“Ainda temos o amanhã” e a eterna luta feminina.

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Adoro ser crítico de cinema, mas a profissão (ou seria o ofício?) às vezes nos coloca em algumas sinucas de bico. É o caso do spoiler, por exemplo: pessoalmente, tenho um combinado comigo mesmo de nunca colocar no texto qualquer informação de roteiro que se passe após os 15 minutos de filme. Tem gente que não liga para spoiler. Eu ligo.

Por Celso Sabadin, compartilhado de Planeta Tela




E sobre os finais, então? Ao dizer, por exemplo, que um final é surpreendente – mesmo sem especificar do que se trata – o crítico já está dando um spoiler, pois o público ficará esperando pela surpresa. E esperar pela surpresa jamais é surpreendente, o que vale dizer que o trabalho do coitado do roteirista que queimou as pestanas pra criar um final surpreendente foi estragado pela crítica.

Todos estes pensamentos – e vários outros – me vieram à mente enquanto assistia a “Ainda Temos o Amanhã”, longa que participa da programação da 8 ½ Festa do Cinema Italiano e que entrou em cartaz no circuito brasileiro nesta quinta-feira, 04/07.

O filme se passa na Roma do pós Segunda Guerra, período que pode ser considerado por muitos como romântico e nostálgico (características aqui potencializadas pela estética do preto e branco e pelas canções da trilha musical), mas não para as mulheres. Especificamente não mesmo para Delia, interpretada por Paola Cortellesi, também corroteirista e diretora do filme. Ela é uma dona de casa de meia idade que vê sua Itália natal ser libertada do fascismo pelos aliados, mas que continua vivendo a violência da ditadura misógina dentro de sua própria casa.

Os milenares padrões machistas de opressão são perpetuados pelo marido Ivano (Valerio Mastandrea), ao mesmo tempo em que a filha mais velha, Marcella (Romana Maggiora Vergano) parece tentar fugir dos ultrapassados comportamentos… embarcando em outros ultrapassados comportamentos

Delia assiste a tudo com desesperada impotência. Haveria uma saída?

Em várias oportunidades, “Ainda Temos o Amanhã” resvala no melodramático telenovelesco, criando a dúvida se tal estilo seria uma escorregada da diretora estreante ou uma consciente mimetização da dramaticidade tanto da situação quanto da época retratada. Na dúvida, dê uma chance ao filme. Vá até o final, que serás recompensado.

Indicado a nada menos que 19 prêmios Davi di Donatello (nem sabia que existiam tantas categorias assim), “Ainda Temos o Amanhã” foi o grande campeão de bilheteria na Itália, ano passado, superando os badalados “Barbie” e “Oppenheimer”.  Merecidamente, diga-se.

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