É assim que a banda da direita toca.
Governo estadual extingue “banda que é referência não só para os jovens de São Paulo interessados na música erudita quanto do país todo”, afirma regente
Maestro Shirakawa à frente da Banda Sinfônica durante concerto de despedida na Av. Paulista
São Paulo – “Indescritível é minha tristeza (…) Independente do luto que estamos vivendo, necessito declarar minha gratidão a todos os músicos e à equipe da Banda Sinfônica do Estado de São Paulo”, lamentou o regente Marcos Sadao Shirakawa, a demissão de 65 músicos, promovida pelo governador Geraldo Alckmin (PSDB), na manhã de ontem (9). O desmonte da cultura em São Paulo já era anunciado desde dezembro do último ano, quando a Organização Social (OS) responsável pela gestão da Banda Sinfônica, Instituto Pensarte, comunicou os músicos sobre escassez de recursos.
Além da Banda Sinfônica, sofreram com cortes a Jazz Sinfônica e a Orquestra Theatro São Pedro. De acordo com o governo, eventualmente os músicos poderão ser chamados para apresentações patrocinadas, mas sem vínculo. Entretanto, para os integrantes da banda, não se trata apenas de demissões. “A luta para salvar a Banda Sinfônica não é apenas para garantir o emprego dos 65 músicos: a instituição precisa existir para que os músicos do futuro tenham como exercer seu ofício”, afirma a equipe por meio de uma página criada no Facebook intitulada SOS Banda Sinfônica.
Na terça-feira (7), a deputada estadual Leci Brandão (PCdoB) se manifestou, em audiência pública na Assembleia Legislativa, contra o desmonte da cultura promovido por Alckmin. “Estamos falando de cidadãos brasileiros, paulistas ou não, que trazem algo importante para os seres humanos que é a cultura. Música é cultura, educação e vida. Orquestras salvam vidas. A banda, compositores, trazem transformação para a vida das pessoas. Infelizmente hoje só se dá atenção para a violência, isso porque não se dá atenção para a cultura e a música”, afirmou.
No fim da audiência, deputados e integrantes da banda assinaram uma moção para propor um repasse de R$ 5 milhões que pudesse custear a continuidade da banda. Tal orçamento já havia sido liberado pela Assembleia. Entretanto, Alckmin contingenciou o valor alegando dificuldades financeiras. Também foi entregue uma carta ao Instituto Pensarte e à Secretaria de Cultura propondo redução de salários e jornadas dos músicos.
“Encerramos 27 anos de história da banda que é referência não só para os jovens de São Paulo interessados na música erudita quanto do país todo. É uma perda para todos, músicos, compositores, jovens que estão iniciando a carreira e toda a sociedade”, afirmou o maestro Shirakawa. No último domingo (5), o lamento e a despedida marcaram a última apresentação pública da banda, realizada no vão livre do Masp, na Avenida Paulista. Na ocasião, houve protesto contra o fim da banda ao som de arranjos de músicas como Bolero de Ravel e Aquarela do Brasil.