidos, “com a força das ruas”, como declarou seu vice. No Brasil, candidatos sem base parlamentar, pregando contra a corrupção e por uma “nova política”, querendo governar com “a força das ruas” não são uma novidade, Jânio e Collor se elegeram com o mesmo discurso. O problema é que a tal força das ruas dura só alguns meses, enquanto “as ruas” acreditam que mudar “tudo isso que está aí” depende apenas da boa vontade do novo governante que, além de tudo, é sustentado pelo grande capital e exatamente por “tudo isso que está aí”

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