Historiador usa Inteligência Artificial para criar imagens de Maria Quitéria, Caboclo, Maria Filipa e Joana Angélica
Por Edu Carvalho, compartilhado de Projeto Colabora
Qual não foi o meu espanto quando li o último artigo de Agostinho Vieira aqui em Colabora, intitulado ‘’Os vestígios do 2 de Julho em Ipanema’’ e perceber que não era o único que desconhecia a importância da data. Por uma ignorância que condensa a falta de informação no período escolar, aliada pela falta de vontade pessoal, o 2 de Julho seguiu ao passo de minha consciência.
Mas foi ao ser perguntado por minha namorada, Larissa Couto, também jornalista e, antes de tudo, baiana, que as coisas se ‘’clarearam’’. A partir do ‘’Ué, não é feriado aí também? Vocês não comemoram?’’, fiz do espanto a vontade investigativa de ir além, tentando entender não só o período, como também a possibilidade dele se fazer presente no agora. Quando então, mais uma vez, fui atravessado pela questão.
Foi quando o historiador Tiago Medeiros, um amante de tecnologia e especialista em Inteligência Artificial, me sinalizou seu mais recente trabalho: a recriação das imagens dos personagens que são relevantes para a Bahia e que deveriam ser para o país, mas que ficam emoldurados e distantes da sociedade atual.
A intenção de Tiago é criar uma conexão com a juventude e com os mais vividos. ‘’Criei para colocar esses personagens no patamar que merecem. Vemos esse tipo de construção para personagens da Disney e similares e sei que isso gera consumo e admiração. Então pensei: ‘Por que não com gente nossa?’ Fui lá e fiz’’, me respondeu numa conversa.
Nas imagens criadas por IA, estão Maria Quitéria, Caboclo, Maria Filipa, Joana Angélica e o Corneteiro Lopes (que, para mim, era só um corneteiro parado na Visconde de Pirajá; e que agora, passa a ser um dos personagens mais instigantes do período descrito). ‘’Como historiador sinto que a forma de se fazer mídia interessante se modificou, e essa mudança é muito normal. E a melhor forma de se fazer presente é estar nas mídias interessantes, atualmente: na internet’’.
Acreditando na força das plataformas e do contato direto com os mais jovens, o professor dispõe energia sobre a realização, como mais um instrumento de estudo e ativação dos símbolos. ‘’Faz tempo que precisamos fazer com que a informação chegue até as pessoas de forma surpreendente e interessante. Neste momento, não vejo mais capaz de fazer isso do que a Inteligência Artificial’’.
Dessa forma, a tão desejada Independência baiana, que também significa a Independência do Brasil, concretizada em 02 de julho de 1823, há duzentos anos, se torna vivo em nós. Como explicado por Caetano Veloso em um post no Instagram, há dois anos, sobre a comemoração que tanto mobiliza a primeira capital do país.
‘’O 2 de Julho na Bahia é muito mais importante do que o 7 de Setembro. A Independência brasileira não se deu na hora do grito às margens do Ipiranga. Aquilo foi só um anúncio. Na Bahia, as lutas duraram até julho de 1823’’. Lutas que vemos reflexos até hoje.
P.S.: no fim da edição da coluna, recebi a notícia sobre a decisão de que a Suprema Corte americana vetou os critérios raciais e étnicos para entrada nas universidades. O tema pode nos afetar. Voltarei a ele na próxima coluna.