Para enfrentar os dilemas em mobilidade, saneamento, segurança saúde e educação, cidade precisa refundar e renovar pactos
Por Edu Carvalho, compartilhado de Projeto Colabora
Há dois anos, escrevi sobre o início da gestão de Eduardo Paes à frente da Prefeitura do Rio. Era sua volta, cinco anos depois, num Rio transfigurado e sob terra totalmente arrasada: após um prefeito que não cuidou das pessoas, como prometia; dois governadores presos e um em exercício, com mandato-tampão. Sem falar, é claro, sobre o presidente eleito em 2018 e que, após dois anos de poder, fazia do país uma espécie de picadeiro.
Analisar o Brasil sob a ótica do Rio de Janeiro não é bairrismo; afinal, aqui está, para o bem e para o mal, a vanguarda do que pode acontecer de melhor e de pior em todo o patropi.
E não sou eu quem está dizendo isso, mas sim o economista ítalo-carioca André Urani, falecido em 2011, com quem aprendi a ser carioca não só por sangue, mas por opção e paixão. “Porque aqui se concentram a dor e, possivelmente, a resistência às mudanças. Porque aqui vivemos as consequências dessa nossa desigualdade virulenta e desvairada num contexto de estagnação econômica e imobilidade social, de aumento de desemprego”.
Há repetição para tudo e todos os lugares onde olhamos. Embora contemporâneo, o fragmento destacado acima foi escrito em 2008, no livro “Trilhas para o Rio”. Nele, Urani falava não sobre boas opções de trilhas a serem descortinadas, mas sim sobre um mapa dos principais problemas da metrópole, propondo soluções viáveis para o fim da letargia fluminense. O que não é muito diferente de 2021, quando Eduardo Paes assumiu, e ainda vigora por agora, se olhado alguns pontos que precisam ser trabalhados para melhoria efetiva da cidade.
Econômica e politicamente em fase de maturação – antes em devastação -, tanto a cidade quanto o estado transformaram-se em palco do que há de mais sórdido no país. E não, não estou falando sobre os pedidos de quebra de sigilo que podem colocar um terceiro governador, em sequência, para atrás das grades. Ainda assim, me atenho a escrever, neste momento, sobre os rumos da metrópole.
Pouco mais de um ano do fim da maior crise sanitária do século e a mudança de gestão da capital, recaíram e até multiplicaram-se, sobre o colo de Paes, os dilemas que já coabitavam a capital durante a primeira fase de sua gestão. E já não eram poucos os abacaxis naquela época….
Lendo “Rio por Inteiro”, do estudioso orgânico Henrique Silveira, repenso os caminhos que passamos e precisamos passar. Henrique é cria da Baixada Fluminense, diretamente de Imbariê, Duque de Caxias. Conhece, como poucos, a realidade precária dos serviços públicos. Mas, ao se tornar um geógrafo dedicado a resolver os desafios da metrópole do Rio de Janeiro, juntou seu time, ao lado de Vitor Mihessen, Larissa Amorim e mais uma turma, na proposição da Casa Fluminense.
Do livro, é possível entender o que nos falta e aquilo que nos sobra enquanto projeto viável – e possível – de megalópole, a partir de eixos fundamentais, como mobilidade, saneamento básico, habitação, gestão e participação social. É uma análise cristalina, dedicada à construção de políticas públicas para pôr, no chão, as desigualdades que nos assolam.
Vendo e revendo tudo o que já foi ao menos tentado à solução, as batalhas não se esgotam. Ainda é preciso reparar e dar suporte às clínicas da família; assistência devida é imprescindível à educação; construir políticas de segurança pública integradas com o Estado e demais regiões metropolitanas; além de pautar, verdadeiramente, a criação de uma cidade ‘verde’. Afinal, 2024 é logo ali e receberemos uma cúpula do G20 para chamar de ‘nossa’.
É preciso refundar os pactos e até renová-los, com a ajuda de todos no arregaçar das mangas.
E por quê? Como diria Urani, “é o Rio, ora bolas!”.