Por Washington Araújo, publicado no Brasil 247 –
O racionamento já vem sendo praticado há muito tempo. Mas só para os locais onde há uma grande concentração de pessoas pobres
A Didi, diarista que trabalha em minha casa em São Paulo, é testemunha de que o governador vem mentindo há muito tempo em relação ao racionamento de água. Moro em Perdizes, bairro classe média alta, e a Didi mora na periferia da Capital. Em casa já houve cortes esporádicos no abastecimento de água do meio de 2014 para cá, mas onde mora a diarista o corte de água no início foi semanal e agora é diário.
O racionamento, portanto, já vem sendo praticado há muito tempo. Mas só para os locais onde há uma grande concentração de pessoas pobres. A escassez de planejamento já vem sendo apontada há quase um ano nas redes sociais, em blogues e sites que não represam críticas aos desmandos tucanos.
Já a chamada mídia tradicional, com raríssimas exceções, prefere culpar a natureza, como os coronéis nordestinos muito o fizeram durante séculos. E da mesma forma que o coronelato agradecia aos céus pelas secas para se locupletar com o dinheiro de obras fantasmas e com o trabalho escravo, Alckmin prefere rentabilizar os seus, os acionistas da Sabesp, a investir em novos reservatórios.
Desde 2001, o governador do Estado vem sendo alertado sobre a necessidade de obras para a reserva do chamado precioso líquido, mas a preciosidade que ele priorizou foi a do vil metal. A Sabesp lucrou cerca de cinco bilhões de 2012 a 2014, sendo que em 10 anos o lucro passou dos 13 bilhoes, com seus acionistas embolsando mais de 4 bi na década mencionada.
Alckmin nasceu em Pindamonhangaba, cidade do Vale do Paraíba. Pela sua origem, o governador deveria saber da importância dos rios para o abastecimento de água para a população. Pode até saber, mas prefere escoar rios de dinheiro para os acionistas da Sabesp do que praticar um pouco do muito do que fala sobre gestão, sobre planejamento.
Aliás, o significado da palavra pindamonhangaba em tupi é lugar onde se faz anzóis. Portanto, de pesca o governador deve entender, pois vem fisgando o beneplácito da chamada mídia tradicional para que esta se omita em relação aos seus desmandos, tergiversando, apontando para o céu como se São Pedro fosse o verdadeiro responsável pelo racionamento de água.
Racionamento negado até há pouco tempo por Alckmin e sua mídia, mas vivido por famílias como a da diarista Didi que em sua moradia sofre com a falta d’água, tema de tanta música sofrida do nordeste, que hoje chega a São Paulo.
E chega ao Estado paulista pela corrente de um governador que, mesmo tendo nascido nas margens do caudaloso Rio Paraíba, vê exclusivamente na palavra liquidez um mero jargão econômico.
Obs: A Didi, diarista de minha casa, chama-se Dilma, xará da ex-presidenta da Sabesp, a Pena, que muito contribuiu para a crise que aí está, e da presidenta da República, que nada tem a ver com o peixe.